domingo, 25 de março de 2012

Raul Seixas e Sorocaba


Estreiando nos cinemas, o documentário "Raul - O início, o fim e o meio", dirigido por Walter Carvalho, retoma aspectos da vida particular e profissional de um dos mais controvertidos artistas brasileiros: Raul Seixas.
Sou um dos poucos privilegiados por ter nascido antes da geração "Toca Raul" e poder, com isso, ter assistido ao vivo a um show desse cantor e compositor em Sorocaba / SP. Não estou menosprezando aqueles que não tiveram a oportunidade de ver pessoalmente o artista. Eu mesmo fui da geração "Toca Doors; toca Janis; toca Hendrix..." e tantos outros que, por um acaso, estavam mortos quando eu era adolescente. Mas tive essa oportunidade de ver, no dia 29 de julho de 1989, num sábado, o show "Panela do Diabo", com Raul Seixas, Marcelo Nova e a banda Envergadura Moral. Foi no Recreativo Campestre, se não me engano, o penúltimo show de Raul. Um mês depois, no dia 21 de agosto de 1989, Raul Seixas foi encontrado morto em seu apartamento.
Lembro-me como se fosse hoje o momento em que Marcelo Nova, cantando no palco e, supostamente cansado de ouvir o público pedir a presença do Raul, ter anunciado ao microfone: "Com vocês, Mister Raul Seixas!".
A imprensa da época notou que Raul Seixas estava debilitado fisicamente e que foi com dificuldade que venceu os dois lances de escada para subir ao palco. Nós, seus fãs, não percebemos isso. Vimos um Raul ativo, cheio de vida, que cantou sucessos do disco ainda não lançado - e que dava o nome ao Show - e outros de sua longa carreira. Arrepiou-nos quando abriu uma folha, como se fosse um pergaminho, e leu os artigos da "Lei de Telema": "Todo homem tem direito de pensar o que quiser / Todo homem tem direito de amar a quem quiser / Todo homem tem direito de viver como quiser / Todo homem tem direito de morrer quando quiser".
Ao fundo, a Banda Envergadura Moral e Marcelo Nova tocando "Sociedade Alternativa".
A notícia da morte de Raul nos deixou meio como órfãos. Em agosto de 1990 fundamos (eu, Hains Gerard Wolf Junior e Luciano Santos Danezi) o primeiro fã-clube de Raul Seixas e Beatles de Sorocaba: "Help / S.O.S", uma alusão às músicas de ambos. Com a extinção desse fã clube, eu e José Mário Ghiraldi fundamos outro fã-clube, agora específico do Raul, em março de 1991: "Mosca na Sopa". A ideia era pesquisar assuntos filosóficos e históricos que apareciam na música de Raul Seixas. Também durou pouco... Um ano ou um ano e pouco.
Relembrar Raul Seixas é como reconstruir uma identidade, lembrar quem fomos e quem gostaríamos de ser. A minha concepção de mundo foi moldada, em parte, por essa filosofia "raulseixista", como ele gostava de expressar.
Vamos aguardar a chegada do filme "Raul - O início, o fim e o meio" em Sorocaba e rememorar aqueles anos em que nos permitíamos sonhar com a Sociedade Alternativa.
Carlos Carvalho Cavalheiro.