sábado, 12 de agosto de 2017

As Frestas que incomodam o pastor


            O protocolo de um requerimento do vereador pastor Luís Santos no último dia 10, solicitando a imediata remoção de pintura realizada pela premiada artista Panmela Castro, tem causado celeuma para fora dos muros deste feudo. A obra intitulada "Femme Maison" faz parte da 2ª edição do Frestas – Trienal de Artes do Sesc Sorocaba e foi pintada no muro da Secretaria de Cultura e Turismo da cidade.
                Aparentemente, entre o rosto de duas mulheres – gêmeas siamesas – aparece uma vagina (genitália feminina, como se referiu o pastor vereador).
                Não entendi a repulsa do edil sobre a obra. Afinal, se de fato se tratar de uma vulva, a mesma está desenhada de maneira estilizada, de forma que não se trata de fato de uma vagina, mas do significado que a essa imagem dá aquele que a vê. Sendo assim, seria o caso de se pensar em destruir o obelisco da Praça Frei Baraúna, pois obeliscos sempre foram tidos como símbolos fálicos. E em se tratando de homenagem a homens que lutaram na 2ª Guerra Mundial, faria todo o sentido pensar que de fato seja um monumento que lembra a masculinidade peniana.
                Por outro lado, qual o mal estar da nudez? O famoso tradutor da Bíblia para o português, João Ferreira de Almeida, converte para o nosso vernáculo os versículos 27 e 28 do capítulo 1 do livro de Gênesis, sobre a criação dos seres humanos: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra...”.
                Ora, se macho e fêmea Deus nos criou, foi Dele a idéia de fazer o pênis e a vagina. Qual o motivo de vergonha daquilo que Deus criou? A vergonha da nudez vem pelo pecado (Gn 3:7) e não por sua existência em si.
                Qual fresta incomoda tanto o vereador? Aquela pela qual todos nós nascemos? A fresta que nos traz à vida? A fresta que representa a mulher? Ou a fresta que abre a mente e nos faz refletir sobre a nossa própria existência?
                Aparentemente, o vereador é contrário a todas as “Frestas”.


Carlos Carvalho Cavalheiro
12.08.2017