segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Preto Pio lutou pela liberdade

Poucos sabem, mas em fins de outubro de 1887 ocorreu uma fuga de escravos na cidade de Capivari / SP. O líder dessa fuga era o escravo conhecido por Preto Pio. Centenas de escravos fugiram das fazendas dessa cidade e também de Porto Feliz e Sorocaba. Foram à pé até a Serra do Cubatão, onde, ocorreu um desentendimento entre Preto Pio e um soldado do exército, resultando na morte de ambos.
A luta do Preto Pio acabou por resultar na recusa do Exército brasileiro em continuar dando caça aos escravos fugitivos e, consequentemente, impulsionou a assinatura da Lei Áurea (13 de maio de 1888) seis meses depois desse episódio.
Preto Pio é o Spartacus e é o Zumbi do Médio Tietê!

Viva a memória do Preto Pio!
"Senhora!
"Os oficiais, membros do Clube Militar, pedem a Vossa Alteza Imperial vénia para dirigir ao Governo Imperial um pedido, que é antes uma súplica... ". . .Esperam que o Governo Imperial não consinta que nos destacamentos do Exército, que seguem para o interior, com o fim, sem dúvida, de manter a ordem, tranqüilizar a população e garantir a inviolabilidade das famílias, os soldados sejam encarregados da captura de pobres negros, que fogem à escravidão, ou porque vivam já cansados de sofrer os horrores, ou porque um raio de luz da liberdade lhes tenha aquecido o coração e iluminado a alma.Senhora! A liberdade é o maior bem que possuímos sobre a terra; uma vez violado o direito que tem a personalidade de agir, o homem, para reconquistá-lo, é capaz de tudo: de um momento, um covarde torna-se um herói; ele, que dantes era a inércia, se multiplica e se subdivide, e, ainda mesmo esmagado pelo peso da dor e das perseguições, ainda mesmo reduzido a morrer, de suas cinzas renasce sempre mais bela e mais pura a liberdade... Impossível, pois, Senhora, esmagar a alma humana que quer ser livre. Por isso, os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos princípios da humanidade, em nome da solidariedade humana, em nome da civilização, em nome da caridade cristã, em nome das dores de Sua Majestade, o Imperador, vosso augusto Pai, cujos sentimentos julgam interpretar e sobre cuja ausência choram lágrimas de saudades, em nome do vosso futuro e do futuro de vosso filho, esperam que o Governo Imperial não consinta que os oficiais e as praças do Exército sejam desviados da sua nobre missão. Eles não desejam o esmagamento do preto pelo branco e não consentiriam também que o preto, embrutecido pelos horrores da escravidão, conseguisse garantir a sua liberdade esmagando o branco. O Exército havia de manter a ordem. Mas, diante de homens que fogem calmos, sem ruído, mas traquilamente, evitando, tanto a escravidão como a luta, e dando, ao atravessar cidades, enormes exemplos de moralidade, cujo esquecimento tem feito muitas vezes a desonra do Exército mais civilizado, o Exército Brasileiro espera que o Governo Imperial conceder-lhe-á o que respeitosamente pede em nome da humanidade e da honra da própria bandeira que defende." 
26 de outubro de 1887

História, Geografia e Semana das Monções

Estamos dentro do período em que se comemora o aniversário da cidade: a Semana das Monções. Inevitável pensar em História e em Geografia nesse momento. Afinal, a saga monçoeira escolheu a cidade de Porto Feliz pelo favorecimento dos aspectos geográficos, como a existência de um “porto” natural e pela navegabilidade do rio Tietê a partir desse local. Além disso, as viagens fluviais até o interior do Brasil, sobretudo para Cuiabá, em busca do ouro é um episódio marcante da História local e regional que reflete na própria História do Brasil como um todo.
            A memória que se produz desse evento histórico é importante elemento na constituição da identidade de Porto Feliz. É um amálgama que une os diversos grupos sociais e étnicos dentro de um aspecto comum. Daí decorre a importância da História e da Geografia que vão alimentar e emprestar argumentos para a fundamentação dessa memória.
            O historiador francês Pierre Nora conceitua os “lugares de memória” como tudo aquilo que serve como transporte de uma reminiscência, desde que para isso haja vontade de transmissão dessa lembrança. É exatamente o que ocorre durante as comemorações da Semana das Monções. Não importa que seja o hasteamento da bandeira, o cantar do hino da cidade, o desfile cívico, a promoção de palestras e estudos ou a encenação teatral... Tudo isso se converte em lugar de memória porquanto existe uma intencionalidade, ou seja, um objetivo que é o de criar uma identidade portofelicense.
            Sendo, portanto, a História e a Geografia, como disciplinas – inclusive no âmbito escolar – importantes em qualquer contexto, mas, sobretudo numa cidade como Porto Feliz, parece ser discrepante o fato de que nessa mesma cidade, dentro do currículo da rede municipal, a jornada seja de apenas duas aulas por semana, quando em todas as outras realidades (como nas escolas estaduais), o número de aulas dessas matérias é superior a isso.
            A primeira justificativa que pode aparecer é a de que na rede estadual a carga horária é maior que a da rede municipal. Enquanto no Estado a carga é de 30 horas semanais, no município é de 25. Portanto, a cada dia da semana há no município uma aula a menos que no Estado.
            No entanto, ainda assim, pela regulamentação da Resolução SE nº 81 de 16 de dezembro de 2011, que estabelece as diretrizes para organização curricular nas escolas estaduais, quando se verifica o Anexo II da referida resolução, percebe-se que na distribuição curricular das disciplinas existe o respeito a uma porcentagem de cada uma na totalidade da formação do educando.
            Dividindo-se, portanto, as aulas de Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo, que são 6 por semana cada, pelo número de aulas semanais, obtêm-se a porcentagem de 20% (30 aulas semanais divididas por 6). Ciências Naturais, História e Geografia deveriam representar 13,3 % e Arte, Educação Física e Língua Inglesa, 6,6%. Isso na rede estadual, com carga semanal de 30 aulas.
            Com a carga de 25 aulas, como ocorre na rede municipal, respeitando-se essa mesma proporcionalidade, as aulas de Língua Portuguesa e Matemática deveriam ser 5 por semana; Ciências Naturais, História e Geografia deveriam ter 3 aulas por semana e Arte, Educação Física e Língua Inglesa, 2 aulas por semana.
            Ocorre que, a despeito disso, as aulas de História e Geografia na rede municipal são apenas 2 por semana. Mesmo contra toda a lógica, mesmo com a importância que ambas as disciplinas têm na formação do educando, e, acima de tudo, pelo significado que ambas possuem na formação da identidade e da cidadania portofelicense. Quem souber a resposta que nos conte.


Carlos Carvalho Cavalheiro

10.10.2016

Eleições Municipais de 2016

Encerrou-se no domingo, dia 30 de outubro, o último episódio das eleições municipais deste ano. Como era de se esperar, pelo desgaste político dos últimos acontecimentos, a sigla do PT parece ter sido a que mais angariou perdas nestas eleições.
            De acordo com o site G1 (da Globo), o PT não conseguiu conquistar nenhuma das 7 prefeituras a que concorria em 2º turno. Por outro lado, encolheu pouco mais de 94% nas prefeituras de cidades grandes, com mais de 200 mil habitantes. Em 2012, o PT elegeu 17 prefeitos em cidades desse porte. Em 2016, apenas 1.
            O desempenho geral nas outras cidades também não foi dos melhores: de 638 municípios em 2012, o partido reduziu sua presença no Executivo para 254, uma redução de pouco mais de 60%.
            O PSol apresentou-se como alternativa de esquerda nestas eleições, mas não teve um desempenho esperado. Apesar de ter elegido 53 vereadores este ano (em 2012 foram 49), só conseguiu eleger 2 prefeitos em cidades pequenas: Janduís e Jaçanã, ambas no Rio Grande do Norte. Com isso, manteve o mesmo número de prefeitos eleitos em 2012. Dos 53 vereadores do PSol, foi eleita em Sorocaba a vereadora Fernanda Garcia, ampliando o número de mulheres em relação ao pleito anterior.
            Muitas manifestações nas redes sociais comemoraram, após a divulgação dos resultados do 2º turno, a “limpeza” do Brasil que se livrou do “comunismo”. Não faltaram desenhos do mapa brasileiro de “antes” – dividido nas cores vermelha e azul – e “depois”, todo de verde-amarelo com um ponto em vermelho.
            Também não faltaram manifestações com fedor de extrema-direita, e até quem se dispusesse a fazer o triste, submisso e feio papel de sair à ruas de São Paulo para apoiar a candidatura de Donald Trump para presidência dos Estados Unidos. Muitos dos entrevistados disseram que seu apoio se escora em convicções políticas como a da eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil!
            Do mesmo modo, aproveitando a onda fascista, movimentos escusos questionavam os protestos estudantis contra a PEC 241, que limita os gastos do setor público, congelando por 20 anos investimentos em diversos setores, atingindo com isso a Educação.
            De tudo, tiram-se algumas lições dessas eleições. Primeiro é que, a despeito da comemoração ostensiva de grupos de extrema-direita, o fato é que nenhum dos posicionamentos tradicionais da política encontra escora nos tempos atuais. Pensadores como Boaventura de Sousa Santos, Michel de Certeau e mesmo Frei Betto advertem há tempos sobre a crise dos paradigmas na atualidade.
            O que trazem esses pensadores desde o final da década de 1990 é que as instituições, tais como as conhecemos, já não cumprem mais o seu papel e é hora de se pensar em nova forma de organização das coisas. Direita e esquerda hoje convivem com o dilema do esvaziamento do discurso e da ideologia. Como no livro de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”, cada vez fica mais difícil saber quem é gente e quem é porco.
            Esse descontentamento com as instituições pode ser avaliado pelo excessivo número de votos nulos, brancos e de abstenções nesta eleição. Os números chegam a 40% ou mais dos eleitores, somando-se todos os votos não contabilizados. Com isso, os candidatos que “ganharam” a eleição com 51% dos votos, por exemplo, na realidade tiveram votos de apenas pouco mais de 1/3 da população. Eis aí a crise pela qual passa a política.
            Outra lição: a reforma política já passou do tempo... São mais de 30 partidos que elegeram prefeitos no Brasil todo. Com isso, dentro dos moldes em que se projetou a nossa organização política, dificilmente se consegue estabelecer um diálogo entre as esferas da União. Como pode o governo estadual, por exemplo, dialogar com tantas siglas?
            De descrédito em descrédito, o fato é que algo precisa ser mudado. Não há espaço para a preguiça de se pensar em nova fórmula que permita a organização social e política. Urge que assim se processe. Antes que sobrevenha o caos.

Carlos Carvalho Cavalheiro
31.10.2016
           
           
Fontes:
http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-numeros/post/psdb-elege-14-prefeituras-no-2-turno-e-pt-nenhuma.html

http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1819571-psol-cresce-nas-eleicoes-e-tenta-ser-alternativa-da-esquerda-ao-pt.shtml