Logo após o seu afastamento
definitivo da Presidência da República, Dilma Rousseff proferiu um discurso em
que prometia ao “governo golpista a mais firme, incansável e enérgica
oposição”. O recado parecia ter sido endereçado diretamente aos militantes de
movimentos sociais, pois as medidas apontadas pelo atual governo atingem
duramente as fatias menos favorecidas da população.
Reformas na Previdência – embora
apresentadas inicialmente pelo governo Dilma em fevereiro deste ano – com
sugestões de equiparações de regime entre homens e mulheres, entre profissões
distintas, com idade a partir de 65 anos, alcançam a maior parte da população
trabalhadora deste país. Não fosse somente isso, ecos de sugestões como extinção
do SUS (Sistema Único de Saúde), congelamento de salários, extinção de 13º, fim
de direitos sociais e trabalhistas, cortes em programas de incentivo à educação
são fantasmas que assustam e tiram o sono de muita gente.
O próprio Michel Temer assumiu que
as medidas que seu governo iria tomar seriam impopulares. No entanto,
menosprezando a reação às mesmas, chegou a afirmar que o número de
manifestantes contra seu governo ficaria entre 40 a 100 pessoas.
O último domingo mostrou que o
presidente estava equivocado. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar
contra o seu governo e engrossar o movimento que já ficou cunhado de “Fora
Temer”. Só na capital paulista, estima-se que foi 100 mil o número de pessoas
que se manifestaram pedindo a saída de Temer e a convocação de novas eleições
como garantia da manutenção da ordem democrática.
Infelizmente, foi nessa cidade em
que a manifestação terminou com violência, aparentemente iniciada pelo
despreparo da Polícia Militar. O jornalista Luis Nassif, em publicação no site
do jornal GGN, diz que a manifestação pacífica contra Michel Temer terminou em
pancadaria quando policiais militares começaram a expulsar as pessoas que
queriam adentrar á estação do Metrô, cercada por PMs sob “a gestão truculenta
de Geraldo
Alckmin”(http://jornalggn.com.br/noticia/a-repressao-da-pm-e-a-criacao-da-nova-geracao-politica).
O jornal “O Estado de São Paulo” publicou, em reticente nota, que “O ato
começou no domingo, 4, à tarde, na Avenida Paulista, região central, e foi
dispersado à noite pela Polícia Militar com o uso de bombas e jato d’água
depois de um princípio de tumulto no Largo da Batata, na zona oeste. Segundo a
Secretaria da Segurança Pública (SSP), nove manifestantes foram detidos” (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ato-pelo-fora-temer-se-concentra-na-av-paulista,10000074031).
As mídias alternativas apresentam
imagens que aparentam exagero na ação da Polícia Militar de São Paulo, que, em
tese, nem deveria ter agido dessa forma tendo em vista que deveria salvaguardar
o direito constitucional – já que ainda estamos dentro de um Estado democrático
de direitos – de se expressar e se manifestar pacificamente. A coleção de
resultados negativos da ação da PM de São Paulo, durante a semana, coloca em
dúvida se a corporação foi devidamente preparada para lidar com esse tipo de
situação. A pergunta sobressai quando os veículos de comunicação informam que
apenas em São Paulo as manifestações terminaram com violência.
De outro lado, há a remota
possibilidade de que algum grupo, dentre a centena de milhares de pessoas que
ganharam as ruas da capital no domingo, tivesse provocado o tumulto. Ainda
assim é de se perguntar se a ação da PM foi proporcional à situação que
enfrentou. O uso de bombas de gás e balas de borracha, como atestam vários
veículos de comunicação, foi realmente necessário e imprescindível naquele
momento?
O que se espera é que os fatos sejam
devidamente apurados e que a sociedade tenha uma resposta plausível sobre tais
acontecimentos. Se a violência partiu da tropa da Polícia Militar, que os
culpados sejam julgados e punidos de acordo com a lei. O mesmo vale para quem
tenha comprovadamente cometido qualquer crime naquele ato. Afinal, o rigor da
legislação é para todos.
Enquanto os fatos não são devidamente
apurados, ficamos ouvindo os ecos das histórias que nos chegam a todo o momento
pelos mais diversos meios: televisão, rádio, internet, whatsapp, jornal, redes
sociais...
Como em todas as histórias, há a
versão do lobo e a versão dos porquinhos. Qual é a mais convincente?
Carlos
Carvalho Cavalheiro
05.09.2016