O protocolo de um requerimento do vereador pastor Luís
Santos no último dia 10, solicitando a imediata remoção de pintura realizada
pela premiada artista Panmela
Castro, tem causado celeuma para fora dos muros deste feudo. A obra
intitulada "Femme Maison" faz parte da 2ª edição do Frestas –
Trienal de Artes do Sesc Sorocaba e foi pintada no muro da Secretaria de
Cultura e Turismo da cidade.
Aparentemente,
entre o rosto de duas mulheres – gêmeas siamesas – aparece uma vagina
(genitália feminina, como se referiu o pastor vereador).
Não
entendi a repulsa do edil sobre a obra. Afinal, se de fato se tratar de uma
vulva, a mesma está desenhada de maneira estilizada, de forma que não se trata
de fato de uma vagina, mas do significado que a essa imagem dá aquele que a vê.
Sendo assim, seria o caso de se pensar em destruir o obelisco da Praça Frei
Baraúna, pois obeliscos sempre foram tidos como símbolos fálicos. E em se
tratando de homenagem a homens que lutaram na 2ª Guerra Mundial, faria todo o
sentido pensar que de fato seja um monumento que lembra a masculinidade
peniana.
Por
outro lado, qual o mal estar da nudez? O famoso tradutor da Bíblia para o
português, João Ferreira de Almeida, converte para o nosso vernáculo os
versículos 27 e 28 do capítulo 1 do livro de Gênesis, sobre a criação dos seres humanos: “E
criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os
criou. E Deus abençoou, e Deus lhes
disse: Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra...”.
Ora, se
macho e fêmea Deus nos criou, foi Dele a idéia de fazer o pênis e a vagina.
Qual o motivo de vergonha daquilo que Deus criou? A vergonha da nudez vem pelo
pecado (Gn 3:7) e não por sua existência em si.
Qual
fresta incomoda tanto o vereador? Aquela pela qual todos nós nascemos? A fresta
que nos traz à vida? A fresta que representa a mulher? Ou a fresta que abre a
mente e nos faz refletir sobre a nossa própria existência?
Aparentemente,
o vereador é contrário a todas as “Frestas”.
Carlos Carvalho Cavalheiro
12.08.2017