sábado, 3 de setembro de 2011

Depois de muito tempo, Porto Feliz presenciou o Batuque de Umbigada




Merecem, com muita justiça, os nossos aplausos a iniciativa da Diretoria de Cultura e Esportes e a Casa da Cultura "Dona Narcisa Stettener Pires" em promover a 1ª Semana do Folclore de Porto Feliz. Sobretudo, por trazer à cidade - com isso quero dizer a "malha urbana" - duas das manifestações de seu folclore: a Dança de São Gonçalo (que foi apresentada, segundo a programação do evento, no dia 25) e o Batuque de Umbigada, no dia 27.
O primeiro, ainda existente em terras portofelicenses, está atualmente restrito à zona rural e em vias, infelizmente, de extinção. O segundo, já extinto por aqui, será apresentado pelo grupo de Capivari, Tietê e Piracicaba. É dele que vou discorrer.
A umbigada é uma espécie de "vênia" que faz parte de diversas danças pelo Brasil afora, todas de matriz africana. Há umbigada em côcos, em sambas, em jongos... O Batuque de Umbigada é uma das manifestações culturais características da região do nosso Médio Tietê (da qual Porto Feliz está inserida), assim como o desafio do Cururu e a Festa do Divino com o encontro de canoas.
Parece que entrou em decadência em Porto Feliz por conta da repressão, especialmente a partir da década de 1950. Com efeito, o Código Municipal de 1952 (Lei 315/52), num anacronismo sem precedentes para o século XX, proibia expressamente o ato de "promover batuques, congados e outros divertimentos congêneres na cidade, vilas e povoados, sem licença das autoridades".
Quando permitido, o batuque era costumeiramente realizado na rua da Laje. Disso há relatos e testemunhas. A professora Ana Cândida de Oliveira Diniz, por exemplo, se recorda dos batuques na sua infância. Uma quadrinha do batuque de sua lembrança: “A primeira umbigada / É a nega quem dá / Eu também sou da nega / Eu também quero dá”. O professor Claudio Sampaio Torres afirma que o Batuque da rua da Laje começava no sábado à noite e se estendia até o sol do domingo. José Aparecido Ferraz, conhecido como Zequinha Godêncio, dizia que havia umas mulheres “malvadas”, as quais na hora da umbigada enrijeciam o corpo para ver o homem cair ao chão. Disso se recorda, também, João Vieira da Cruz que mora na rua da Laje até hoje (atual rua Luiz Antonio de Carvalho Filho).
Aparentemente, a escolha do local para a realização dos antigos batuques de umbigada levava em conta alguns fatores. O primeiro poderia ser a afluência de negros na proximidade. O segundo, a própria topografia da rua que, mesmo localizada nas proximidades da área central, está em considerável desnível em relação ao antigo Largo da Penha, ficando desse modo “escondido” dos olhares vigilantes de antanho. O terceiro, o próprio desenho da rua que termina formando um “largo”, exatamente o local propício para a fogueira (necessária para que o couro dos tambus, instrumentos do batuque, possa tinir) e para a execução da dança em si.
Em fevereiro de 1953, durante os festejos em louvor a São Benedito, o batuque de umbigada ainda foi realizado na rua da Laje, sob a orientação de Antonio Vieira. Isso é o que registra a “Folha de Porto Feliz” da época. Nos mesmos festejos, houve cururu... Esse no largo de São Benedito.
No acervo do Museu Histórico há uma foto de um batuqueiro com o Tambu ou Chimbó, o instrumento principal dessa manifestação.


Carlos Carvalho Cavalheiro
22 de agosto de 2011.

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