Prezado sr. Antonio Carlos Pannunzio:
Logo após o anúncio do resultado das eleições municipais deste ano, acompanhei uma de suas entrevistas na impressa local dizendo sobre a diminuição do número de secretarias em seu governo.
Entendo, obviamente, a necessidade da contenção dos "gastos", especialmente numa cidade com o porte de Sorocaba, a qual exige intervenções nas mais diversas áreas. Disso não resta dúvidas, assim como é indubitável a dificuldade do administrador público no que concerne às escolhas que deve fazer dentro das limitações do orçamento.
Por outro lado, algo me preocupa muito. Não raramente, os gestores públicos, quando se fala em cortes ou reduções de custos, elegem a cultura como uma das ovelhas preferidas para o holocausto.
O que me preocupa, portanto, é a possibilidade da extinção da Secretaria de Cultura e sua possível fusão com outra secretaria qualquer.
Preocupa-me porquanto o histórico de luta para a criação de uma secretaria específica relacionada à cultura demandou esforços de inúmeras pessoas que militam nessa área. Preocupa-me ainda porque, em geral, considera-se a cultura como se fosse um "supérfluo", sem perceber que o ser humano é muito mais que um corpo que transita por ruas e prédios e que, com o seu trabalho, gera riquezas materiais para a cidade. Cultura é muito mais do que eventos. Cultura transcende a arte - esta é apenas um aspecto daquela - e tem a ver com a formação da identidade de um povo.
De nada adiantam prédios, pontes, monumentos, etc... se não temos um povo que se identifica com tudo isso. Daí a necessidade de políticas públicas de gestão cultural. E tal tarefa não pode - ou não devia - ficar atrelada a outra secretaria que não fosse a específica de Cultura.
Isso porque, como casualmente se faz, emendam-se Cultura e Educação, por exemplo, as quais possuem demandas distintas e caráter e espírito diversos. Não divergentes, mas diversos. E se encontramos algum ponto de contato entre ambas, é porque nenhuma área é isolada e compartimentada, possuindo faces de tangência umas com as outras. Assim, Educação tem a ver com Saúde, por exemplo. Mas não se pode, em perfeito juízo, propor que as duas pastas sejam amalgamadas formando uma só.
Por tudo isso, sr. Prefeito eleito (perdoe o eco), peço, caso seja a sua intenção em extinguir a secretaria de Cultura, que repense, devido a importância e características dessa pasta.
O senhor, que foi presidente de uma das mais importantes fundações culturais do país, o Memorial da América Latina, certamente sabe disso.
Carlos Carvalho Cavalheiro