terça-feira, 2 de janeiro de 2018

130 anos de Sherlock Holmes


“Nenhum outro ano tornar-se-ia tão importante em minha vida como aquele 1887 em que encontrei pela primeira vez aquele que se tornaria o meu melhor amigo e com quem compartilharia das maiores aventuras contra os criminosos de então. Naquele momento, adquirimos o direito à vida eterna nas páginas literárias…”
Poderia ser mais ou menos assim a explicação por escrito do Dr. John H. Watson acerca do surgimento de um dos maiores personagens da ficção: o detetive Sherlock Holmes. De tão conhecida a sua figura, acabou por tornar-se o estereótipo do detetive particular (ou de consulta, como ele mesmo diria), com seu cachimbo, casaco, lupa e boné.
Há 130 anos, com a publicação de Um estudo em vermelho o escocês Sir Arthur Conan Doyle deu início a uma série literária composta de 56 contos e 4 novelas com as aventuras de Sherlock Holmes e Dr. John Watson. Trata-se de uma ficção tão bem elaborada que o próprio Holmes ganhou a sua “biografia”: Nasceu em 6 de janeiro de 1854. Estudou na Universidade de Cambridge. Foi sócio do Clube Diógenes, tocava violino com maestria e tinha seu consultório/residência na Baker Street, nº 221-B. Tantos detalhes criaram embaraços para Doyle que chegou a ser assediado por pessoas que imploravam para que ele apresentasse pessoalmente o grande detetive. Não criam tais pessoas que Holmes fosse apenas uma criação literária. De outra feita, Conan Doyle foi processado por leitores inconformados com a morte de Sherlock Holmes – e a consequente interrupção da série de livros – na aventura O problema final, na qual é narrada a luta corporal entre Holmes e o professor Moriarty nas cataratas de Reichenbach. Conan Doyle pretendia ‘assassinar’ Holmes para poder se dedicar ao que ele chamava de “literatura séria”.
No entanto, foram exatamente os seus livros ‘pouco dignos’ (usando a própria expressão de Doyle), com aventuras do detetive Holmes, que lhe renderam fama e estudos de leitores e associações como a Conan Doyle Literaty Society e a Sherlock Holmes Brasil.
Artigos foram escritos e publicados analisando aspectos diversos da literatura sherlockiana. Discutem-se datas, comparam-se fatos, focos narrativos (que em geral são na 3ª pessoas, eis que ‘escritos’ por Watson…) entre outros. E suas histórias tão envolventes geraram em todos os tempos legiões de pesquisadores sherlockianos.
Ainda hoje o cinema se aproveita da figura do eterno detetive britânico. Em 2015 foi lançado o filme “Mr. Sherlock Holmes”, representado pelo ator Ian McKellen. A história se passa em 1947, e Sherlock Holmes, então com 93 anos, luta contra seus problemas de saúde decorrentes da senilidade. Em 2009 e 2012 o ator Roberto Downey Junior interpretou o detetive em “Sherlock Holmes” e “Sherlock Holmes 2 – O jogo das sombras”. Há duas séries de TV que o retratam: “Sherlock” e “Elementary”. Há algumas décadas, precisamente no final da década de 1980, surgiu a série de TV, quando Sherlock foi interpretado por Jeremy Brett. Talvez o mais famoso de todos os atores que interpretaram Holmes tenha sido Basil Rathbone que participou de mais de 25 filmes e séries de TV entre as décadas de 1940 e 1950.
É possível que Conan Doyle tenha criado Sherlock Holmes como forma de simbolizar sua própria vida naquele momento. Não é segredo que tenha criado Holmes em momento de certa frustração profissional, eis que não havia muitos pacientes em seu consultório de oftalmologia. Parece, então, que Watson representava o próprio Doyle naquele momento: um médico sem muita projeção profissional, medíocre de certa forma. Sherlock Holmes seria, então, o alter ego, o outro eu, o desejo de ser invencível, de ser excepcional. Ao mesmo tempo, não poderiam se dissociar a realidade e o desejo, assim como a amizade entre Holmes e Watson. Em verdade, até mesmo Sherlock Holmes aparece como um detetive iniciante em Um estudo em vermelho, o que se modifica radicalmente com a presença do Dr. Watson. Ambos necessitavam da presença um do outro. Eram complementares.
Seria essa hipótese pertinente? Quem saberá a verdade? Espera-se a resposta, no desfecho final, em que após a baforada do seu cachimbo o detetive dirá as palavras saindo emolduradas por um sorriso: “Elementar, meu caro…”.

 Carlos Carvalho Cavalheiro – 26.12.2017.

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