sábado, 18 de abril de 2020

Coronavírus: o que nos espera?


             Vivemos num mundo repleto de informações. Todo tipo de documento, pensamento, de dados, estatísticas, vídeos, enfim, toda a forma de informação nunca teve o acesso tão facilitado como nos dias atuais.
               Não há necessidade de buscar a informação. Ela chega até você, quer queira ou não. Os meios de comunicação da atualidade facilitaram essa disseminação que tornou-se praticamente impossível controlar essa ação. Daí o sucesso das chamadas fake News. Sem verificar a procedência da informação, as pessoas repassam para outras numa velocidade estonteante e, quando se percebe, aquele texto correu o globo todo.
               Acesso a dados não significa qualidade de informação e muito menos conhecimento. Pode se tratar, por exemplo, de um boato, de notícia falsa, de dados manipulados, de meias verdades. Pressupõe que tais informações se convertam em conhecimento na medida em que sejam processadas de tal forma que relacionadas a outros dados e a conhecimentos prévios possam criar um entendimento qualitativo (e, talvez, quantitativo) sobre o assunto abordado.
               Qualquer ser humano com algum tempo de vivência tem alguma informação sobre o que é um vírus. Também, esse mesmo ser humano é capaz de entender como se processa o contágio desse tipo de organismo para conosco. Porém, quando se trata de algo novo, ou seja, de um vírus que sofreu mutação ou que era desconhecido dos cientistas, então é preciso redobrar a atenção para aquilo que os especialistas no assunto estão adquirindo de informação nova e de conhecimento.
               Aparentemente, uma questão responsável pela demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi a do rigor com que a sua gestão indicava para a necessidade do isolamento social e da mudança de hábitos (como o uso de máscaras e o lavar constante das mãos) para evitar o colapso do sistema de saúde brasileiro.
               Muito antes dessa orientação do isolamento, empresários como Luciano Hang, proprietário da Havan, divulgava vídeo tentando demonstrar que tal atitude além de desnecessária iria provocar um colapso na economia. Carreatas ocorreram pedindo o fim do isolamento. É curioso o fato de que os modelos de carros que participaram dessas carreatas indicam que seus proprietários não terão que utilizar o transporte público, geralmente incômodo e lotado, propício para a difusão da contaminação do vírus, caso o isolamento seja flexibilizado.
               Enfim, os tempos em que vivemos são de difícil entendimento. Porém, não deve ser difícil, mesmo para quem seja desprovido da melhor inteligência, entender algumas coisas básicas. E nem precisa ser entendido em economia ou mesmo em infectologia ou profilaxia para compreender o que nos espera.
               As maiores economias do mundo se ressentem da necessidade de impor o isolamento social, mas não abrem mão dela. Mesmo o reticente Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, já admitiu a necessidade do isolamento social até, pelo menos, o dia 30 de abril.[1]
               Com uma eleição para vencer, Trump não quer deixar a imagem de um país fracassado economicamente. Por isso, vem pedindo a gradual flexibilização das medidas de isolamento social. Por outro lado, e pelos mesmos motivos, não pretende ser acusado de negligência administrativa se o número de mortos e contaminados acelerar assustadoramente depois da imposição de regras mais flexíveis de isolamento social. Está, então, como se diz, na corda bamba.
               Por outro lado, estudo revela que durante o surto de gripe espanhola no início do século XX, as cidades estadunidenses que usaram como tática o isolamento social tiveram recuperação econômica mais rápida.[2] Isso parece óbvio, pois se significativa parte da população adoecer, não teremos nem produtores e nem consumidores. Com isso, a economia ficará estagnada mesmo e será um colapso sem precedentes.
               Sabe-se, por exemplo, que escolas no Brasil foram fechadas durante a Gripe Espanhola para se converterem em hospitais de campanha. De fato, nunca estamos preparados para uma epidemia tão devastadora. Porém, sendo o caso de uma pandemia, podemos, ao menos, aprender com os outros países.
               O sucesso relativo do fim do surto na China, início da epidemia do novo coronavírus (Covid-19) deveu-se a ações rígidas, como o isolamento. Paradoxalmente, o sucesso do isolamento social causa uma sensação de inutilidade do mesmo. Por esse motivo, no Brasil, alguns desinformados têm filmado hospitais de campanha montados – esperando o pico da crise – dizendo que como estão vazios significa que não existe a doença ou que ela não é tão grave assim.
               E desse modo, muita gente embarca nessa história de que se trata de uma “gripezinha” ou “resfriadinho”, ou, ainda, que é o caso de uma conspiração de forças obscuras que querem destruir a economia de todos os países!
               Ainda não chegamos ao pico da crise do coronavírus. Por esse motivo, temerosa é a demissão do ministro Mandetta, infelizmente comemorada por quem é a favor do fim do isolamento social e, mais infeliz ainda, por outros que viram nisso uma oportunidade de “vingança” por ele ter votada, enquanto deputado em 2015, pelo impeachment de Dilma Rousself. No fim, alguns “bolsonaristas” e alguns “petistas” concordaram com alguma coisa.
               O que está em jogo agora não são picuinhas pessoais. Nem é o caso de duvidar da competência do atual ministro Nelson Teich. Acontece que, fazendo um paralelo com futebol, nosso velho conhecido, não se mexe em time e em treinador durante o campeonato. A não ser que estejam muito ruins. E não parece ser esse o caso. Ao contrário, as diretrizes da gestão de Mandetta pareciam fazer sentido.
               O novo ministro vai demorar um pouco até formar uma equipe de confiança, tomar conhecimento do funcionamento da máquina, conhecer os meandros políticos e de saúde envolvidos nisso, bem como planejar toda uma estratégia de combate ao vírus. Isso leva tempo e é o que menos temos agora. Por isso, a demissão de Mandetta foi, no mínimo, uma imprudência neste momento.
               A boa notícia é que os estados, em sua maioria, ainda estão seguindo as orientações de quem entende do assunto: médicos, cientistas, OMS... E seguimos, ainda que ansiosos, o isolamento social tão necessário neste momento. E, também, fazendo nossa parte: evitando aglomerações, contatos desnecessários com outras pessoas, mantendo distância de segurança, lavando as mãos e usando máscaras, especialmente em locais públicos.
               O vírus é o vilão da vez. E nas histórias de mocinhos e bandidos, quem não usa a máscara não é o Lone Ranger (Zorro). É o Tonto.

18.04.2020


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