Vivemos num mundo repleto de informações. Todo tipo de documento, pensamento, de dados, estatísticas, vídeos, enfim,
toda a forma de informação nunca teve o acesso tão facilitado como nos dias atuais.
Não
há necessidade de buscar a informação. Ela chega até você, quer queira ou não.
Os meios de comunicação da atualidade facilitaram essa disseminação que
tornou-se praticamente impossível controlar essa ação. Daí o sucesso das
chamadas fake News. Sem verificar a procedência da informação, as pessoas
repassam para outras numa velocidade estonteante e, quando se percebe, aquele
texto correu o globo todo.
Acesso
a dados não significa qualidade de informação e muito menos conhecimento. Pode
se tratar, por exemplo, de um boato, de notícia falsa, de dados manipulados, de
meias verdades. Pressupõe que tais informações se convertam em conhecimento na
medida em que sejam processadas de tal forma que relacionadas a outros dados e
a conhecimentos prévios possam criar um entendimento qualitativo (e, talvez,
quantitativo) sobre o assunto abordado.
Qualquer
ser humano com algum tempo de vivência tem alguma informação sobre o que é um
vírus. Também, esse mesmo ser humano é capaz de entender como se processa o
contágio desse tipo de organismo para conosco. Porém, quando se trata de algo
novo, ou seja, de um vírus que sofreu mutação ou que era desconhecido dos
cientistas, então é preciso redobrar a atenção para aquilo que os especialistas
no assunto estão adquirindo de informação nova e de conhecimento.
Aparentemente,
uma questão responsável pela demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta foi a do rigor com que a sua gestão indicava para a necessidade do
isolamento social e da mudança de hábitos (como o uso de máscaras e o lavar
constante das mãos) para evitar o colapso do sistema de saúde brasileiro.
Muito
antes dessa orientação do isolamento, empresários como Luciano Hang,
proprietário da Havan, divulgava vídeo tentando demonstrar que tal atitude além
de desnecessária iria provocar um colapso na economia. Carreatas ocorreram
pedindo o fim do isolamento. É curioso o fato de que os modelos de carros que
participaram dessas carreatas indicam que seus proprietários não terão que
utilizar o transporte público, geralmente incômodo e lotado, propício para a
difusão da contaminação do vírus, caso o isolamento seja flexibilizado.
Enfim,
os tempos em que vivemos são de difícil entendimento. Porém, não deve ser
difícil, mesmo para quem seja desprovido da melhor inteligência, entender
algumas coisas básicas. E nem precisa ser entendido em economia ou mesmo em
infectologia ou profilaxia para compreender o que nos espera.
As
maiores economias do mundo se ressentem da necessidade de impor o isolamento
social, mas não abrem mão dela. Mesmo o reticente Donald Trump, presidente dos
Estados Unidos, já admitiu a necessidade do isolamento social até, pelo menos,
o dia 30 de abril.[1]
Com
uma eleição para vencer, Trump não quer deixar a imagem de um país fracassado
economicamente. Por isso, vem pedindo a gradual flexibilização das medidas de
isolamento social. Por outro lado, e pelos mesmos motivos, não pretende ser
acusado de negligência administrativa se o número de mortos e contaminados
acelerar assustadoramente depois da imposição de regras mais flexíveis de
isolamento social. Está, então, como se diz, na corda bamba.
Por
outro lado, estudo revela que durante o surto de gripe espanhola no início do
século XX, as cidades estadunidenses que usaram como tática o isolamento social
tiveram recuperação econômica mais rápida.[2]
Isso parece óbvio, pois se significativa parte da população adoecer, não
teremos nem produtores e nem consumidores. Com isso, a economia ficará
estagnada mesmo e será um colapso sem precedentes.
Sabe-se,
por exemplo, que escolas no Brasil foram fechadas durante a Gripe Espanhola
para se converterem em hospitais de campanha. De fato, nunca estamos preparados
para uma epidemia tão devastadora. Porém, sendo o caso de uma pandemia, podemos,
ao menos, aprender com os outros países.
O
sucesso relativo do fim do surto na China, início da epidemia do novo coronavírus
(Covid-19) deveu-se a ações rígidas, como o isolamento. Paradoxalmente, o
sucesso do isolamento social causa uma sensação de inutilidade do mesmo. Por
esse motivo, no Brasil, alguns desinformados têm filmado hospitais de campanha
montados – esperando o pico da crise – dizendo que como estão vazios significa
que não existe a doença ou que ela não é tão grave assim.
E
desse modo, muita gente embarca nessa história de que se trata de uma “gripezinha”
ou “resfriadinho”, ou, ainda, que é o caso de uma conspiração de forças
obscuras que querem destruir a economia de todos os países!
Ainda
não chegamos ao pico da crise do coronavírus. Por esse motivo, temerosa é a demissão
do ministro Mandetta, infelizmente comemorada por quem é a favor do fim do
isolamento social e, mais infeliz ainda, por outros que viram nisso uma
oportunidade de “vingança” por ele ter votada, enquanto deputado em 2015, pelo
impeachment de Dilma Rousself. No fim, alguns “bolsonaristas” e alguns “petistas”
concordaram com alguma coisa.
O
que está em jogo agora não são picuinhas pessoais. Nem é o caso de duvidar da
competência do atual ministro Nelson Teich. Acontece que, fazendo um paralelo
com futebol, nosso velho conhecido, não se mexe em time e em treinador durante
o campeonato. A não ser que estejam muito ruins. E não parece ser esse o caso.
Ao contrário, as diretrizes da gestão de Mandetta pareciam fazer sentido.
O
novo ministro vai demorar um pouco até formar uma equipe de confiança, tomar
conhecimento do funcionamento da máquina, conhecer os meandros políticos e de
saúde envolvidos nisso, bem como planejar toda uma estratégia de combate ao
vírus. Isso leva tempo e é o que menos temos agora. Por isso, a demissão de
Mandetta foi, no mínimo, uma imprudência neste momento.
A
boa notícia é que os estados, em sua maioria, ainda estão seguindo as
orientações de quem entende do assunto: médicos, cientistas, OMS... E seguimos,
ainda que ansiosos, o isolamento social tão necessário neste momento. E,
também, fazendo nossa parte: evitando aglomerações, contatos desnecessários com
outras pessoas, mantendo distância de segurança, lavando as mãos e usando
máscaras, especialmente em locais públicos.
O
vírus é o vilão da vez. E nas histórias de mocinhos e bandidos, quem não usa a
máscara não é o Lone Ranger (Zorro). É o Tonto.
18.04.2020
Perfeito, vc é muito bom no que diz. 👏🏼
ResponderExcluirGratidão, minha amiga.
ExcluirMuito bom.
ResponderExcluirGratidão!
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