segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Eleições Municipais de 2016

Encerrou-se no domingo, dia 30 de outubro, o último episódio das eleições municipais deste ano. Como era de se esperar, pelo desgaste político dos últimos acontecimentos, a sigla do PT parece ter sido a que mais angariou perdas nestas eleições.
            De acordo com o site G1 (da Globo), o PT não conseguiu conquistar nenhuma das 7 prefeituras a que concorria em 2º turno. Por outro lado, encolheu pouco mais de 94% nas prefeituras de cidades grandes, com mais de 200 mil habitantes. Em 2012, o PT elegeu 17 prefeitos em cidades desse porte. Em 2016, apenas 1.
            O desempenho geral nas outras cidades também não foi dos melhores: de 638 municípios em 2012, o partido reduziu sua presença no Executivo para 254, uma redução de pouco mais de 60%.
            O PSol apresentou-se como alternativa de esquerda nestas eleições, mas não teve um desempenho esperado. Apesar de ter elegido 53 vereadores este ano (em 2012 foram 49), só conseguiu eleger 2 prefeitos em cidades pequenas: Janduís e Jaçanã, ambas no Rio Grande do Norte. Com isso, manteve o mesmo número de prefeitos eleitos em 2012. Dos 53 vereadores do PSol, foi eleita em Sorocaba a vereadora Fernanda Garcia, ampliando o número de mulheres em relação ao pleito anterior.
            Muitas manifestações nas redes sociais comemoraram, após a divulgação dos resultados do 2º turno, a “limpeza” do Brasil que se livrou do “comunismo”. Não faltaram desenhos do mapa brasileiro de “antes” – dividido nas cores vermelha e azul – e “depois”, todo de verde-amarelo com um ponto em vermelho.
            Também não faltaram manifestações com fedor de extrema-direita, e até quem se dispusesse a fazer o triste, submisso e feio papel de sair à ruas de São Paulo para apoiar a candidatura de Donald Trump para presidência dos Estados Unidos. Muitos dos entrevistados disseram que seu apoio se escora em convicções políticas como a da eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil!
            Do mesmo modo, aproveitando a onda fascista, movimentos escusos questionavam os protestos estudantis contra a PEC 241, que limita os gastos do setor público, congelando por 20 anos investimentos em diversos setores, atingindo com isso a Educação.
            De tudo, tiram-se algumas lições dessas eleições. Primeiro é que, a despeito da comemoração ostensiva de grupos de extrema-direita, o fato é que nenhum dos posicionamentos tradicionais da política encontra escora nos tempos atuais. Pensadores como Boaventura de Sousa Santos, Michel de Certeau e mesmo Frei Betto advertem há tempos sobre a crise dos paradigmas na atualidade.
            O que trazem esses pensadores desde o final da década de 1990 é que as instituições, tais como as conhecemos, já não cumprem mais o seu papel e é hora de se pensar em nova forma de organização das coisas. Direita e esquerda hoje convivem com o dilema do esvaziamento do discurso e da ideologia. Como no livro de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”, cada vez fica mais difícil saber quem é gente e quem é porco.
            Esse descontentamento com as instituições pode ser avaliado pelo excessivo número de votos nulos, brancos e de abstenções nesta eleição. Os números chegam a 40% ou mais dos eleitores, somando-se todos os votos não contabilizados. Com isso, os candidatos que “ganharam” a eleição com 51% dos votos, por exemplo, na realidade tiveram votos de apenas pouco mais de 1/3 da população. Eis aí a crise pela qual passa a política.
            Outra lição: a reforma política já passou do tempo... São mais de 30 partidos que elegeram prefeitos no Brasil todo. Com isso, dentro dos moldes em que se projetou a nossa organização política, dificilmente se consegue estabelecer um diálogo entre as esferas da União. Como pode o governo estadual, por exemplo, dialogar com tantas siglas?
            De descrédito em descrédito, o fato é que algo precisa ser mudado. Não há espaço para a preguiça de se pensar em nova fórmula que permita a organização social e política. Urge que assim se processe. Antes que sobrevenha o caos.

Carlos Carvalho Cavalheiro
31.10.2016
           
           
Fontes:
http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-numeros/post/psdb-elege-14-prefeituras-no-2-turno-e-pt-nenhuma.html

http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1819571-psol-cresce-nas-eleicoes-e-tenta-ser-alternativa-da-esquerda-ao-pt.shtml

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