Encerrou-se
no domingo, dia 30 de outubro, o último episódio das eleições municipais deste
ano. Como era de se esperar, pelo desgaste político dos últimos acontecimentos,
a sigla do PT parece ter sido a que mais angariou perdas nestas eleições.
De acordo com o site G1 (da Globo),
o PT não conseguiu conquistar nenhuma das 7 prefeituras a que concorria em 2º
turno. Por outro lado, encolheu pouco mais de 94% nas prefeituras de cidades
grandes, com mais de 200 mil habitantes. Em 2012, o PT elegeu 17 prefeitos em
cidades desse porte. Em 2016, apenas 1.
O desempenho geral nas outras
cidades também não foi dos melhores: de 638 municípios em 2012, o partido
reduziu sua presença no Executivo para 254, uma redução de pouco mais de 60%.
O PSol apresentou-se como
alternativa de esquerda nestas eleições, mas não teve um desempenho esperado.
Apesar de ter elegido 53 vereadores este ano (em 2012 foram 49), só conseguiu
eleger 2 prefeitos em cidades pequenas: Janduís e Jaçanã, ambas no Rio Grande
do Norte. Com isso, manteve o mesmo número de prefeitos eleitos em 2012. Dos 53
vereadores do PSol, foi eleita em Sorocaba a vereadora Fernanda Garcia,
ampliando o número de mulheres em relação ao pleito anterior.
Muitas manifestações nas redes sociais
comemoraram, após a divulgação dos resultados do 2º turno, a “limpeza” do
Brasil que se livrou do “comunismo”. Não faltaram desenhos do mapa brasileiro
de “antes” – dividido nas cores vermelha e azul – e “depois”, todo de
verde-amarelo com um ponto em vermelho.
Também não faltaram manifestações
com fedor de extrema-direita, e até quem se dispusesse a fazer o triste,
submisso e feio papel de sair à ruas de São Paulo para apoiar a candidatura de
Donald Trump para presidência dos Estados Unidos. Muitos dos entrevistados
disseram que seu apoio se escora em convicções políticas como a da eleição, em
2018, de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil!
Do mesmo modo, aproveitando a onda
fascista, movimentos escusos questionavam os protestos estudantis contra a PEC
241, que limita os gastos do setor público, congelando por 20 anos
investimentos em diversos setores, atingindo com isso a Educação.
De tudo, tiram-se algumas lições
dessas eleições. Primeiro é que, a despeito da comemoração ostensiva de grupos
de extrema-direita, o fato é que nenhum dos posicionamentos tradicionais da
política encontra escora nos tempos atuais. Pensadores como Boaventura de Sousa
Santos, Michel de Certeau e mesmo Frei Betto advertem há tempos sobre a crise
dos paradigmas na atualidade.
O que trazem esses pensadores desde
o final da década de 1990 é que as instituições, tais como as conhecemos, já
não cumprem mais o seu papel e é hora de se pensar em nova forma de organização
das coisas. Direita e esquerda hoje convivem com o dilema do esvaziamento do
discurso e da ideologia. Como no livro de George Orwell, “A Revolução dos
Bichos”, cada vez fica mais difícil saber quem é gente e quem é porco.
Esse descontentamento com as
instituições pode ser avaliado pelo excessivo número de votos nulos, brancos e
de abstenções nesta eleição. Os números chegam a 40% ou mais dos eleitores,
somando-se todos os votos não contabilizados. Com isso, os candidatos que
“ganharam” a eleição com 51% dos votos, por exemplo, na realidade tiveram votos
de apenas pouco mais de 1/3 da população. Eis aí a crise pela qual passa a
política.
Outra lição: a reforma política já
passou do tempo... São mais de 30 partidos que elegeram prefeitos no Brasil
todo. Com isso, dentro dos moldes em que se projetou a nossa organização
política, dificilmente se consegue estabelecer um diálogo entre as esferas da
União. Como pode o governo estadual, por exemplo, dialogar com tantas siglas?
De descrédito em descrédito, o fato
é que algo precisa ser mudado. Não há espaço para a preguiça de se pensar em
nova fórmula que permita a organização social e política. Urge que assim se
processe. Antes que sobrevenha o caos.
Carlos
Carvalho Cavalheiro
31.10.2016
Fontes:
http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-numeros/post/psdb-elege-14-prefeituras-no-2-turno-e-pt-nenhuma.html
http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1819571-psol-cresce-nas-eleicoes-e-tenta-ser-alternativa-da-esquerda-ao-pt.shtml
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