Foto: Carlos Carvalho Cavalheiro
Por
uma infelicidade o povo brasileiro acostumou-se a ouvir notícias de corrupção
na empresa estatal Petrobras, detentora do monopólio da extração e do refino de
petróleo no Brasil. A operação “Lava Jato” deu visibilidade a essa empresa, que
foi vista como a grande vilã e a responsável pela corrupção de todo o Estado
brasileiro.
De fato, ouvimos falar
demasiadamente no nome Petrobras como a empresa que sustentou todo o esquema
ilícito de desvios de verbas e que enriqueceu – a custa de dinheiro público –
um sem fim de políticos e empresários. Por isso, não é raro escutar pelas ruas
a opinião de pessoas que se dizem favoráveis à privatização da Petrobras, como
se fosse essa a solução para a corrupção no Brasil.
É preciso entender, no entanto, que
se a Petrobras é utilizada para desvio de recursos (ou dos lucros auferidos
pela empresa), de outro a corrupção não se restringe à essa empresa e, em
grande medida, abarca empresas privadas como as Construtoras Odebrecht e OAS e
mesmo indústrias de alimentos como a JBF. “Pelo menos, se houver corrupção
nessas empresas o prejuízo é dos empresários e não dos cofres públicos”. Já se
ouve tal argumento para incentivar a privatização da Petrobras. No entanto,
essa afirmativa não é verdadeira. As empresas particulares citadas – e tantas
outras – beneficiaram-se da corrupção usurpando o dinheiro público. Em suma, não
houve prejuízo para os empresários, mas tão somente para os cofres públicos.
Por outro lado, existem outras
tantas empresas públicas (estatais) e dificilmente essas não seriam alvo de
corrupção. Numa pesquisa rápida na internet, uma lista enorme de empresas
estatais brasileiras se apresenta. A primeira empresa que não está ligada à
Petrobras ou ao Ministério de Minas e Energia é a AMAZUL - Amazônia Azul
Tecnologias de Defesa S.A., ligada ao Ministério da Defesa e
dependente do Tesouro nacional. Ao
buscar o nome AMAZUL e “corrupção” no buscador da internet aparece de imediato
a notícia de esquema de corrupção bilionário envolvendo a Odebrecht na
construção de um submarino. O esquema foi investigado na 35ª fase da Lava Jato.
A segunda empresa estatal que não está ligada à Petrobras e que aparece na
lista é o Brasilian
American Merchant Bank, subsidiária do Banco do Brasil nas Ilhas Cayman,
paraíso fiscal e que foi um dos possíveis destinos de operações financeiras
ilícitas realizadas por Nicolas Leoz que teria desviado dinheiro da Confederação Sul-Americana
de Futebol (CONMEBOL). Mas, por que somente a Petrobras recebe tamanha
exposição?
Não é de se duvidar que exista um
interesse na campanha de desmoralização da Petrobras. Com isso, não se quer
aqui dizer que não exista esquemas de corrupção nessa estatal ou que a Operação
Lava Jato estaria articulando um plano maquiavélico de destruição do Brasil.
Isso é bobagem. No entanto, estranha-se que se existem outras empresas estatais
envolvidas em corrupção – algumas até investigadas pela Lava Jato – por que
somente a Petrobras tem exposição nos meios de comunicação?
No final da década de 1930, portanto
bem antes da existência da Petrobras, o escritor Monteiro Lobato iniciou uma
campanha de exploração do petróleo no Brasil porquanto acreditava que a
independência econômica e o desenvolvimento do país passavam pela emancipação
energética. Preso por encontrar petróleo no Brasil, Lobato denunciou em seu
livro “O Escândalo do Petróleo” que o governo brasileiro à época promovia uma
política, insuflada pelas grandes corporações como a Standard Oil, de não
permitir a exploração desse óleo natural que nos daria a liberdade econômica,
segundo a crença do iminente escritor.
Porém, Lobato foi muito mais
contundente em suas denúncias e provou que os trusts do petróleo como a
Standard Oil e Royal Ductch & Shell adquiriram terras brasileiras como
reservas petrolíferas afim de explorá-las futuramente quando os seus campos no
estrangeiro se esgotassem (pág. 12). Isso na década de 1930. Porém, chegada a
década de 1950, o mesmo Getúlio Vargas que impediu a exploração de petróleo e
prendeu Monteiro Lobato, encampa a ideia da criação da Petrobras. Com isso,
somente essa empresa estatal tem o monopólio da exploração no Brasil.
Enquanto perdurar esse monopólio
estatal, as grandes corporações não podem explorar as jazidas que adquiriram
desde a década de 1930. Lobato denuncia também que o ex-geólogo da Standard Oil
Harry Koller confessou a existência do “programa dos trusts, nossos
abastecedores de petróleo, de manter o Brasil em estado de escravidão
petrolífera. Confessa a campanha de organização e contratos para o acaparamento
das boas estruturas com o fim de impedir que os nacionais as explorem. Confessa
a intensidade com que estudam nossa geologia e adquirem terras” (pág. 106). De
acordo com Monteiro Lobato, por essas confissões, Harry Koller “teve” de
suicidar-se: semanas depois do aparecimento do livro “O escândalo do petróleo”,
o geólogo “foi encontrado morto em um quarto de hotel em Buenos Aires.
Suicidado...” (pág. 105).
Monteiro Lobato descreve também a
saga dos brasileiros que ousaram sonhar que no subsolo brasileiro havia
petróleo. Diz do caso de São Pedro de Piracicaba, provavelmente a hoje cidade
de Águas de São Pedro. Coincidentemente, há alguns dias visitei a única torre
preservada em solo paulista que testemunha a época em que se buscava a extração
de petróleo no Brasil. Trata-se da Torre Balloni, que levou o nome do
engenheiro que a construiu, Ângelo Balloni.
Essa testemunha do período em que
havia brasileiros que acreditavam no potencial do seu país nos leva à reflexão
sobre os interesses de privatização que ainda hoje rondam a Petrobras.
Carlos
Carvalho Cavalheiro
31.10.2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário