quinta-feira, 18 de julho de 2013
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Artigos do historiador Adalberto Coutinho
Adalberto Coutinho de Araújo Neto é um historiador sorocabano que possui uma considerável produção, especialmente acerca do sindicalismo ferroviário. Fomos colegas do curso de História na UNISO, no final da década de 1990. Ele é autor do livro "Sorocaba Operária", título já consagrado. Abaixo, seguem alguns links de trabalhos seus que ele enviou para divulgação:
Entre a Revolução e o
Corporativismo –
dissertação de mestrado que trata da experiência sindical dos ferroviários da
EF Sorocabana na década de 1930, além de sua formação como trabalhadores desde
1875, quando a ferrovia entrou em funcionamento, até 1940, limite do recorte
temporal da pesquisa.
O Socialismo Tenentista – tese de doutoramento que trata
de uma modalidade do socialismo reformista que existiu em São Paulo durante a
década de 1930, que envolvia elementos socialistas que se tornaram socialistas,
embora não tenham ingressado no PCB de Luiz Carlos Prestes.
Artigo
“O socialismo tenentista” – Legião Cívica 5 de Julho, artigo sobre uma das
organizações socialistas tenentistas existentes em São Paulo durante a década
de 1930, publicado na Histórica, revista
eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Artigo
“Ferroviários e tenentes” – artigo publicado na Histórica, revista eletrônica do Arquivo Público do Estado de São
Paulo. Trata principalmente do envolvimento dos ferroviários da EF
Sorocabana com os tenentes durante a década de 1930.
Artigo “Contribuição para
a história da participação dos imigrantes espanhóis nas lutas operárias de
Sorocaba, na primeira metade do Século XX”. Artigo publicado na página da
Editora Crearte.
Artigo “A Sorocabana e seus trabalhadores”. Artigo publicado na
página da Editora Crearte.
A elegia de um caipira sul-paulista
Em 2003, as então formandas em jornalismo Naiçara Garbin e Gabrielle Camargo escreveram um livro-reportagem sobre o folclorista Bento Palmiro e solicitaram a mim que fizesse um prefácio. O livro não chegou, infelizmente, a ser publicado... Quem sabe um dia... Porém, como faz 10 anos que escrevi o texto abaixo, quis compartilhá-lo:
A identidade cultural do caipira do sul de São Paulo ainda permanece como uma incógnita a produzir comichões, vez ou outra, nas sinapses dos nossos neurônios. Há uma cultura sul-paulista? O que é e como se formou essa cultura?
Muitos foram os que auxiliaram na revelação desses enigmas. Aluísio de Almeida, Waldemar Iglesias Fernandes, Cornélio Pires, Bene Cleto e tantos outros que souberam bem que a cultura paulista do sul do estado possui singularidades que a distinguem da desenvolvida em outras paragens.
A cultura caipira, do ponto de vista antropológico, é o traço característico mais difundido pelo Brasil. Encontramos tais características em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, parte do Rio de Janeiro e do Paraná. Gerada do contato dos ibéricos com os índios, inicialmente em São Paulo, foi acrescentada posteriormente de elementos africanos, alemães, italianos etc... No sul de São Paulo ganhou características próprias até mesmo por influência na região da atividade econômica ímpar a partir de meados do século XVIII, o tropeirismo.
Coube a Bento Palmiro de Miranda, caipira de Cesário Lange, a difícil tarefa de cultor e difusor dessa cultura do sul paulista. Talvez nenhum outro tenha se dedicado tão profundamente a desvendar os meandros dessa identidade cultural.
Folclorista, artesão, fabricante de violas, violeiro, modinheiro, fandangueiro, poeta popular, divulgador das virtudes dos alimentos vegetais... Tantas facetas de um mesmo homem são agora desvendadas pelo esclarecedor trabalho de Gabrielle Camargo e Naiçara Garbin, que realizaram importante pesquisa jornalística resultando na obra “A história do folclorista Bento Palmiro Miranda”.
Com leitura leve, o livro das jovens jornalistas de Sorocaba encanta pela sincera poesia que permeia cada letra, denotando a paixão que nelas provocou o tema e, para felicidade nossa, expurgando os intrusos e enfadonhos estilos academicistas que costumam a aliciar aqueles que se dispõem a pesquisar e publicar seus estudos.
“A história do folclorista Bento Palmiro Miranda”, escrita de forma franca e entusiasta, é a reunião de informações reveladoras e únicas desse que foi um dos mais autênticos paulistas que o sol beijou a fronte.
Dormimos mais tranqüilos. Parte de nossa dívida foi resgatada. A biografia de um dos mais importantes folcloristas de São Paulo está agora acessível a todos. E escrita de forma encantadora. Quase uma elegia. Triste como toda elegia, mas também bela. Bela e triste como a figura de Dom Quixote ou como o Jeca de Angelino de Oliveira.
Carlos Carvalho Cavalheiro.
20.10.2003.
Sugestão de frase para orelha: “Coube a Bento Palmiro a tarefa de cultor e difusor da cultura caipira sul-paulista”.
NEGRITUDE VELADA: AS IRMANDADES DE NEGROS DE SOROCABA
Um
fato que salta aos olhos, de imediato, ao se debruçar sobre as esparsas – e,
por vezes, desencontradas – informações sobre a Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário (e, posteriormente, de São Benedito também) de Sorocaba é o estado de
penúria em que se encontravam os negros a ela associados.
A
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos desapareceu em Sorocaba
em 1812, sendo insensivelmente substituída, conforme as palavras do historiador
Aluísio de Almeida, pela Irmandade de São Benedito, como sociedade religiosa de
negros sorocabanos, por volta da década de 1820.
A
levar em consideração as informações disponibilizadas por Aluísio de Almeida,
os negros sorocabanos venderam a sua inacabada capela de taipa dedicada a Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos, por volta de 1770, ao Sarutaiá,[1]
ficando sem orago por algum tempo. Ao que tudo indica, esse capitão-mor
sabotava a construção dessa igreja, que ficava defronte à sua residência, “atirando
certeiras bodocadas aos escravos que construíam as taipas da igreja do
Rosário”, antes de propor aos negros a compra do templo em construção.[2]
Dom José Carlos de Aguirre, em trabalho publicado em 1927, se reporta às
certeiras bodocadas do Capitão-Mór Sarutaiá como “estímulo” ao trabalho dos
negros, querendo com isso “vencer a indolência” dos mesmos. Na análise da
reprodução, nesse referido trabalho, de uma petição de Salvador de Oliveira
Leme (o Sarutaiá) ao Bispo de São Paulo, pode-se verificar o interesse daquele
na posse e propriedade da igreja do Rosário que estava sendo construída.
Argumentou na petição que pretendia aumentar a devoção das irmandades de homens
pretos de Sorocaba, mas estes são “tam miseráveis, e faltos de fé, que se não
atrevem a concorrer com coisa algúa por ser pouca, e pequena a esmolla, que
tirão para os gastos dos folguedos, que todos annos fazem pelas ruas sendo o da
Igreja tam limitado” (AGUIRRE, 1927, p. 09). Ao longo da petição, Sarutaiá
argumenta que não irá mais contribuir para que os negros possam ter a sua
capela, mas antes, que por ver a negligência destes, propõe que a dita igreja
fique ao seu zelo e ao de seus herdeiros, devolvendo aos negros da Irmandade os
cinqüenta mil réis com os quais estes iniciaram a construção do templo. Com a
petição deferida, Sarutaiá se apossa da igreja e seus herdeiros, na realidade
suas netas, darão início posteriormente à construção do Convento de Santa
Clara.
Os
negros foram para a Igreja Matriz e lá permaneceram até 1797, embora na sua
petição o Sarutaiá se comprometesse a consentir que os negros pudessem realizar
“as suas festas na mesma Capella, porem nunca com o domínio de sua, mas sim por
favor” (AGUIRRE, 1927, p. 09). Já como Irmandade de São Benedito[3],
em 1825, utilizou a Capela de Bom Jesus dos Aflitos da Rua das Flores
(possivelmente, por volta de 1865) sendo os irmãos acolhidos, posteriormente,
na capela de Santo Antônio (ao que parece, a segunda capela desse santo, na
atual Praça Nicolau Scarpa), local onde realizavam a festa de São Benedito no
dia 06 de janeiro (ALMEIDA, 1950, 2002). Parece, portanto, que essa Irmandade –
que começou como Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e tornou-se,
depois, de São Benedito – não teve sua capela própria por muitos anos[4].
Ainda
recorrendo a Aluísio de Almeida, verifica-se que a construção em taipa era
especialidade dos negros da Irmandade e que a construção de suas igrejas sempre
parava quando chegava a necessidade de trabalhos outros, como o de carpinteiro,
de ferreiro, de pintor etc (ALMEIDA, 1952). Isso demonstra que existia mesmo
falta de recursos entre os negros de Sorocaba para viabilizar a construção da
igreja de sua irmandade. Diferentemente ocorria nas regiões das Minas, como
exemplo[5].
No entanto, a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Sorocaba foi
abandonada inacabada em 1812 (quando não se tem mais notícias da Irmandade) e a
de São Benedito não consegue, por sua vez, terminar o seu templo, eis que em
1873 fora construída uma torre, à guisa de igreja, no antigo teatro de Santa
Clara (igreja que não foi benzida) sem, contudo, acabar a construção, conforme
publicou o Almanak da Província de São
Paulo para 1873.
Mas
qual era a função das Irmandades negras? Apenas permitir ao negro participar do
culto católico? Segundo a historiadora Claudete de Sousa Nogueira (2008), as
irmandades tinham como finalidade servir como sociedade na qual se agregavam
negros (livres, escravos, forros) para apoio e ajuda mútua. Para Carlos
Rodrigues Brandão (1986), as irmandades – com suas festas – recriavam, numa
oposição de sentidos, o simbolismo de se coroarem a si próprios e não aos
santos católicos, como faziam os brancos.
No
sentido dado por Claudete Nogueira, relacionamos a história da Irmandade de São
Benedito de Porto Feliz, a qual comprou terreno anexo ao cemitério da cidade,
no final do século XIX, para que os seus pudessem ser enterrados[6].
No sentido dado por Carlos Brandão, lembramo-nos do lendário Reisado
estabelecido por Chico Rei, em Vila Rica (atual Ouro Preto). Como testemunha
Carlos Góes (1994, p. 81), “no dia 6 de janeiro de cada ano o Rei, a Rainha e
os Príncipes, vestidos com trajes opulentos, cobertos de suas insígnias e
coroas, eram, com grande aparato, levados à Igreja do Rosário”.
Por
outro lado, as Irmandades eram uma forma de resistência (ainda que se entenda
como resistência afirmativa) à escravidão. Além de servir aos negros como
alívio aos “sofrimentos infligidos pelos brancos” (NOGUEIRA, 2008, p. 40), as
irmandades funcionavam como forma simbólica de resistência na medida em que se
procurava preservar os rituais e mesmo o seu panteão da impostura dos padrões
religiosos católicos. Clóvis Moura (1989, p. 35) explicita que nesse processo
de resistência
Sempre a defesa do
dominado, do oprimido, do discriminado é ambígua. Aquele que não pode atacar
frontalmente procura formas simbólicas ou alternativas para oferecer
resistência a essas formas mais poderosas. Dessa forma o sincretismo assim chamado não foi a incorporação do mundo religioso
do negro à religião dominadora, mas, pelo contrário, uma forma sutil de
camuflar internamente os seus deuses para preservá-los da imposição da religião
católica.
Memorialistas e historiadores
registraram a permanência das práticas oriundas dos rituais africanos dentro
das Irmandades negras católicas, sobretudo na capital paulista. Paulo Cursino
Moura (1980, p. 80), por exemplo, afirma que histórias de lendas e bruxarias
eram atribuídas à “Irmandade de N. S. do Rosário dos Homens Pretos, instituída
em 1810” na cidade de São Paulo. É célebre a descrição ritualística que fez do
enterro de negros da Irmandade, que, jogando punhados de terra sobre o cadáver,
cantavam: “Zóio que tanto vê / Zi boca que tanto fala/ Zi boca que tanto ri /
zi comeu e zi bebeu / Zi corpo que tanto trabaiô / Zi perna que tanto andô / zi
pé que zi tanto pisô...”. Aluísio de Almeida registrou semelhante ritual
existente em Sorocaba no passado, intercalado por “bum bum bum” feito com
batidas de pés ou pilões que socavam a terra que cobria a sepultura.
Tais
práticas, como recriações e reelaborações de antigas tradições africanas – que
permaneceram à guisa de resquício nuclear na formação de uma identidade – fornecem
o subsídio necessário para a sobrevivência na correlação de forças que se
estabelece dentro do contexto de domínio inerente à escravidão. Daí se
depreender que a as relações entre negros e brancos naquele contexto histórico
eram tensas e requeriam de ambas as partes, mas, sobretudo do negro,
estratégias e dinâmicas que permitissem a sobrevivência da ritualística, mesmo
que dentro da dinamicidade da reelaboração de símbolos e de significados.
Ainda
que pareça precipitado julgamento, a princípio pode-se estabelecer uma relação
de estratégias similares entre a Irmandade de N. S. do Rosário e São Benedito
com o arsenal de práticas que deram origem ao culto de João de Camargo. Esse
taumaturgo, praticante de cultos ancestrais como o da Calunga, deu uma
aparência católica aos seus rituais, com igreja similar ao modelo católico, com
altar, santos e até com a promoção de procissões (CAVALHEIRO, 2010).
Entretanto, afora o aspecto externo, o culto de João de Camargo continuou
guardando resquícios da religiosidade ancestral africana. E os irmãos de São
Benedito costumavam a chamá-lo de “padrinho” (ALMEIDA, 1974).
Num
contexto originado dentro de uma estrutura de dominação, é natural que as
forças se digladiem em busca de maior espaço de atuação. De um lado, a
ideologia cristã do branco nomeará os cultos africanos de “feitiçaria”,
“macumba”, “bruxaria”, “magia negra”, numa tentativa de esvaziar qualquer
conteúdo de religiosidade que se possa perceber. De outro, a continuidade da
religião de seus ancestrais é uma forma do negro resistir. Segundo Moura (1988,
p. 39), “dentro inicialmente de uma estrutura escravista, o cristianismo
entrava como parte importantíssima do aparelho ideológico de dominação e as
religiões africanas eram elementos de resistência ideológica e social do
segmento dominado”.
Por
esse motivo, até os dias atuais, Irmandades negras cantam em seus congados para
Zambi (Deus supremo para os bantos), para Beira-Mar (um dos nomes de Ogum) e,
ao mesmo tempo, para Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Nossa Senhora
Aparecida.[7]
É curioso, ainda, o fato de os reis das Congadas usarem coroa e manto, símbolos
esses do orixá Xangô.[8]
As
Irmandades católicas negras de Sorocaba promoviam, também, festas que
reforçavam o caráter de identidade e de ressignificação social. Rivalizando, de
certa forma, com a Festa do Divino (promovida pela elite branca), os negros da
Irmandade do Rosário promoviam as congadas, nas quais havia a coroação de reis.
Não é à toa, parece-nos, que a festa e folguedo eram promovidos no dia 6 de
Janeiro, dia de Reis, costume que permanece na Festa de São Benedito (ALMEIDA,
1969). Ao realizar as festas e folguedos, os negros iam demarcando o seu
território, estabelecendo a sua presença em diversos locais. É bom lembrar que
tais ocorrências existiam paralelamente à escravidão e que o direito de ir e
vir, de acesso e permanência num local, era restringido aos escravos.
Participar da congada permitia a flexibilidade dessas regras. Porém, isso não
de dava de forma passiva. Posturas municipais e repressão policial marcam a
história dos batuques e congadas sorocabanos (CAVALHEIRO, 2006). As festas e
folguedos dos negros, portanto, eram imprescindíveis para a manutenção de sua
identidade e memória. Isso nem sempre era reconhecido. Talvez por isso, o bispo
Dom Aguirre se manifestasse dizendo que os negros da Irmandade de N. S. do
Rosário dos Homens Pretos de Sorocaba eram indolentes para a construção de sua
igreja, mas não o eram para as orgias, as quais “não lhes faltavam ânimo”
(AGUIRRE, 1927, p. 08). Isso porque a petição do Sarutaiá requerendo o domínio
da antiga igreja dos negros dizia que a esmola que tiravam era pequena para as
despesas dos folguedos que faziam todos os anos. Não entendiam, nem o Sarutaiá
e nem Dom Aguirre (mais de dois séculos depois) como poderiam os negros dar
mais valor ao folguedo anual do que à construção da capela da Irmandade.
A
par dessas manifestações, surge a possibilidade da criação de uma
territorialidade negra. Isso parece ter existido na medida em que muitos
depoimentos dão conta da aglomeração de negros, por exemplo, no entorno da
Igreja de Santo Antônio, quando esta abrigava a imagem de São Benedito. Os
escritores e historiadores Vicente Caputti Sobrinho e Milton Marinho Martins
deixaram registradas suas recordações sobre as brincadeiras de roda de negros
(como a capoeira) no antigo Largo Santo Antônio, em frente à Igreja de mesmo
nome. Salerno das Neves, liderança entre os negros de Sorocaba, também
realizava devoções religiosas naquele mesmo lugar. As festas de São Benedito
ocorriam, na década de 1930, da mesma forma, naquele largo (CAVALHEIRO, 2010).
A
existência da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São
Benedito em Sorocaba testemunha alguns aspectos interessantes da história do
negro sorocabano. Comprova a resistência e a luta para poder continuar a
cultuar suas divindades e promover a sua religião. Esclarece sobre as
estratégias e a compreensão desse negro – que na época poderia ser livre,
alforriado ou escravo – da conjuntura e das relações de dominação próprias do
escravismo. Ver-se impedido de praticar a sua religião é algo tão cruel que
bastaria rememorar que foi essa uma das imposições nazistas aos judeus. Por isso
tudo, as Irmandades negras em Sorocaba denunciam, acima de tudo, a violência e
o preconceito, que perduram até hoje, em relação à religiosidade de matriz
africana.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Licenciado
em História e Pedagogia
Bacharel
em Teologia
Especialista
em Metodologia do Ensino de História e em Gestão Ambiental
REFERÊNCIAS
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[1] Consta,
segundo Aluísio de Almeida (2002, p. 79), que “A capela de Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos foi por eles edificada, ou antes, socadas apenas as
taipas, quando Salvador de Oliveira Leme, o Sarutaiá, depois capitão-mor de
Itapetininga morando em Sorocaba e na frente da capela ou igreja, vendo que os
pobrezinhos gastavam as esmolas em comes e bebes, resolveu acabar o templo à
sua custa, cerca de 1770. Deu 50$000 em dinheiro aos Pretos, que fossem começar
outra, ficando provisoriamente na Matriz, onde já havia outra Nossa Senhora do
Rosário, dos brancos”.
[2] Sob o
pseudônimo de Arnobius, Aluísio de Almeida nos conta esse fato, o qual já havia
sido registrado pelo bispo de Sorocaba, Dom José Carlos de Aguirre, numa
monografia sobre a “Memória do Convento da Immaculada Conceição e de Santa
Clara”. O Sarutaiá, depois de atirar bodocadas aos escravos e de comprar-lhes a
igreja, terminou a construção e dedicou-a a Santa Clara, na rua de São Bento.
Ver: O Sarutayá, In Cruzeiro do Sul, 23 abr 1937, p. 01. É provável que o
Sarutaiá não quisesse uma igreja de negros nas proximidades de sua casa. Fato
similar ocorreu com a Igreja do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo,
ameaçada de mudança de local em diversas oportunidades simplesmente porque era
“igreja de pretos”, conforme testemunha Amaral, 1991, p. 145. Na versão do
Bispo Dom Aguirre, as bodocadas eram dadas como “estímulo” para que os negros
trabalhassem na construção da Igreja.
[3] Aluísio
de Almeida acredita que a Irmandade de São Benedito tenha surgido em Sorocaba
próximo à data da Independência (1822).
[4] Os
negros da Irmandade de São Benedito utilizaram a Igreja de Santo Antonio por
duas vezes, primeiro no início da Irmandade e, posteriormente, quando a capela
de Bom Jesus dos Aflitos da rua das Flores ficou em ruínas, conforme Almeida,
1971.
[5] Na
cidade de Ouro Preto, por exemplo, há duas igrejas de negros: a de Santa
Efigênia (ou Nossa Senhora do Rosário do Alto da Cruz), que levou 60 anos para
ser construída (1730 a 1790) e a de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
(1785).
[6] Segundo
o historiador Romeu Castelucci em 1896 a Câmara Municipal de Porto Feliz
regulamentou o enterramento de pessoa no cemitério da Irmandade de São
Benedito.
[7] Raul
Joviano Amaral (1991, p. 32) explica que “ninguém desconfiava que sob a
proteção de Nossa Senhora do Rosário estava a devoção a Iemanjá e que, sob a
tutela de São Benedito, executava-se todo o mágico preceito dos cultos aos
deuses-Orixás”. É interessante notar que o poeta e historiador portofelicense
Pedro José Moreau anotou uns versos dedicados à São Benedito que diziam: “Meu
senhor São Benedito / a vossa casa cheira / cheira a cravo, cheira a rosa /
cheira a flor de laranjeira”. Essa cantoria é encontrada em alguns congados.
Versos bastante similares, com exceção do inicial, compõem um ponto cantado na
Umbanda: “Cosme e Damião / a sua casa cheira / cheira a cravo, cheira a rosa /
e a botão de laranjeira” (Ver: MOREAU, 1956, p. 04, e, AZEVEDO, 2008, p. 111).
Há versões para Nossa Senhora do Rosário, também.
[8]
Segundo a pesquisadora Janaína Azevedo Corral, “a coroa e o manto a Xangô
pertencem, pois Xangô é o Rei” (AZEVEDO CORRAL, 2010, p. 106). Por esse motivo,
a pesquisadora associa, também, a Folia de Reis com esse orixá. A coroa é
símbolo de outro orixá importante: Oxalá.
O Operário: artífice do progresso.
Tudo, tudo o que existia
Era
ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
(Operário
em Construção, Vinícius de Moraes)
Sorocaba
conheceu no final do século XIX outro personagem que iria contribuir para a
construção do progresso material da cidade: o operário. Ao lado dos
bandeirantes, dos tropeiros e dos escravos na construção da nossa história,
esse personagem surge com as primeiras fábricas, modificando, gradativamente,
as relações sociais e econômicas.
Nessa
época Sorocaba incorpora o discurso da modernidade e do progresso. A ideologia
da cidade burguesa e civilizada contagia a todos. Amiúde, os símbolos dessa
modernidade são citados em jornais – que também se tornam signos do progresso –
e passam a ser idolatrados como indicadores únicos do sucesso e da felicidade
de todos.
O
operário também será contaminado pelo mesmo discurso: em suas manifestações,
ele enaltecerá o progresso industrial da cidade, os melhoramentos urbanos, o
surgimento de escolas... Contudo, o fará de forma, muitas vezes, crítica; eis
que tal progresso não o atingia. É público e notório que as condições de vida
dos primeiros operários eram bastante precárias. Trabalhavam exaustivamente em
condições subumanas e o que ganhavam como salário, mal diferenciava o valor do
prato de comida e do copo de água dado ao escravo para que este não morresse. O
escritor sorocabano Jacob Penteado, no seu livro Belenzinho, 1910, testemunha que sua mãe – assim como os demais operários
– trabalhava numa fábrica têxtil em Sorocaba, das cinco horas da manhã às 20
horas!
No
entanto, como principal artífice do progresso material da cidade, o operário se
organiza especialmente em associações operárias, anarquistas e comunistas, e parte
para a luta de conquistar parte desse progresso para a sua própria realidade.
Assim, o jornal O Operário publica
manifestação em que diz: “Operários, não
obstante nestes últimos tempos estão-se fazendo sentir os primeiros echos de
liberdade, mostrando a alguns patrões que neste século nós, os operários, não
podemos ser tão maltratados como somos, ainda tem patrões que continuam com
toda a sorte de violência, a maltratar seus operários, não só na mesquinha
remuneração – e às vezes com multas por cima, – como também no demasiado
trabalho, sobre o que, pouco a pouco, vão massacrando os vis operários!...”.
Dessa
forma, Sorocaba era uma cidade visada pelas organizações operárias, sobretudo
anarquistas e anarcossindicalistas, de início, e comunistas, a partir da década
de 1930. A redução da jornada de trabalho, por exemplo, ligada às manifestações
do dia 1º de Maio, tiveram início já em 1894, quando os anarquistas Alexandre
Levy e Angelo Belcote foram presos afixando cartazes conclamando os
trabalhadores sorocabanos a participarem das manifestações do dia do
Trabalhador. No século XX, mais precisamente em abril de 1910, o orador
anarquista Oreste Ristori realizou uma palestra na cidade. Os operários fizeram
greves, passeatas, fundaram escolas para operários, elaboraram
abaixo-assinados, enfim, lutaram para que o progresso da cidade fosse também o
seu como classe social. E foram vitoriosos: conquistaram direitos e obtiveram
melhorias das condições de vida e de trabalho.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Julho de 2010.
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