Tudo, tudo o que existia
Era
ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
(Operário
em Construção, Vinícius de Moraes)
Sorocaba
conheceu no final do século XIX outro personagem que iria contribuir para a
construção do progresso material da cidade: o operário. Ao lado dos
bandeirantes, dos tropeiros e dos escravos na construção da nossa história,
esse personagem surge com as primeiras fábricas, modificando, gradativamente,
as relações sociais e econômicas.
Nessa
época Sorocaba incorpora o discurso da modernidade e do progresso. A ideologia
da cidade burguesa e civilizada contagia a todos. Amiúde, os símbolos dessa
modernidade são citados em jornais – que também se tornam signos do progresso –
e passam a ser idolatrados como indicadores únicos do sucesso e da felicidade
de todos.
O
operário também será contaminado pelo mesmo discurso: em suas manifestações,
ele enaltecerá o progresso industrial da cidade, os melhoramentos urbanos, o
surgimento de escolas... Contudo, o fará de forma, muitas vezes, crítica; eis
que tal progresso não o atingia. É público e notório que as condições de vida
dos primeiros operários eram bastante precárias. Trabalhavam exaustivamente em
condições subumanas e o que ganhavam como salário, mal diferenciava o valor do
prato de comida e do copo de água dado ao escravo para que este não morresse. O
escritor sorocabano Jacob Penteado, no seu livro Belenzinho, 1910, testemunha que sua mãe – assim como os demais operários
– trabalhava numa fábrica têxtil em Sorocaba, das cinco horas da manhã às 20
horas!
No
entanto, como principal artífice do progresso material da cidade, o operário se
organiza especialmente em associações operárias, anarquistas e comunistas, e parte
para a luta de conquistar parte desse progresso para a sua própria realidade.
Assim, o jornal O Operário publica
manifestação em que diz: “Operários, não
obstante nestes últimos tempos estão-se fazendo sentir os primeiros echos de
liberdade, mostrando a alguns patrões que neste século nós, os operários, não
podemos ser tão maltratados como somos, ainda tem patrões que continuam com
toda a sorte de violência, a maltratar seus operários, não só na mesquinha
remuneração – e às vezes com multas por cima, – como também no demasiado
trabalho, sobre o que, pouco a pouco, vão massacrando os vis operários!...”.
Dessa
forma, Sorocaba era uma cidade visada pelas organizações operárias, sobretudo
anarquistas e anarcossindicalistas, de início, e comunistas, a partir da década
de 1930. A redução da jornada de trabalho, por exemplo, ligada às manifestações
do dia 1º de Maio, tiveram início já em 1894, quando os anarquistas Alexandre
Levy e Angelo Belcote foram presos afixando cartazes conclamando os
trabalhadores sorocabanos a participarem das manifestações do dia do
Trabalhador. No século XX, mais precisamente em abril de 1910, o orador
anarquista Oreste Ristori realizou uma palestra na cidade. Os operários fizeram
greves, passeatas, fundaram escolas para operários, elaboraram
abaixo-assinados, enfim, lutaram para que o progresso da cidade fosse também o
seu como classe social. E foram vitoriosos: conquistaram direitos e obtiveram
melhorias das condições de vida e de trabalho.
Carlos Carvalho Cavalheiro
Julho de 2010.
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