segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Operário: artífice do progresso.


                Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
(Operário em Construção, Vinícius de Moraes)

                Sorocaba conheceu no final do século XIX outro personagem que iria contribuir para a construção do progresso material da cidade: o operário. Ao lado dos bandeirantes, dos tropeiros e dos escravos na construção da nossa história, esse personagem surge com as primeiras fábricas, modificando, gradativamente, as relações sociais e econômicas.
                Nessa época Sorocaba incorpora o discurso da modernidade e do progresso. A ideologia da cidade burguesa e civilizada contagia a todos. Amiúde, os símbolos dessa modernidade são citados em jornais – que também se tornam signos do progresso – e passam a ser idolatrados como indicadores únicos do sucesso e da felicidade de todos.
                O operário também será contaminado pelo mesmo discurso: em suas manifestações, ele enaltecerá o progresso industrial da cidade, os melhoramentos urbanos, o surgimento de escolas... Contudo, o fará de forma, muitas vezes, crítica; eis que tal progresso não o atingia. É público e notório que as condições de vida dos primeiros operários eram bastante precárias. Trabalhavam exaustivamente em condições subumanas e o que ganhavam como salário, mal diferenciava o valor do prato de comida e do copo de água dado ao escravo para que este não morresse. O escritor sorocabano Jacob Penteado, no seu livro Belenzinho, 1910, testemunha que sua mãe – assim como os demais operários – trabalhava numa fábrica têxtil em Sorocaba, das cinco horas da manhã às 20 horas!
                No entanto, como principal artífice do progresso material da cidade, o operário se organiza especialmente em associações operárias, anarquistas e comunistas, e parte para a luta de conquistar parte desse progresso para a sua própria realidade. Assim, o jornal O Operário publica manifestação em que diz: “Operários, não obstante nestes últimos tempos estão-se fazendo sentir os primeiros echos de liberdade, mostrando a alguns patrões que neste século nós, os operários, não podemos ser tão maltratados como somos, ainda tem patrões que continuam com toda a sorte de violência, a maltratar seus operários, não só na mesquinha remuneração – e às vezes com multas por cima, – como também no demasiado trabalho, sobre o que, pouco a pouco, vão massacrando os vis operários!...”
                Dessa forma, Sorocaba era uma cidade visada pelas organizações operárias, sobretudo anarquistas e anarcossindicalistas, de início, e comunistas, a partir da década de 1930. A redução da jornada de trabalho, por exemplo, ligada às manifestações do dia 1º de Maio, tiveram início já em 1894, quando os anarquistas Alexandre Levy e Angelo Belcote foram presos afixando cartazes conclamando os trabalhadores sorocabanos a participarem das manifestações do dia do Trabalhador. No século XX, mais precisamente em abril de 1910, o orador anarquista Oreste Ristori realizou uma palestra na cidade. Os operários fizeram greves, passeatas, fundaram escolas para operários, elaboraram abaixo-assinados, enfim, lutaram para que o progresso da cidade fosse também o seu como classe social. E foram vitoriosos: conquistaram direitos e obtiveram melhorias das condições de vida e de trabalho.

Carlos Carvalho Cavalheiro

Julho de 2010.

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