domingo, 7 de agosto de 2016

João do Rio e “Bem Porto”



                A edição nº 19, de dezembro de 2015 da Revista Bem Porto (da cidade de Porto Feliz) trouxe na matéria de capa o tema “Todos pela paz”, contendo uma visão de algumas doutrinas filosóficas e religiões da cidade. Interessante material de reportagem – e pesquisa – que abordou visões da Igreja Católica Apostólica Romana, da Umbanda (com entrevista de Izabel Gonzaga, a última Ialorixá da Tenda de Umbanda “Vovó Catarina”), do Espiritismo (Kardecismo), da Igreja Presbiteriana Luterana, do Ateísmo, da Igreja do Evangelho Quadrangular, da Maçonaria, da Igreja Evangélica Pinheiros e da Fé Bahá’í.
                De acordo com a mesma publicação, “A Revista Bem Porto entrou em contato com todas as igrejas, religiões, seitas, filosofias esotéricas e espiritualistas que encontrou na cidade de Porto Feliz. Muitas, por questões doutrinárias, preferiram não participar, e outras, até o fechamento desta edição, não responderam. Todos os que se dispuseram a participar tiveram seu espaço garantido”. Esse trabalho lembra muito aquele realizado pelo jornalista João Paulo Barreto, que escreveu uma série de artigos sobre o universo religioso do Rio de Janeiro do início do século XX, todos assinados com o pseudônimo de João do Rio. Posteriormente, essas reportagens da Gazeta de Notícias foram compiladas no livro “As religiões no Rio”, um sucesso de público e de crítica por trazer os meandros das práticas religiosas e filosóficas presentes na então Capital do Brasil.
                A religião sempre aguçou a curiosidade das pessoas e, nesse sentido, o interesse pelo assunto se pode medir pela venda de publicações – em todos os suportes – que tragam fatos inusitados sobre as diferentes crenças. O brasileiro é um povo inclinado à religiosidade e, ainda, ao sincretismo, à mistura de doutrinas e preceitos que dão vida a novas formas de relacionamento do humano com o sobrenatural.
                A História das religiões, ou mesmo das denominações religiosas aguçam a curiosidade.  Fatos interessantes chamam a atenção sobre o tema. Por exemplo, o fato de o primeiro pastor evangélico do Brasil ter feito pregações em Porto Feliz no século XIX. Trata-se de José Manoel (ou Manuel) da Conceição, que fora ordenado padre católico, mas converteu-se, posteriormente, ao protestantismo, sendo um pregador itinerante. Manoel da Conceição viveu por anos em Sorocaba e, após a sua conversão ao protestantismo, peregrinou por várias cidades. Émile G. Leonard, que realizou um interessante estudo do protestantismo no Brasil, publicado na Revista da USP em 1952, diz que fugindo da perseguição policial, o pastor realizava pregações em cidades do Vale do Paraíba, e em outubro de 1866 ele realizou pregações nas cidades de Cotia, Ibiúna, Piedade, São Roque, Piracicaba, Porto Feliz, Itu e Brotas. O dia de sua ordenação, em 17 de dezembro de 1865, é considerado como Dia do Pastor Presbiteriano.
                Outra curiosidade é em relação à Congregação Cristã do Brasil, fundada em 1910, e que em 1933 aparece em seu relatório de templos o de Porto Feliz, conforme atesta Yara Nogueira Monteiro num artigo publicado em 2010 com o título: “Congregação Cristã no Brasil: da fundação ao centenário – a trajetória de uma Igreja brasileira”.
                O fundador do Instituto da Filhas de São José, o padre Luís Carbulloto, foi beatificado em 2015. Esse padre veneziano fundou o Instituto em 1850 e próximo de sua morte, manifestou o desejo de que a obra que criou fosse levada ao Brasil. Por isso, em 1927 ”as irmãs Filhas de São José iniciaram um trabalho educativo em um casarão antigo no interior de São Paulo, com crianças e adolescentes de baixa renda, desde a educação infantil até o ensino médio. A Escola São José de Porto Feliz, que carrega o lema “Amar Educando e Educar Amando”, em atividade desde 1934, também oferece curso de bordado e alfabetização para adultos”, de acordo com matéria publicada no jornal capivariano “O Semanário”. O padre beatificado, então, possui uma ligação – ainda que indireta – com Porto Feliz.
                Em relação à Apometria, Porto Feliz conta com um dos mais conceituados grupos do Brasil. Trata-se do Grupo de Apometria de Porto Feliz - Fraternidade Cristã Kardecista, localizado na avenida Dr. Antoninho, e que tem seu registro de CNPJ desde dezembro de 2003. A Apometria é, segundo a Wikipédia, “um conjunto de praticas com objetivo de cura, normalização corporal e conscientização do envolvimento energético, no qual os seres humanos estão imersos”. 
                Por fim, é curiosa a polêmica envolvendo a igreja católica e o visconde de Taunay, em fins da década de 1880. O jornal católico “O Apóstolo”, de fevereiro de 1889, traz a tona a controvérsia alegando que o visconde perseguia a Colônia Rodrigo Silva, formada por belgas em Porto Feliz, por esta ter sido organizada pelo padre católico VanHesse (ou VanEsse). Esse fato, encontrado pelo jornalista Gustavo Barreto, mostra o conflito que se estabeleceu entre o senador Visconde de Taunay e a Igreja Católica, pelas críticas do primeiro em relação à organização de imigração em mãos clericais.
                A pesquisa sobre as religiões – ou doutrinas e filosofias religiosas – não é apenas fato curioso, mas, também um indicador da forma de agir e pensar de um povo. Serve, portanto, para mostrar o quanto somos diversos e que na diversidade reside a beleza da mensagem máxima das religiões: a Paz.

Carlos Carvalho Cavalheiro

02.01.2016

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