sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O prefeito e os cortes na Cultura

 Foto: Carlos Carvalho Cavalheiro

                Lamentável. Essa é a única palavra que ocorre nesse momento para definir o sentimento em relação aos cortes anunciados pelo Prefeito Pannunzio e que atingem diversos setores, entre eles o Esporte e a Cultura. Em sua defesa, o prefeito argumentou que estava em vias de “infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ao gastar mais do que arrecada” (CRUZEIRO DO SUL, 10 ago 2016).
                Além disso, informou que “tanto o governo federal como o governo do Estado são devedores do município, [e] não estão honrando os compromissos assumidos” (Ibidem). Com isso, pretende-se que o dinheiro destinado à Cultura e ao Esporte seja destinado a outros setores como a Saúde. Pois bem, o argumento é válido e é óbvio que se passasse pelo crivo de uma pesquisa popular, um plebiscito, não haveria quem se dispusesse a contra-argumentar que os recursos públicos deveriam atender prioritariamente à Saúde. O argumento é consistente, é forte.
                Por outro lado, há questões que merecem uma atenção mais crítica. A primeira delas é em relação ao tempo em que o prefeito decidiu-se para tomar as “medidas impopulares”. A Lei de Incentivo à Cultura e o Prêmio Sorocaba de Literatura, por exemplo, ambos amplamente escorados em Leis Municipais, já haviam iniciado o seu processo seletivo. Pior, já estavam em fase de finalização. Ocorre que, tanto para um como para o outro caso, há por parte dos artistas todo um preparo, gastos e desgastes, correrias e pré-requisitos que têm de ser cumpridos para que se possa fazer jus a ambos. No caso do Prêmio de Literatura, por exemplo, antecipadamente, como pré-requisito da inscrição, o autor deve doar três exemplares do livro – alvo do processo de seleção – para o acervo das Bibliotecas Públicas. Isso foi feito. No caso da LINC, houve gastos com toda a documentação e todo o processo de formatação dos projetos. Além disso, salvo engano, a porcentagem destinada para custeio dos processos de avaliação e serviços administrativos, na ordem de 10% do orçamento total (o que corresponde a R$ 90 mil ) já foram gastos. Em suma, não era esse o momento de se suspender os recursos da LINC, do Prêmio de Literatura e outros. Até porque, o ônus de tal atitude é o descrédito em relação ao Poder Público, pois, ao menos em aparência, promete algo (abre o processo de seleção) e não o cumpre. Afinal, o argumento dado não era exatamente o fato de não se poder descumprir a Legislação vigente?
                Outro fato que pesa contra essa atitude é o argumento de que o governo federal e o estadual não estão cumprindo com os seus deveres. Pelo que consta, ambos o governo federal é aliado do PSDB. O estadual é do mesmo partido do municipal! É questão de “fogo amigo”? Quão amigo é esse “fogo”? Ora, não é o caso de se ingressar com Ação judicial contra o descumprimento dos compromissos assumidos por esses governos? Não havia como prever, com antecipação adequada, que o descumprimento desses governos acarretaria problemas no orçamento do município? Por que não?
                Por fim, é importante salientar que o problema na arrecadação e na área da Saúde não é recente. Há tempos que os reclamos da população em relação ao atendimento da Saúde vêm pautando a atuação nessa área. Por que somente agora é que se pensou em “solucioná-los”? Aliás, em termos exatos, o que desses cortes será de fato destinado à área da Saúde? Seria bom que soubéssemos a fim de acompanharmos pari passu tais investimentos. Também é fato que numa cidade onde haja mais investimento em cultura e em esporte (além da educação) a necessidade de investimentos em Saúde é bem menor. Por outro lado, com relação à redução da arrecadação, os cortes somente pioram a situação. Somente a LINC e o Prêmio Sorocaba de Literatura – para não citar outros como o Prêmio de Música – movimentam o comércio e a prestação de serviços, ampliando demasiadamente a arrecadação. Enfim, resta apenas a esperança de que venham dias melhores e que talvez apareça algum “mecenas” (quem sabe um consórcio de industriais e comerciantes) que consigam ainda salvar essa situação.

Carlos Carvalho Cavalheiro

15.08.2016

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