sábado, 30 de outubro de 2010
Histórias sobre Saci
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
O amigo do Zorro é o Tonto?
Há uma confusão proposital entre dois personagens de ficção: o Zorro e Lone Ranger (Cavaleiro Solitário). Na realidade o Tonto é o companheiro desse último.
O fato de Lone Ranger utilizar uma máscara semelhante ao do Zorro e sendo este já conhecido do público brasileiro, achou-se por bem denominá-lo também de Zorro. Eis ai a confusão. Para vender mais fácil um “produto” utilizou-se do rótulo de outro com maior fama e de mercado garantido.
Ambos os personagens, adaptados para o cinema, filmes, séries e histórias em quadrinhos, afora a máscara, são diferentes entre si.
Criado por Johnston Mc Culey (The Zorro Stories) o Zorro, serviu de base para, entre outras, a famosa adaptação em série de TV com Guy Willians no papel principal. A história passa-se provavelmente no começo do XIX já que tem como cenário a cidade de Los Angeles ainda pertencente à Espanha (somente em 1822 o território da Nova Espanha, hoje México, tornou-se independente). Contra as injustiças e arbitrariedades da administração colonial espanhola na América, Don Diego De La Vega com roupas negras, mascara e espada em punho transformava-se no Zorro aplicando a justiça. Como suas ações eram em geral noturnas ou a lugares pouco iluminados a cor de sua roupa servia de camuflagem. Isto também ocorria com seu cavalo de nome tornado. O Zorro era no conceito das autoridades um fora da lei, espécie de Robin Hood moderno.
Já o Lone Range, personagem criado por Geo. W. Trendle para dramatização em rádio (como novela de rádio, creio, ao estilo do nosso Jeronimo, o herói do sertão), além de ser reconhecido das autoridades (militares da cavalaria, xerifes, delegados...) como um combatente ao crime, pertencia ao século XIX, quando a conquista do oeste estadunidense já estava efetivada. Há portanto, além de tudo uma defasagem cronológica considerável entre um e outro personagem. Na década de 40 o Lone Ranger foi interpretado por Clayton Moore e o Tonto por Jay Silverheels. A série durou 9 anos. O Cavalo do Lone Ranger era o Silver (prata em inglês) de cor branca. Lembram-se do grito “Hi-yo Silver”?
O índio Tonto, responsável por várias anedotas aqui no Brasil pelo fato de seu nome ser, em português, sinônimo de tolo, idiota, ..., é portanto companheiro do Cavaleiro Solitário (Lone Ranger) a quem ele chama Kemosabe - amigo fiel em sua língua. O do Zorro é um rapaz mudo que se faz passar também por surdo cujo nome é Bernardo (em outras versões, Miguel).
Não se trata, definitivamente do mesmo personagem. Aliás, há outros mascarados similares como El Coyote (com trajes mexicanos), o Durango Kid, o Black Diamond, Cavaleiro Negro,..., mas nem todos são o Zorro e nem todos têm o Tonto como amigo!
VOCÊ CONHECE ALTINÓPOLIS?
Surgida em 1865 com a cultura do café essa pequena cidade do nordeste paulista (região de Ribeirão Preto) é hoje um atrativo turístico para quem procura o sossego do interior e natureza exuberante.
Em janeiro há o famoso e tradicional encontro de Folias de Reis, evento em que se reúnem Companhias de Reis de todas as partes do Brasil. A população da cidade (que é de cerca de 14 mil habitantes) chega a dobrar ou triplicar nesse período devido os visitantes. Concebido pelo senhor Antônio Frigheto, hoje o Encontro de Folias é organizado pelos seus filhos Ana e Ronaldo.
A cidade conta ainda com belíssimas esculturas do artista plástico Bassano Vaccarini no Jardim das Esculturas, logo na entrada de Altinópolis. São cerca de 41 esculturas em 07 monumentos que exaltam a mulher. Há ainda, como atrações da cidade, a Antiga Estação Ferroviária (hoje Centro de Informações Turísticas), o Mirante (que oferece vista de 360 graus, podendo visualizar dezenas de cidades vizinhas), o Parque da Lagoa (com seu espelho d'água e área de recreação), a capela de José Venâncio de Azevedo Leal (fazendeiro morto pelo famoso bandido Dioguinho em 1895) na antiga Estrada para Batatais.
Altinópolis é considerada um verdadeiro santuário ecológico do nordeste paulista. De clima agradável, povo hospitaleiro e gentil, a cidade conta com 10 grutas e 35 cachoeiras, além de trilhas e caminhos. A Cachoeira do Humaitá possui um escorregador natural de sete metros de altura e grande piscina natural. A cachoeira do Esmeril impressiona pela grandeza do volume de água de sua queda de 60 metros de altura. No Vale do Itambé encontra-se a gruta e cachoeira do mesmo nome. Na parte interna da gruta há um belíssimo espelho d'água. Há 355 metros de galerias nessa gruta.
A Cachoeira do Itambé, assim com a do Esmeril, tem sua queda d'água de 60 metros de altitude. Altinópolis conta ainda com o Morro da Mesa e o do Forno, onde é possível realizar caminhadas e explorar pequenas grutas.
Para quem gosta de pescaria existe também o Pesqueiro do Felipe (Km 334 da Estrada Altinópolis-Cajuru), aberto de sexta a domingo.
Hospedar-se em Altinópolis ainda não é muito tranqüilo. Para quem procura sofisticação o mais indicado é hospedar-se em Ribeirão Preto. No entanto, para as pessoas que não se importam em hospedar-se em local mais simples, porém limpo, existe o Hotel Marajoara (Praça da Matriz - Centro - tel.: 016 665 0255). Há pousadas como a São João da Mata (Centenária fazenda de café - tel.: (016) 665 0216), o Recanto Tia Ana (com lago para pesca - tel.: (016) 761 2601), o Sítio Oyo Veyo (Tel.: (016) 665 0373), a Estância Camegus (Casa com 4 quartos. Tel.: (016) 665 2066), a Pousada Humaitá (com cachoeira. (016) 633 1463), e a Estância Maranata (Tel.: (016) 665 1223).
História do Banditismo Paulista
Altinópolis foi visitada muitas vezes pelo famoso bandido paulista Dioguinho, morto em 1897 durante a perseguição da polícia. Por ser uma região cafeeira, muitos fazendeiros utilizavam-se dos "serviços" do bandido Dioguinho para resolverem contendas políticas.
Hoje, passado mais de cem anos, a fama de Dioguinho continua viva na memória do povo Altinopolense. Nada raro é encontrar quem conheça suas histórias. O hospitaleiro, atencioso e gentil povo de Altinópolis não mede esforços para saciar nossa curiosidade acerca desse personagem que já foi tema de livros, teses de mestrado e filmes. O médico aposentado José Barbosa é um desses cidadãos que conhece bem essa fase da história paulista. Outro estudioso e historiador de Altinópolis é o senhor Oldemar Brondi, incansável pesquisador da história de Altinópolis e do Dioguinho. Foi ele quem descobriu onde havia a capela do José Venâncio de Azevedo Leal, morto em tocaia pelo Dioguinho. O senhor Lysias, secretário do turismo, é outro preocupado com a história e do desenvolvimento turístico de Altinópolis.
Outro ilustre personagem nascido em Altinópolis foi o escritor José Guedes de Azevedo. Muito embora poucos o conheçam naquela cidade, José Guedes foi, além de escritor, prefeito de Bauru e diretor do famoso colégio Guedes de Azevedo, também da cidade de Bauru.
No entanto é raro encontrar um prédio centenário em Altinópolis. Quase toda a antiga cidade deu lugar a uma outra, nova e moderna.
Como chegar
Em São Paulo, na estação rodoviária do Tietê, saem ônibus diários (às 18 horas) da viação Nasser. Altinópolis dista 340 km da Capital paulista.
De automóvel, em direção a Ribeirão Preto (50 km depois dessa cidade).
Há vôos da TAM (Congonhas) e RioSul (Cumbica) para Ribeirão Preto.
Carlos Carvalho Cavalheiro
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
O Turismo (possível) em Sorocaba
O Turismo (possível) em Sorocaba - Parte I.
No ano de 2002 a Prefeitura Municipal de Sorocaba em parceria com dez hotéis e três instituições educacionais da cidade realizaram a Pesquisa de Demanda Turística, divulgada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SEDE) no site oficial do Paço. Uma das conclusões da pesquisa é a forte vocação de Sorocaba para o turismo de negócios.
Sem desmerecer a pesquisa, nem questionar a metodologia empregada e muito menos discordar radicalmente da conclusão chegada, é importante que se compreenda que Sorocaba possui potencial turístico para outras atividades que não a de negócios. Forte vocação não é fator excludente de outras vocações. Pode-se mesmo aventar que o resultado da pesquisa traduza a ânsia da classe dominante sorocabana em criar uma representação ideológica que acabe por apagar os resquícios de um passado, de uma identidade cultural de Sorocaba. Isso justificaria a falta de investimento para o desenvolvimento do turismo ligado às tradições tropeiras, por exemplo. Não é concebível que uma cidade como Sorocaba não aproveite esse potencial, levando-se em conta, ainda, que a região produz atrativos nessa área e Sorocaba poderia funcionar como fornecedora de infra-estrutura (hospedagem, opções de lazer, compras...), aproveitando sua rede hoteleira, os bares, shoppings, lanchonetes. Sorocaba perdeu a oportunidade de desenvolver o turismo ecológico, o turismo histórico e perde, dia a dia, outras oportunidades.
Provavelmente, um dos setores que vem sendo pouco atendido é o do turismo religioso. Esse segmento recebeu especial atenção da Secretaria de Estado de Esportes e Turismo, na primeira gestão do governador Geraldo Alckmin, merecendo a publicação de um Guia do Roteiro da Fé. Na apresentação do Guia, a mensagem do Secretário Marcos Arbaitman deixa claro que a opção pelo desenvolvimento do turismo religioso é por ser esta uma “atividade econômica geradora de novos postos de trabalho e renda”, melhorando a qualidade de vida da comunidade. Por uma infeliz coincidência, Sorocaba está excluída desse Guia. Não há uma sequer referência a festa ou manifestação de cunho religioso existente na cidade.
E por quê? Por falta de opção para desenvolver o turismo religioso? Não pode ser. Sorocaba possui o segundo templo, em antiguidade, dedicado a Nossa Senhora Aparecida. No bairro de Aparecidinha, onde está localizada essa igreja, há um fluxo de romarias intenso. No começo do ano, a imagem de Nossa Senhora sai do seu altar em procissão até a Catedral, onde permanece por seis meses e retorna ao bairro de origem, como nova romaria. Em novembro, dia 15, sai a Romaria da Penitência, da Catedral até a igreja de Aparecidinha. E, ainda, um domingo por mês, um grupo de romeiros realiza a mesma caminhada partindo da Avenida São Paulo. Isso sem a menor infra-estrutura (ruas de terra em péssimo estado, falta de hospedarias e atendimento médico, precário sistema de transporte, escassez de restaurantes e lanchonetes; falta de atrações outras e de exploração de artesanato religioso). Mesmo assim, o resultado é o afluxo de milhares de fiéis. O que não seria se houvesse um turismo racional e organizado? A própria comunidade seria beneficiada, pois poderia vender os mais diversos artesanatos com etiquetas indicando sua procedência: Aparecida de Sorocaba.
A segunda igreja de Nossa Senhora Aparecida do Brasil (e do mundo)! Qual maior apelo turístico do que esse?
Outro exemplo: A Festa de São Benedito, que ocorre nos primeiros dias de janeiro, na Igreja do Bom Jesus dos Aflitos. É uma das maiores festas dedicadas ao Santo Negro do Estado de São Paulo. Quem testemunha isso? A Rainha Congo de São Paulo, que no último Revelando São Paulo , comentou que a Festa de Sorocaba está entre as mais belas e concorridas homenagens a São Benedito. E a Rainha participa das principais!
E o que falar de João de Camargo, o negro milagreiro da Igreja do Bairro da Água Vermelha. Sua fama corre por todo o Brasil e já é tema do filme de Paulo Betti, Cafundó. Tanto a sua Igreja como o seu túmulo, especialmente no dia de Finados, recebem um número fabuloso de visitas de fiéis à procura de um milagre ou somente para conhecer o afamado templo. E o que se tem feito para receber (bem) esses turistas? E para divulgar esse atrativo turístico?
E a Folia de Reis da Vila Formosa? Todo ano saindo em jornada (a partir de outubro) e realizando em janeiro a Festa de Santos Reis, esse grupo folclórico-religioso cumpre a saga dos Três Reis do Oriente, que visitaram o menino Jesus logo após o seu nascimento. Fé e devoção que atrai muitos. Mas, o que se tem feito para divulgar essa manifestação com vistas ao turismo religioso?
A Menina Julieta, santinha de Sorocaba; o Monge do Ipanema; Monsenhor João Soares do Amaral... Tantos apelos para o desenvolvimento do turismo religioso em Sorocaba.
É sintomático que a pesquisa de demanda turística, comentada no início deste artigo, tenha chegado também a uma outra conclusão: Atrativos do município precisam ser melhor divulgados. E se divulgados, devem ainda merecer atenção das políticas públicas relativas ao desenvolvimento do turismo na cidade. O turista deve ser bem informado e bem atendido. Caso contrário, perderemos a chance de desenvolver outros segmentos do turismo.
Carlos Carvalho Cavalheiro.
08.11.2005.
O Turismo (possível) em Sorocaba - Parte II.
Na primeira parte deste artigo comentou-se sobre a Pesquisa de Demanda Turística de 2002 que aponta para Sorocaba a opção pelo turismo de negócios. A partir dessa conclusão da pesquisa, procurou-se ampliar o debate sobre as outras possibilidades de desenvolvimento do turismo na cidade, mencionando o descaso com que vem sendo tratado o turismo religioso.
Sorocaba possui, redundando os argumentos do artigo anterior, diversos apelos turísticos voltados a diversas manifestações religiosas, quer sejam de cunho católico, místico, espiritualista ou mesmo de crenças populares. Veja, por exemplo, o caso da Encenação da Paixão de Cristo em Vila Assis. Todo ano milhares de pessoas se reúnem para assistir a esse espetáculo de fé e dramaturgia, sendo talvez o maior espetáculo teatral a céu aberto de toda a região. Apoio, divulgação, infra-estrutura? Quase nada. No Parque Vitória Régia a Encenação da Paixão de Cristo passa por semelhantes dificuldades, se não maiores.
Entretanto, Sorocaba detém outras qualidades que poderiam angariar turistas. O folclore peculiar do Médio Tietê, região da qual Sorocaba faz parte, poderia estar sendo evidenciado e enaltecido através de Festivais, como o de Olímpia ou mesmo o Revelando São Paulo na capital.
O cururu, repente paulista encontrado somente nesta região, ao lado das Festas e Folias do Divino Espírito Santo, representa o que há de mais característico no folclore do Médio Tietê. E o folclore regional não fica só nisso: contadores de causos e mentiras, dança de São Gonçalo, catira, fandango de tamancos e de chilenas, Folia de Reis, Congadas, Folia de São Sebastião, violeiros, Caninha Verde, Recomenda das Almas, samba caipira, Cordão dos Bichos, jogo de truco, terço cantado, benzeduras, romarias e procissões... Tudo isso a região produz.
As cidades que se dispuseram a apostar na criação de festivais e encontros de folclore tiveram experiências muito gratificantes. Altinópolis, localizada na região de Ribeirão Preto, criou há algumas décadas o Encontro de Folias de Reis. A população que é de cerca de 14 a 15 mil habitantes, duplica nos dias do Encontro. A Prefeitura Municipal oferece a infra-estrutura (palcos, som, iluminação, material de divulgação...) e uma Associação realiza o evento. É certo que há um acanhado investimento em hospedarias. Porém, no geral, a festa acontece com sucesso. Em Olímpia, com o Festival de Folclore, a realidade é a mesma. Este ano a cidade realizou o seu 40º Festival. Grupos folclóricos de todos os estados brasileiros se apresentaram em Olímpia e a programação contou ainda com a realização de Seminário, de peregrinação pela cidade, gincana de brinquedos tradicionais infantis. Sorocaba é uma das poucas cidades que não participam do Festival.
Na cidade de Embu, a Prefeitura Municipal resolveu intervir na Festa de Santa Cruz, que estava em vias de extinção. Auxiliou os fiéis e ofereceu infra-estrutura. No primeiro ano da Festa foi necessário que os remanescentes de grupos de devotos de Santa Cruz se juntassem para formar um só grupo.Isso em 2001. Hoje,a cidade já conta com três grupos de adoradores de Santa Cruz. E a Festa não se resume a isso: apresentação de diversos grupos folclóricos e para-folclóricos, realização de debates, exposição.
Qual a vantagem em investir em turismo folclórico? Além do retorno financeiro o turismo voltado a festivais de folclore contribui para a valorização, conhecimento e reconhecimento da identidade cultural do brasileiro, aumentando a auto-estima dos participantes dos diversos grupos folclóricos, auxiliando assim na preservação de nossas tradições. Não fosse pelo aspecto econômico de geração de renda para o município, o investimento em turismo voltado para o folclore traz um retorno no aspecto da cidadania. Portanto, mesmo que não gerasse lucro, os festivais de folclore deveriam existir por atender às obrigações legais do Poder Público: zelar pela cultura, pela identidade cultural, pelo patrimônio imaterial e pela cidadania. Quanta vantagem, então, para o Poder Público em cumprir o seu dever e ainda obter receita para o município. Fica a pergunta: Por que não se investe nesse segmento do turismo?
Carlos Carvalho Cavalheiro.
09.11.2005.