Dando prosseguimento ao artigo
publicado no último número do jornal Tribuna
das Monções inicio discorrendo sobre a necessidade do mapeamento cultural
da cidade. A questão é bastante óbvia: como desenvolver um Plano de Gestão
Cultural se não se conhece a realidade da produção da cidade? O mapeamento é
desnecessário quando não se tem a pretensão de produzir um Plano de Gestão, uma
Política Pública e quando enxerga o Poder Público como o promotor de eventos
artísticos que “leva cultura” a quem não a possui (como se isso fosse
possível).
Para quem se propõe a tratar a
Cultura com a seriedade que ela exige, o mapeamento das atividades culturais é
essencial e imprescindível. Não importa se a cultura que se desenvolve em
determinada localidade do município é de caráter folclórico, popular, erudito
ou mesmo de massa. O que importa é conhecer o que se produz e onde se produz.
Exemplos factuais: Em São Paulo ocorre anualmente um evento relacionado ao
folclore paulista chamado “Revelando São Paulo”. Nesse evento, grupos
folclóricos de diferentes regiões de São Paulo ganham visibilidade, autoestima
e oportunidade de trocas de experiências e vivências. Esse trabalho, cujo
resultado pode ser visto no documentário “São Paulo, corpo e alma”, produzido
pela Associação Cachuera!, vem sendo realizado há 16 anos. Em Porto Feliz há
dançadores de São Gonçalo, uma das danças mais tradicionais do solo paulista.
Nunca foram ao “Revelando São Paulo”! É provável, pelo que tenho verificado,
que muitos nem sabem da existência desses devotos de São Gonçalo do Amarante.
No entanto, se existisse um mapa cultural da cidade...
Outro evento, que ocorre
bienalmente, mas de importância para a cultura dos municípios paulistas é o
“Mapa Cultural Paulista”. Trata-se de um programa promovido pela Secretaria de
Estado da Cultura e que realiza, como num festival, etapas de seleção de
expressões artísticas (Teatro, Dança, Artes Visuais, Canto Coral, Música
Instrumental, Literatura e Vídeo), premiando os selecionados na Fase Estadual e
fazendo circular os seus produtos artísticos. Segundo o site do Mapa Cultural
Paulista, trata-se de “uma das mais importantes políticas culturais do Estado
de São Paulo do ponto de vista formativo, informativo e de circulação de
artistas do interior do Estado. Nenhum estado brasileiro possui um programa
parecido, podendo tornar-se referência nacional. Criado em 1995, tem o objetivo
de fomentar as produções culturais do interior, revelando valores em segmentos
que não teriam acesso aos meios de comunicação e com pouca visibilidade no meio
cultural”. A simples divulgação da abertura do processo seletivo tem se
mostrado ineficaz para que haja um número significativo de inscrições nesse
Programa. E não estou falando especificamente de Porto Feliz. Só para citar um
exemplo, Sorocaba, que possui cerca de 600 mil habitantes, teve pouco mais de
uma dezena de inscritos e apenas 8 (oito) selecionados na Fase Municipal! O
mapeamento das atividades culturais, aliado à um Plano de Gestão da Cultura,
poderia direcionar o convite direto do Poder Público para os produtores
artísticos. Quantos músicos há na cidade? Quantos artistas plásticos,
cineastas, fotógrafos, cantores, literatos?
Tenho por certo que o mapeamento
das atividades culturais é a base para o desenvolvimento de Política e Plano de
Gestão Cultural. Lembrando que Cultura não se restringe a atividades
artísticas. Nesse sentido, a tradicional Festa de São Benedito, que ocorre
atualmente em janeiro, é um evento religioso e cultural, mas não artístico.
Mapeado esse evento, pode-se sugerir a sua inclusão, por exemplo, em calendário
de Turismo religioso, como o Estado, vez ou outra, tem imprimido e divulgado.
Sem ferir a sua finalidade, mas
ao contrário, reforçando mesmo a sua função de cooperar com a administração
municipal, especialmente no tocante a orientação e planejamento, o Conselho de
Cultura pode propor e ajudar a criar o Mapeamento das Atividades Culturais do
município de Porto Feliz. Conhecendo tais atividades, pode-se propor, num
segundo momento, ações e planejamentos para o desenvolvimento da produção
cultural porto-felicense.
(Continua)
Carlos
Carvalho Cavalheiro – 16.12.2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário