segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um Conselho para a Cultura (II)


                Dando prosseguimento ao artigo publicado no último número do jornal Tribuna das Monções inicio discorrendo sobre a necessidade do mapeamento cultural da cidade. A questão é bastante óbvia: como desenvolver um Plano de Gestão Cultural se não se conhece a realidade da produção da cidade? O mapeamento é desnecessário quando não se tem a pretensão de produzir um Plano de Gestão, uma Política Pública e quando enxerga o Poder Público como o promotor de eventos artísticos que “leva cultura” a quem não a possui (como se isso fosse possível).
                Para quem se propõe a tratar a Cultura com a seriedade que ela exige, o mapeamento das atividades culturais é essencial e imprescindível. Não importa se a cultura que se desenvolve em determinada localidade do município é de caráter folclórico, popular, erudito ou mesmo de massa. O que importa é conhecer o que se produz e onde se produz. Exemplos factuais: Em São Paulo ocorre anualmente um evento relacionado ao folclore paulista chamado “Revelando São Paulo”. Nesse evento, grupos folclóricos de diferentes regiões de São Paulo ganham visibilidade, autoestima e oportunidade de trocas de experiências e vivências. Esse trabalho, cujo resultado pode ser visto no documentário “São Paulo, corpo e alma”, produzido pela Associação Cachuera!, vem sendo realizado há 16 anos. Em Porto Feliz há dançadores de São Gonçalo, uma das danças mais tradicionais do solo paulista. Nunca foram ao “Revelando São Paulo”! É provável, pelo que tenho verificado, que muitos nem sabem da existência desses devotos de São Gonçalo do Amarante. No entanto, se existisse um mapa cultural da cidade...
                Outro evento, que ocorre bienalmente, mas de importância para a cultura dos municípios paulistas é o “Mapa Cultural Paulista”. Trata-se de um programa promovido pela Secretaria de Estado da Cultura e que realiza, como num festival, etapas de seleção de expressões artísticas (Teatro, Dança, Artes Visuais, Canto Coral, Música Instrumental, Literatura e Vídeo), premiando os selecionados na Fase Estadual e fazendo circular os seus produtos artísticos. Segundo o site do Mapa Cultural Paulista, trata-se de “uma das mais importantes políticas culturais do Estado de São Paulo do ponto de vista formativo, informativo e de circulação de artistas do interior do Estado. Nenhum estado brasileiro possui um programa parecido, podendo tornar-se referência nacional. Criado em 1995, tem o objetivo de fomentar as produções culturais do interior, revelando valores em segmentos que não teriam acesso aos meios de comunicação e com pouca visibilidade no meio cultural”. A simples divulgação da abertura do processo seletivo tem se mostrado ineficaz para que haja um número significativo de inscrições nesse Programa. E não estou falando especificamente de Porto Feliz. Só para citar um exemplo, Sorocaba, que possui cerca de 600 mil habitantes, teve pouco mais de uma dezena de inscritos e apenas 8 (oito) selecionados na Fase Municipal! O mapeamento das atividades culturais, aliado à um Plano de Gestão da Cultura, poderia direcionar o convite direto do Poder Público para os produtores artísticos. Quantos músicos há na cidade? Quantos artistas plásticos, cineastas, fotógrafos, cantores, literatos?
                Tenho por certo que o mapeamento das atividades culturais é a base para o desenvolvimento de Política e Plano de Gestão Cultural. Lembrando que Cultura não se restringe a atividades artísticas. Nesse sentido, a tradicional Festa de São Benedito, que ocorre atualmente em janeiro, é um evento religioso e cultural, mas não artístico. Mapeado esse evento, pode-se sugerir a sua inclusão, por exemplo, em calendário de Turismo religioso, como o Estado, vez ou outra, tem imprimido e divulgado.
                Sem ferir a sua finalidade, mas ao contrário, reforçando mesmo a sua função de cooperar com a administração municipal, especialmente no tocante a orientação e planejamento, o Conselho de Cultura pode propor e ajudar a criar o Mapeamento das Atividades Culturais do município de Porto Feliz. Conhecendo tais atividades, pode-se propor, num segundo momento, ações e planejamentos para o desenvolvimento da produção cultural porto-felicense.

(Continua)

Carlos Carvalho Cavalheiro – 16.12.2013

               
               


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