sábado, 30 de julho de 2016

“Encantaria”




            Das vantagens de se participar de um Festival nacional, a maior delas deve ser a oportunidade de contato com pessoas de várias regiões do Brasil. Não é segredo que participei no mês de novembro do FEMUP, Festival de Música, Poesia e Conto de Paranavaí, cidade do interior do Paraná. O fato já foi alvo de nota nesta Tribuna das Monções.
            Obviamente que a premiação é importante enquanto materialização do reconhecimento do trabalho intelectual que realizamos. Disputar um lugar entre centenas de inscritos é uma forma – talvez não a melhor, mas mesmo assim uma forma – de avaliar como o seu trabalho é visto e reconhecido por outros. Mas a sensação de troca que se estabelece na amizade decorrente da convivência naqueles dias de Festival é imensurável. Conheci muita gente, pessoas de todos os cantos do Brasil. Conheci pessoas como o musicopoeta Ronildo Prudente, de Três Corações (MG); o cordelista Felipe Junior, de Pernambuco (e que anda por aqui, bem perto de nós, em Boituva, por esses dias); o poeta e músico Alfred’ Moraes, de Belém do Pará; o poeta e escritor (e também professor de História) William Santos, de Goiânia; o escritor Lauro Elme, de Praia Grande (litoral paulista); o poeta e professor de Filosofia Rodrigo Petit (de Sorocaba); os escritores Renato Benvindo Frata e José Aparecido Cauneto, bem como o ator José Valdir e a diretora de teatro Rosi Sanga, todos estes de Paranavaí, no Paraná; os músicos Robertho Azis e Ronald Saar cariocas radicados na cidade de Entre Rios, Minas Gerais; o músico Edu Asaf, de Sobral, no Ceará, e a cantora e compositora Ana Paula Cavalcante, que nasceu no Rio de Janeiro, mas vive atualmente em Palmas, no Tocantins.
            Conheci muito mais pessoas e a lista seria muito maior do que o espaço que disponho nesta coluna. Mas queria chamar a atenção para o trabalho de Ana Paula Cavalcante, que assina profissionalmente como Anapaula. Quero falar especialmente de um de seus trabalhos, o CD “Encantaria”, dedicado a músicas ciganas. Com exceção da primeira faixa, todas as demais são de sua autoria, o que revela o talento de compositora e, ousaria dizer, de poeta.  O que dizer de versos como estes: “Indivíduo é produto da história / Esses tempos que apagam memórias / Pra confiar somente em si próprio / Pra ser pecado envelhecer” ?  Ou, então, estes: “Nós somos o que somos / Somos pequeninos / Somos tão grandes / Se juntos semeamos sonhos” ? São versos permeados de poesia, sem dúvida alguma. Se não fossem musicados, dariam, ainda assim, belos e bem construídos poemas, com imagens e metáforas ricas e mensagens verdadeiras.
            Resolvi falar desse trabalho porquanto estou aqui e agora, numa manhã de domingo, podendo apreciar com cuidado esse trabalho. Por falta de tempo e outros percalços, não pude apreciar antes o CD “Encantaria”, tão gentilmente ofertado pela sua autora.
            Anapaula não é uma artista de uma só vertente musical. Possui trabalhos gravados em diversos ritmos, como a MPB, e defendeu no FEMUP um samba. Esse trabalho eclético, talvez, ainda não tenha imprimido uma marca única na artista. Por outro lado, demonstra a versatilidade dela, que não se acovarda diante dos desafios de mostrar aquilo que lhe apraz como produção artística. Não tem rótulos e não precisa deles. É assim, simples e direta, como deve ser, e incisiva na direção em que a sua inspiração aponta. Enfim, uma artista em todos os sentidos.


Carlos Carvalho Cavalheiro
06.12.2015

            

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