Fonte da Imagem: https://estrangeira.wordpress.com/2016/02/11/agenor-duque-um-neofito-no-universo-neopentecostal/
Certamente, alguns poderão
argumentar que a Teologia da Prosperidade está, de fato, de acordo com os
ensinamentos bíblicos. Por exemplo, a própria Bíblia diz que Jesus afirmou: “eu
vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo. 10.10). Então, como é
que fica? Ter vida em abundância não é viver com o que é além do necessário
para uma vida digna? Não é viver com riqueza material e financeira?
A vida em abundância, aqui tratada,
é a vida eterna com Jesus. No Evangelho de João, capítulo 5, versículos 39 e
40, Jesus esclarece que os homens de sua época examinavam “as Escrituras,
porque vós [eles] cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim
testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida”.
A mensagem é espiritual, portanto.
Não é um chamamento para o “paraíso” na Terra. Nem mesmo para que se tenha
excesso de bens materiais e financeiros, a despeito das condições de vida das
outras pessoas. O Reino não é deste mundo! (Jo. 18.36). Ao contrário, o verdadeiro
cristão doa o que tem em benefício de outrem. Os cristãos primitivos, por
exemplo, vendiam todos os seus bens e repartiam entre si o que tinham e
dividiam o dinheiro com todos “de acordo com a necessidade de cada um” (At.
2.44 – 46). Qual a justificativa para dizer que os cristãos atuais são
“melhores” do que os primeiros? Por que aqueles pioneiros deveriam vender suas
propriedades e repartir com todos, enquanto que os atuais precisariam apenas se
preocupar em enriquecer?
Uma
das passagens deveras citadas pelos adeptos da Teologia da Prosperidade com o
intuito de afirmar a coadunância com o texto bíblico está em Malaquias: “Trazei
o dízimo todo à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e
provai-me nisto, diz Jeová dos exércitos, se não vos abrir eu as janelas do
céu, e não derramar sobre vós uma bênção até que não haja mais lugar para a
recolherdes” (Malaquias 3.10). O texto é
bastante apropriado, porquanto traz em seu bojo a idéia da compensação, ou
seja, as bênçãos de Deus serão de acordo com a entrega do dízimo. Dessa forma,
a arrecadação das instituições tende a ser altas na medida em que os fiéis são
estimulados a colaborar para receber algo em troca. No entanto, do ponto de
vista teológico, o problema maior aqui reside no fato de ser uma citação do
contexto do Velho Testamento. O Livro de Hebreus ensina categoricamente que a
Lei (Antigo ou Velho Testamento) foi substituída pelo Novo Testamento (ou Nova
Aliança) e que, por isso, as dádivas e sacrifícios oferecidos aos sacerdotes,
de acordo com a Lei (Antigo Testamento) “é cópia e sombra das realidades
celestes” (Hb. 8.1 – 5). E o mesmo texto acrescenta: “Possuindo apenas a sombra
dos bens futuros, e não a expressão própria das realidades, a Lei é totalmente
incapaz, apesar dos mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a
cada ano, de levar a perfeição aqueles que deles participam” (Hb. 10.1). Em
suma, o que trata da Lei (Antigo Testamento) não serve de parâmetro para quem
vive (ou diz viver) dentro da Nova Aliança. Buscar uma referência no Antigo
Testamento para justificar uma idéia atual é o mesmo que apoiar o apedrejamento
de mulheres consideradas adúlteras só porque consta na Lei mosaica!
Igrejas
superlotadas também não são sinais de benção e muito menos a simples
proclamação de que Jesus é Senhor são suficientes para identificar uma igreja
como verdadeiramente cristã (no sentido teológico). “Nem todo aquele que me
chama “Senhor, Senhor” entrará no Reino do Céu, mas somente aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está no céu” (Mt. 7.21). E qual é a vontade do Pai?
Sobre o final dos tempos, mais uma vez, Jesus afirmou que muitos ficarão
surpresos em serem condenados porque deixaram de ajudar as pessoas mais
humildes e necessitadas (Mt. 25.31 – 46). Por isso, afirma Jesus, que muitos
são chamados, mas poucos escolhidos (Mt. 22.14). Sentar no banco de um templo
ou igreja não garante a salvação. Ser chamado, ou seja, ouvir a palavra não é
garantia de salvação. A garantia está na prática daquilo que se ouve. A
figueira que não dá frutos é inútil.
Tiago
também condena a sede de riqueza que faz com que as pessoas se desviem do
objetivo principal que é a reconciliação com Deus. No capítulo 5 de seu livro,
Tiago diz que aqueles que viveram deliciosamente sobre a terra, se deleitando
com as riquezas, irão, depois, chorar e prantear sobre as misérias que hão de
vir (Tg. 5). As riquezas estarão apodrecidas, as vestes comidas de traças e
ouro e prata estarão enferrujados dando testemunho contra aqueles que se
fascinam pelas riquezas materiais e financeiras (Tg. 5). A mesma mensagem de
Cristo que no Sermão da Montanha pediu para que não acumulasse tesouros que
seriam corroídos pelo tempo (Mt. 6). É por isso, também, que o Cristo falou da
dificuldade de um rico entrar no reino dos céus (Mt. 19.23 – 24). E, ainda,
lamentou-se dizendo: “Ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação”
(Lc. 6.24).
Aquele,
pois que quiser, continue buscando com ansiedade a riqueza material. Mas saiba
que já teve a sua recompensa. Ganhou o mundo todo, mas perdeu a sua alma (Mc.
8.36).
Carlos Carvalho Cavalheiro
04.01.2015.
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