sábado, 30 de julho de 2016

Sobre a Teologia da Prosperidade (I)



Fonte da Imagem: https://afeexplicada.wordpress.com/2015/08/29/mentes-manipuladas-pela-teologia-da-prosperidade/


            Dados do Censo do IBGE apontam um substancial crescimento das igrejas cristãs chamadas genericamente de evangélicas. Em dez anos o número de evangélicos no Brasil saltou de pouco mais de 26 milhões de brasileiros para quase 43 milhões, o que representa um aumento de 61,45% (IBGE, 2010). Esses dados foram divulgados em 2012, embora se referissem ao Censo de 2010.
            Curiosamente, no senso comum, quando se fala em “evangélico” a primeira associação que se faz é com o televangelismo, iniciado na década de 1980, e que tem como principal sustentáculo a chamada Teologia da Prosperidade ou Evangelho da Prosperidade (ou ainda, Confissão Positiva, Palavra da Fé, Movimento da Fé, Evangelho da Saúde e da Prosperidade, entre tantos outros). No entanto, os dados do IBGE mostram que dentre as igrejas evangélicas que mais adeptos possuem, as que ocupam os três primeiros lugares não são, a princípio, igrejas fundamentadas nesse modelo de Teologia. O site Evangelização.blog.br aponta a liderança disparada da Igreja Assembléia de Deus que conta com mais de 12 milhões de membros, seguida da Igreja Batista que contabiliza mais de 3 milhões de fiéis e da Congregação Cristã com 2,3 milhões.
            Mas o que é a Teologia da Prosperidade? Segundo a Wikipedia, a Teologia da Prosperidade é uma “doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a , o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel”. O mais conhecido – e, talvez, o maior – divulgador dessa doutrina foi Kenneth Erwin Hagin que, segundo consta em suas biografias amplamente divulgadas, teria sido curado de um problema cardíaco quando interpretou a passagem de Marcos 11.23-24 com o sentido de que a fé deveria ser liberada a partir do pronunciamento das palavras, pois o próprio texto assinalava a presença maior do verbo “dizer” o que o verbo “crer”: “Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis”. No entanto, as idéias de Hagin sobre a fé liberada ou confissão positiva não eram originais. Essek William Kenyon (1867-1948) foi evangelista de origem metodista que defendia a idéia teológica de que “O que eu confesso, eu possuo”. Em verdade, Essek Kenyon criou um sincretismo entre o pentecostalismo e visões metafísicas e místicas advindas de denominações religiosas que freqüentou como a Ciência Cristã.
            No que se funda a Teologia da Prosperidade? Essa Teologia afirma que os que são verdadeiramente fiéis a Deus devem viver em prosperidade, ou seja, em excelente situação financeira, profissional e de saúde. No Brasil, é comum os adeptos dessa Teologia afirmarem que a prosperidade significa riqueza material. Então, o principal motivo para se tornar cristão é a busca pela riqueza material, a cura de doenças e a libertação dos demônios. A salvação da alma..., bom isso fica para depois. O que aparenta ter importância para os adeptos da Teologia da Libertação é o agora, é o viver neste mundo com riqueza financeira e boa saúde para poder usufruir dos benefícios do dinheiro.
            Sem pretender atacar nenhuma denominação religiosa, o que se pretende com este artigo é debater tais conceitos em comparação com a Teologia Bíblica tradicional. De fato, riqueza em si não é pecado. A Bíblia diz que José de Arimatéia, um dos seguidores de Jesus, era rico (Mt. 27.57-58). No entanto, a busca pela riqueza afasta os homens de Deus e, por isso, pode se converter em pecado (aqui no sentido original da palavra “hamartia” ou “hamartano” que significa “errar o alvo”, ou seja, desviar do objetivo de Deus). Sobre isso Jesus disse no Sermão da Montanha: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt. 6.24). E acrescentou que: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. [...] Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua Justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt. 6.25, 33). Também disse Jesus que não deveríamos “ajuntar tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu” (Mt. 6.19). No Evangelho de Lucas, o Nazareno aconselha ao rico para que vendesse tudo o que possuía e distribuísse aos pobres, pois assim teria um “tesouro no céu” (Lc. 18.18 -23). A mensagem central do cristianismo é a regeneração do homem, ou seja, a sua salvação e reconciliação com Deus. No Evangelho de Marcos, Jesus pergunta: “Portanto, de que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc. 8.36).
            O que seria a prosperidade, então, se não for a riqueza material? Parece que prosperidade é ter tudo aquilo que é necessário para uma vida digna. Nem mais, nem menos. Jesus enviou seus discípulos em uma comissão, de dois em dois, e aconselhou que não levassem nada. Em ocasião oportuna, perguntou a esses se algo havia lhes faltado, do que responderam que nada faltara. Portanto, estavam atendidos por Deus em suas necessidades (Lc. 22.35). É o mesmo entendimento de quando, no Sermão da Montanha, Jesus disse dos lírios do campo e da inutilidade da preocupação com os bens materiais (Mt. 6). Aqueles que ostentam riquezas materiais, “já receberam a sua recompensa” (Mt. 6.2). Mesmo as curas extraordinárias não são insígnias dos que verdadeiramente são cristãos. Jesus advertiu que no final dos tempos, muitos dirão a Ele: Senhor, não foi em teu nome que profetizamos, expulsamos demônios e fizemos muitos milagres?. E Jesus apenas responderá: “Nunca vos conheci” (Mt. 7.22 – 23).

Carlos Carvalho Cavalheiro – 04.01.2015.
           



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