segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Preto Pio lutou pela liberdade

Poucos sabem, mas em fins de outubro de 1887 ocorreu uma fuga de escravos na cidade de Capivari / SP. O líder dessa fuga era o escravo conhecido por Preto Pio. Centenas de escravos fugiram das fazendas dessa cidade e também de Porto Feliz e Sorocaba. Foram à pé até a Serra do Cubatão, onde, ocorreu um desentendimento entre Preto Pio e um soldado do exército, resultando na morte de ambos.
A luta do Preto Pio acabou por resultar na recusa do Exército brasileiro em continuar dando caça aos escravos fugitivos e, consequentemente, impulsionou a assinatura da Lei Áurea (13 de maio de 1888) seis meses depois desse episódio.
Preto Pio é o Spartacus e é o Zumbi do Médio Tietê!

Viva a memória do Preto Pio!
"Senhora!
"Os oficiais, membros do Clube Militar, pedem a Vossa Alteza Imperial vénia para dirigir ao Governo Imperial um pedido, que é antes uma súplica... ". . .Esperam que o Governo Imperial não consinta que nos destacamentos do Exército, que seguem para o interior, com o fim, sem dúvida, de manter a ordem, tranqüilizar a população e garantir a inviolabilidade das famílias, os soldados sejam encarregados da captura de pobres negros, que fogem à escravidão, ou porque vivam já cansados de sofrer os horrores, ou porque um raio de luz da liberdade lhes tenha aquecido o coração e iluminado a alma.Senhora! A liberdade é o maior bem que possuímos sobre a terra; uma vez violado o direito que tem a personalidade de agir, o homem, para reconquistá-lo, é capaz de tudo: de um momento, um covarde torna-se um herói; ele, que dantes era a inércia, se multiplica e se subdivide, e, ainda mesmo esmagado pelo peso da dor e das perseguições, ainda mesmo reduzido a morrer, de suas cinzas renasce sempre mais bela e mais pura a liberdade... Impossível, pois, Senhora, esmagar a alma humana que quer ser livre. Por isso, os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos princípios da humanidade, em nome da solidariedade humana, em nome da civilização, em nome da caridade cristã, em nome das dores de Sua Majestade, o Imperador, vosso augusto Pai, cujos sentimentos julgam interpretar e sobre cuja ausência choram lágrimas de saudades, em nome do vosso futuro e do futuro de vosso filho, esperam que o Governo Imperial não consinta que os oficiais e as praças do Exército sejam desviados da sua nobre missão. Eles não desejam o esmagamento do preto pelo branco e não consentiriam também que o preto, embrutecido pelos horrores da escravidão, conseguisse garantir a sua liberdade esmagando o branco. O Exército havia de manter a ordem. Mas, diante de homens que fogem calmos, sem ruído, mas traquilamente, evitando, tanto a escravidão como a luta, e dando, ao atravessar cidades, enormes exemplos de moralidade, cujo esquecimento tem feito muitas vezes a desonra do Exército mais civilizado, o Exército Brasileiro espera que o Governo Imperial conceder-lhe-á o que respeitosamente pede em nome da humanidade e da honra da própria bandeira que defende." 
26 de outubro de 1887

História, Geografia e Semana das Monções

Estamos dentro do período em que se comemora o aniversário da cidade: a Semana das Monções. Inevitável pensar em História e em Geografia nesse momento. Afinal, a saga monçoeira escolheu a cidade de Porto Feliz pelo favorecimento dos aspectos geográficos, como a existência de um “porto” natural e pela navegabilidade do rio Tietê a partir desse local. Além disso, as viagens fluviais até o interior do Brasil, sobretudo para Cuiabá, em busca do ouro é um episódio marcante da História local e regional que reflete na própria História do Brasil como um todo.
            A memória que se produz desse evento histórico é importante elemento na constituição da identidade de Porto Feliz. É um amálgama que une os diversos grupos sociais e étnicos dentro de um aspecto comum. Daí decorre a importância da História e da Geografia que vão alimentar e emprestar argumentos para a fundamentação dessa memória.
            O historiador francês Pierre Nora conceitua os “lugares de memória” como tudo aquilo que serve como transporte de uma reminiscência, desde que para isso haja vontade de transmissão dessa lembrança. É exatamente o que ocorre durante as comemorações da Semana das Monções. Não importa que seja o hasteamento da bandeira, o cantar do hino da cidade, o desfile cívico, a promoção de palestras e estudos ou a encenação teatral... Tudo isso se converte em lugar de memória porquanto existe uma intencionalidade, ou seja, um objetivo que é o de criar uma identidade portofelicense.
            Sendo, portanto, a História e a Geografia, como disciplinas – inclusive no âmbito escolar – importantes em qualquer contexto, mas, sobretudo numa cidade como Porto Feliz, parece ser discrepante o fato de que nessa mesma cidade, dentro do currículo da rede municipal, a jornada seja de apenas duas aulas por semana, quando em todas as outras realidades (como nas escolas estaduais), o número de aulas dessas matérias é superior a isso.
            A primeira justificativa que pode aparecer é a de que na rede estadual a carga horária é maior que a da rede municipal. Enquanto no Estado a carga é de 30 horas semanais, no município é de 25. Portanto, a cada dia da semana há no município uma aula a menos que no Estado.
            No entanto, ainda assim, pela regulamentação da Resolução SE nº 81 de 16 de dezembro de 2011, que estabelece as diretrizes para organização curricular nas escolas estaduais, quando se verifica o Anexo II da referida resolução, percebe-se que na distribuição curricular das disciplinas existe o respeito a uma porcentagem de cada uma na totalidade da formação do educando.
            Dividindo-se, portanto, as aulas de Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo, que são 6 por semana cada, pelo número de aulas semanais, obtêm-se a porcentagem de 20% (30 aulas semanais divididas por 6). Ciências Naturais, História e Geografia deveriam representar 13,3 % e Arte, Educação Física e Língua Inglesa, 6,6%. Isso na rede estadual, com carga semanal de 30 aulas.
            Com a carga de 25 aulas, como ocorre na rede municipal, respeitando-se essa mesma proporcionalidade, as aulas de Língua Portuguesa e Matemática deveriam ser 5 por semana; Ciências Naturais, História e Geografia deveriam ter 3 aulas por semana e Arte, Educação Física e Língua Inglesa, 2 aulas por semana.
            Ocorre que, a despeito disso, as aulas de História e Geografia na rede municipal são apenas 2 por semana. Mesmo contra toda a lógica, mesmo com a importância que ambas as disciplinas têm na formação do educando, e, acima de tudo, pelo significado que ambas possuem na formação da identidade e da cidadania portofelicense. Quem souber a resposta que nos conte.


Carlos Carvalho Cavalheiro

10.10.2016

Eleições Municipais de 2016

Encerrou-se no domingo, dia 30 de outubro, o último episódio das eleições municipais deste ano. Como era de se esperar, pelo desgaste político dos últimos acontecimentos, a sigla do PT parece ter sido a que mais angariou perdas nestas eleições.
            De acordo com o site G1 (da Globo), o PT não conseguiu conquistar nenhuma das 7 prefeituras a que concorria em 2º turno. Por outro lado, encolheu pouco mais de 94% nas prefeituras de cidades grandes, com mais de 200 mil habitantes. Em 2012, o PT elegeu 17 prefeitos em cidades desse porte. Em 2016, apenas 1.
            O desempenho geral nas outras cidades também não foi dos melhores: de 638 municípios em 2012, o partido reduziu sua presença no Executivo para 254, uma redução de pouco mais de 60%.
            O PSol apresentou-se como alternativa de esquerda nestas eleições, mas não teve um desempenho esperado. Apesar de ter elegido 53 vereadores este ano (em 2012 foram 49), só conseguiu eleger 2 prefeitos em cidades pequenas: Janduís e Jaçanã, ambas no Rio Grande do Norte. Com isso, manteve o mesmo número de prefeitos eleitos em 2012. Dos 53 vereadores do PSol, foi eleita em Sorocaba a vereadora Fernanda Garcia, ampliando o número de mulheres em relação ao pleito anterior.
            Muitas manifestações nas redes sociais comemoraram, após a divulgação dos resultados do 2º turno, a “limpeza” do Brasil que se livrou do “comunismo”. Não faltaram desenhos do mapa brasileiro de “antes” – dividido nas cores vermelha e azul – e “depois”, todo de verde-amarelo com um ponto em vermelho.
            Também não faltaram manifestações com fedor de extrema-direita, e até quem se dispusesse a fazer o triste, submisso e feio papel de sair à ruas de São Paulo para apoiar a candidatura de Donald Trump para presidência dos Estados Unidos. Muitos dos entrevistados disseram que seu apoio se escora em convicções políticas como a da eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil!
            Do mesmo modo, aproveitando a onda fascista, movimentos escusos questionavam os protestos estudantis contra a PEC 241, que limita os gastos do setor público, congelando por 20 anos investimentos em diversos setores, atingindo com isso a Educação.
            De tudo, tiram-se algumas lições dessas eleições. Primeiro é que, a despeito da comemoração ostensiva de grupos de extrema-direita, o fato é que nenhum dos posicionamentos tradicionais da política encontra escora nos tempos atuais. Pensadores como Boaventura de Sousa Santos, Michel de Certeau e mesmo Frei Betto advertem há tempos sobre a crise dos paradigmas na atualidade.
            O que trazem esses pensadores desde o final da década de 1990 é que as instituições, tais como as conhecemos, já não cumprem mais o seu papel e é hora de se pensar em nova forma de organização das coisas. Direita e esquerda hoje convivem com o dilema do esvaziamento do discurso e da ideologia. Como no livro de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”, cada vez fica mais difícil saber quem é gente e quem é porco.
            Esse descontentamento com as instituições pode ser avaliado pelo excessivo número de votos nulos, brancos e de abstenções nesta eleição. Os números chegam a 40% ou mais dos eleitores, somando-se todos os votos não contabilizados. Com isso, os candidatos que “ganharam” a eleição com 51% dos votos, por exemplo, na realidade tiveram votos de apenas pouco mais de 1/3 da população. Eis aí a crise pela qual passa a política.
            Outra lição: a reforma política já passou do tempo... São mais de 30 partidos que elegeram prefeitos no Brasil todo. Com isso, dentro dos moldes em que se projetou a nossa organização política, dificilmente se consegue estabelecer um diálogo entre as esferas da União. Como pode o governo estadual, por exemplo, dialogar com tantas siglas?
            De descrédito em descrédito, o fato é que algo precisa ser mudado. Não há espaço para a preguiça de se pensar em nova fórmula que permita a organização social e política. Urge que assim se processe. Antes que sobrevenha o caos.

Carlos Carvalho Cavalheiro
31.10.2016
           
           
Fontes:
http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-numeros/post/psdb-elege-14-prefeituras-no-2-turno-e-pt-nenhuma.html

http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1819571-psol-cresce-nas-eleicoes-e-tenta-ser-alternativa-da-esquerda-ao-pt.shtml

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A mais firme, incansável e enérgica oposição


            Logo após o seu afastamento definitivo da Presidência da República, Dilma Rousseff proferiu um discurso em que prometia ao “governo golpista a mais firme, incansável e enérgica oposição”. O recado parecia ter sido endereçado diretamente aos militantes de movimentos sociais, pois as medidas apontadas pelo atual governo atingem duramente as fatias menos favorecidas da população.
            Reformas na Previdência – embora apresentadas inicialmente pelo governo Dilma em fevereiro deste ano – com sugestões de equiparações de regime entre homens e mulheres, entre profissões distintas, com idade a partir de 65 anos, alcançam a maior parte da população trabalhadora deste país. Não fosse somente isso, ecos de sugestões como extinção do SUS (Sistema Único de Saúde), congelamento de salários, extinção de 13º, fim de direitos sociais e trabalhistas, cortes em programas de incentivo à educação são fantasmas que assustam e tiram o sono de muita gente.
            O próprio Michel Temer assumiu que as medidas que seu governo iria tomar seriam impopulares. No entanto, menosprezando a reação às mesmas, chegou a afirmar que o número de manifestantes contra seu governo ficaria entre 40 a 100 pessoas.
            O último domingo mostrou que o presidente estava equivocado. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o seu governo e engrossar o movimento que já ficou cunhado de “Fora Temer”. Só na capital paulista, estima-se que foi 100 mil o número de pessoas que se manifestaram pedindo a saída de Temer e a convocação de novas eleições como garantia da manutenção da ordem democrática.
            Infelizmente, foi nessa cidade em que a manifestação terminou com violência, aparentemente iniciada pelo despreparo da Polícia Militar. O jornalista Luis Nassif, em publicação no site do jornal GGN, diz que a manifestação pacífica contra Michel Temer terminou em pancadaria quando policiais militares começaram a expulsar as pessoas que queriam adentrar á estação do Metrô, cercada por PMs sob “a gestão truculenta de Geraldo Alckmin”(http://jornalggn.com.br/noticia/a-repressao-da-pm-e-a-criacao-da-nova-geracao-politica). O jornal “O Estado de São Paulo” publicou, em reticente nota, que “O ato começou no domingo, 4, à tarde, na Avenida Paulista, região central, e foi dispersado à noite pela Polícia Militar com o uso de bombas e jato d’água depois de um princípio de tumulto no Largo da Batata, na zona oeste. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), nove manifestantes foram detidos” (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ato-pelo-fora-temer-se-concentra-na-av-paulista,10000074031).
            As mídias alternativas apresentam imagens que aparentam exagero na ação da Polícia Militar de São Paulo, que, em tese, nem deveria ter agido dessa forma tendo em vista que deveria salvaguardar o direito constitucional – já que ainda estamos dentro de um Estado democrático de direitos – de se expressar e se manifestar pacificamente. A coleção de resultados negativos da ação da PM de São Paulo, durante a semana, coloca em dúvida se a corporação foi devidamente preparada para lidar com esse tipo de situação. A pergunta sobressai quando os veículos de comunicação informam que apenas em São Paulo as manifestações terminaram com violência.
            De outro lado, há a remota possibilidade de que algum grupo, dentre a centena de milhares de pessoas que ganharam as ruas da capital no domingo, tivesse provocado o tumulto. Ainda assim é de se perguntar se a ação da PM foi proporcional à situação que enfrentou. O uso de bombas de gás e balas de borracha, como atestam vários veículos de comunicação, foi realmente necessário e imprescindível naquele momento?
            O que se espera é que os fatos sejam devidamente apurados e que a sociedade tenha uma resposta plausível sobre tais acontecimentos. Se a violência partiu da tropa da Polícia Militar, que os culpados sejam julgados e punidos de acordo com a lei. O mesmo vale para quem tenha comprovadamente cometido qualquer crime naquele ato. Afinal, o rigor da legislação é para todos.
            Enquanto os fatos não são devidamente apurados, ficamos ouvindo os ecos das histórias que nos chegam a todo o momento pelos mais diversos meios: televisão, rádio, internet, whatsapp, jornal, redes sociais...
            Como em todas as histórias, há a versão do lobo e a versão dos porquinhos. Qual é a mais convincente?


Carlos Carvalho Cavalheiro

05.09.2016

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O prefeito e os cortes na Cultura

 Foto: Carlos Carvalho Cavalheiro

                Lamentável. Essa é a única palavra que ocorre nesse momento para definir o sentimento em relação aos cortes anunciados pelo Prefeito Pannunzio e que atingem diversos setores, entre eles o Esporte e a Cultura. Em sua defesa, o prefeito argumentou que estava em vias de “infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ao gastar mais do que arrecada” (CRUZEIRO DO SUL, 10 ago 2016).
                Além disso, informou que “tanto o governo federal como o governo do Estado são devedores do município, [e] não estão honrando os compromissos assumidos” (Ibidem). Com isso, pretende-se que o dinheiro destinado à Cultura e ao Esporte seja destinado a outros setores como a Saúde. Pois bem, o argumento é válido e é óbvio que se passasse pelo crivo de uma pesquisa popular, um plebiscito, não haveria quem se dispusesse a contra-argumentar que os recursos públicos deveriam atender prioritariamente à Saúde. O argumento é consistente, é forte.
                Por outro lado, há questões que merecem uma atenção mais crítica. A primeira delas é em relação ao tempo em que o prefeito decidiu-se para tomar as “medidas impopulares”. A Lei de Incentivo à Cultura e o Prêmio Sorocaba de Literatura, por exemplo, ambos amplamente escorados em Leis Municipais, já haviam iniciado o seu processo seletivo. Pior, já estavam em fase de finalização. Ocorre que, tanto para um como para o outro caso, há por parte dos artistas todo um preparo, gastos e desgastes, correrias e pré-requisitos que têm de ser cumpridos para que se possa fazer jus a ambos. No caso do Prêmio de Literatura, por exemplo, antecipadamente, como pré-requisito da inscrição, o autor deve doar três exemplares do livro – alvo do processo de seleção – para o acervo das Bibliotecas Públicas. Isso foi feito. No caso da LINC, houve gastos com toda a documentação e todo o processo de formatação dos projetos. Além disso, salvo engano, a porcentagem destinada para custeio dos processos de avaliação e serviços administrativos, na ordem de 10% do orçamento total (o que corresponde a R$ 90 mil ) já foram gastos. Em suma, não era esse o momento de se suspender os recursos da LINC, do Prêmio de Literatura e outros. Até porque, o ônus de tal atitude é o descrédito em relação ao Poder Público, pois, ao menos em aparência, promete algo (abre o processo de seleção) e não o cumpre. Afinal, o argumento dado não era exatamente o fato de não se poder descumprir a Legislação vigente?
                Outro fato que pesa contra essa atitude é o argumento de que o governo federal e o estadual não estão cumprindo com os seus deveres. Pelo que consta, ambos o governo federal é aliado do PSDB. O estadual é do mesmo partido do municipal! É questão de “fogo amigo”? Quão amigo é esse “fogo”? Ora, não é o caso de se ingressar com Ação judicial contra o descumprimento dos compromissos assumidos por esses governos? Não havia como prever, com antecipação adequada, que o descumprimento desses governos acarretaria problemas no orçamento do município? Por que não?
                Por fim, é importante salientar que o problema na arrecadação e na área da Saúde não é recente. Há tempos que os reclamos da população em relação ao atendimento da Saúde vêm pautando a atuação nessa área. Por que somente agora é que se pensou em “solucioná-los”? Aliás, em termos exatos, o que desses cortes será de fato destinado à área da Saúde? Seria bom que soubéssemos a fim de acompanharmos pari passu tais investimentos. Também é fato que numa cidade onde haja mais investimento em cultura e em esporte (além da educação) a necessidade de investimentos em Saúde é bem menor. Por outro lado, com relação à redução da arrecadação, os cortes somente pioram a situação. Somente a LINC e o Prêmio Sorocaba de Literatura – para não citar outros como o Prêmio de Música – movimentam o comércio e a prestação de serviços, ampliando demasiadamente a arrecadação. Enfim, resta apenas a esperança de que venham dias melhores e que talvez apareça algum “mecenas” (quem sabe um consórcio de industriais e comerciantes) que consigam ainda salvar essa situação.

Carlos Carvalho Cavalheiro

15.08.2016

domingo, 7 de agosto de 2016

Mais um cowboy que se foi...

Fonte da imagem: http://br.ign.com/cinema-tv/30002/news/ator-bud-spencer-morre-aos-86-anos

          Há três anos um acidente de carro pôs fim à vida de Giuliano Gemma, ator que ficou mundialmente conhecido por participar de filmes italianos de faroeste, ou seja, os westerns spaghettis como também eram chamados. O gênero tomou corpo quando o diretor italiano Sérgio Leone teve a idéia de contar suas fábulas ambientadas no velho oeste estadunidense em meados da década de 1960.
          No início, tanto os diretores quanto os atores utilizavam nomes em inglês, uma forma de tornar “palatável” os filmes para o público radicalmente exigente. Assim, Giuliano foi apresentado no começo da carreira como Montgomery Wood e só usou o próprio nome quando sua carreira se consolidou e não havia mais nada a provar para ninguém. O mesmo ocorreu com Gian Maria Volonté que teve seu nome mudado para Johnny Wels. O brasileiro Antonio de Teffé era conhecido como Anthony Steffen, Mario Girotti ainda é conhecido como Terence Hill e até o diretor Sérgio Leone teve de assinar seu primeiro faroeste como Bob Robertson. O filme, “Por um punhado de dólares” (1964), inspirado no filme japonês Yojimbo, deu o pontapé para que esse gênero cinematográfico se alastrasse pelo mundo e ajudou a consolidar as carreiras de atores como Clint Eastwood e Gian Maria Volonté.
          No começo desta semana outro dos “cowboys” italianos nos deixou. Carlo Pedersoli, ou Bud Spencer, pseudônimo pelo qual se tornou famoso, faleceu na segunda-feira, dia 27 de junho de 2016, em Roma (Itália), aos 86 anos de idade. A sua morte esvazia o rol de atores vivos daquela época. Restam poucos atores vivos de destaque que participaram dessa História: Clint Eastwood, Terence Hill e Franco Nero são alguns desses nomes.
          Bud Spencer tornou-se célebre ao se tornar parceiro de Terence Hill em filmes que valorizavam o humor e a pancadaria no Velho Oeste. Com corpo avantajado, a presença de Bud Spencer nos filmes deixava claro que seus inimigos não teriam chance nas brigas. Reza a lenda que o ator escolheu o nome baseado em duas referências:  Bud teria vindo de Budweiser, a cerveja predileta dele, e Spencer seria uma homenagem ao ator Spencer Tracy.
          Além de estrelar a dupla com Terence Hill, o ator Bud Spencer participou de outros filmes de faroeste como “O Exército de 5 homens” e “Deus perdoa... eu não”.  Spencer viveu alguns anos no Brasil, trabalhando pelo consulado italiano, oportunidade em que aprendeu a falar português. Em entrevista realizada no início da década de 1980 no programa “Os Trapalhões”, Bud Spencer conversou em português com Renato Aragão e sua turma.
          Bud Spencer fez ainda filmes de ação/comédia com Terence Hill, dos quais se destaca “Dois Super-Tiras em Miami” (1985) e “Banana Joe” (1982). Em 1994 voltou ao tema do faroeste com o filme “Os encrenqueiros”, uma revisita aos tempos de Trinity. O ator nasceu em 31 de outubro de 1929, em Nápoles, Itália. De acordo com seu filho, em comunicado à imprensa, “Papai se foi pacificamente, às 18h15. Ele não sofreu, estávamos todos ao seu lado e sua última palavra foi 'obrigado'". Bendita a vida que se finda em agradecimento. Sorte nossa, também, que conhecemos – e rimos e nos emocionamos – com a atuação desse grande artista. O céu está estrelado... São estrelas de xerifes do Velho Oeste... Ou balas de prata cuspidas dos revólveres dos anti-heróis, característica máxima dos westerns spaghettis.

Carlos Carvalho Cavalheiro

28.06.2016

João do Rio e “Bem Porto”



                A edição nº 19, de dezembro de 2015 da Revista Bem Porto (da cidade de Porto Feliz) trouxe na matéria de capa o tema “Todos pela paz”, contendo uma visão de algumas doutrinas filosóficas e religiões da cidade. Interessante material de reportagem – e pesquisa – que abordou visões da Igreja Católica Apostólica Romana, da Umbanda (com entrevista de Izabel Gonzaga, a última Ialorixá da Tenda de Umbanda “Vovó Catarina”), do Espiritismo (Kardecismo), da Igreja Presbiteriana Luterana, do Ateísmo, da Igreja do Evangelho Quadrangular, da Maçonaria, da Igreja Evangélica Pinheiros e da Fé Bahá’í.
                De acordo com a mesma publicação, “A Revista Bem Porto entrou em contato com todas as igrejas, religiões, seitas, filosofias esotéricas e espiritualistas que encontrou na cidade de Porto Feliz. Muitas, por questões doutrinárias, preferiram não participar, e outras, até o fechamento desta edição, não responderam. Todos os que se dispuseram a participar tiveram seu espaço garantido”. Esse trabalho lembra muito aquele realizado pelo jornalista João Paulo Barreto, que escreveu uma série de artigos sobre o universo religioso do Rio de Janeiro do início do século XX, todos assinados com o pseudônimo de João do Rio. Posteriormente, essas reportagens da Gazeta de Notícias foram compiladas no livro “As religiões no Rio”, um sucesso de público e de crítica por trazer os meandros das práticas religiosas e filosóficas presentes na então Capital do Brasil.
                A religião sempre aguçou a curiosidade das pessoas e, nesse sentido, o interesse pelo assunto se pode medir pela venda de publicações – em todos os suportes – que tragam fatos inusitados sobre as diferentes crenças. O brasileiro é um povo inclinado à religiosidade e, ainda, ao sincretismo, à mistura de doutrinas e preceitos que dão vida a novas formas de relacionamento do humano com o sobrenatural.
                A História das religiões, ou mesmo das denominações religiosas aguçam a curiosidade.  Fatos interessantes chamam a atenção sobre o tema. Por exemplo, o fato de o primeiro pastor evangélico do Brasil ter feito pregações em Porto Feliz no século XIX. Trata-se de José Manoel (ou Manuel) da Conceição, que fora ordenado padre católico, mas converteu-se, posteriormente, ao protestantismo, sendo um pregador itinerante. Manoel da Conceição viveu por anos em Sorocaba e, após a sua conversão ao protestantismo, peregrinou por várias cidades. Émile G. Leonard, que realizou um interessante estudo do protestantismo no Brasil, publicado na Revista da USP em 1952, diz que fugindo da perseguição policial, o pastor realizava pregações em cidades do Vale do Paraíba, e em outubro de 1866 ele realizou pregações nas cidades de Cotia, Ibiúna, Piedade, São Roque, Piracicaba, Porto Feliz, Itu e Brotas. O dia de sua ordenação, em 17 de dezembro de 1865, é considerado como Dia do Pastor Presbiteriano.
                Outra curiosidade é em relação à Congregação Cristã do Brasil, fundada em 1910, e que em 1933 aparece em seu relatório de templos o de Porto Feliz, conforme atesta Yara Nogueira Monteiro num artigo publicado em 2010 com o título: “Congregação Cristã no Brasil: da fundação ao centenário – a trajetória de uma Igreja brasileira”.
                O fundador do Instituto da Filhas de São José, o padre Luís Carbulloto, foi beatificado em 2015. Esse padre veneziano fundou o Instituto em 1850 e próximo de sua morte, manifestou o desejo de que a obra que criou fosse levada ao Brasil. Por isso, em 1927 ”as irmãs Filhas de São José iniciaram um trabalho educativo em um casarão antigo no interior de São Paulo, com crianças e adolescentes de baixa renda, desde a educação infantil até o ensino médio. A Escola São José de Porto Feliz, que carrega o lema “Amar Educando e Educar Amando”, em atividade desde 1934, também oferece curso de bordado e alfabetização para adultos”, de acordo com matéria publicada no jornal capivariano “O Semanário”. O padre beatificado, então, possui uma ligação – ainda que indireta – com Porto Feliz.
                Em relação à Apometria, Porto Feliz conta com um dos mais conceituados grupos do Brasil. Trata-se do Grupo de Apometria de Porto Feliz - Fraternidade Cristã Kardecista, localizado na avenida Dr. Antoninho, e que tem seu registro de CNPJ desde dezembro de 2003. A Apometria é, segundo a Wikipédia, “um conjunto de praticas com objetivo de cura, normalização corporal e conscientização do envolvimento energético, no qual os seres humanos estão imersos”. 
                Por fim, é curiosa a polêmica envolvendo a igreja católica e o visconde de Taunay, em fins da década de 1880. O jornal católico “O Apóstolo”, de fevereiro de 1889, traz a tona a controvérsia alegando que o visconde perseguia a Colônia Rodrigo Silva, formada por belgas em Porto Feliz, por esta ter sido organizada pelo padre católico VanHesse (ou VanEsse). Esse fato, encontrado pelo jornalista Gustavo Barreto, mostra o conflito que se estabeleceu entre o senador Visconde de Taunay e a Igreja Católica, pelas críticas do primeiro em relação à organização de imigração em mãos clericais.
                A pesquisa sobre as religiões – ou doutrinas e filosofias religiosas – não é apenas fato curioso, mas, também um indicador da forma de agir e pensar de um povo. Serve, portanto, para mostrar o quanto somos diversos e que na diversidade reside a beleza da mensagem máxima das religiões: a Paz.

Carlos Carvalho Cavalheiro

02.01.2016

A morte da política



            O ministro do STF Luís Roberto Barroso, em audiência com seus alunos, aparentemente não percebendo que suas manifestações eram gravadas, deixou escapar a sua insatisfação em relação à falta de alternância nos governos e disparou a frase: “a política está morta”.
            Apesar de chocar num primeiro momento, a frase de Barroso revela não somente uma percepção daqueles que acompanham as notícias políticas, mas também daqueles que analisam a democracia brasileira na atualidade. Aliás, o Brasil sempre teve crise de identidade política. No Império dizia-se que a diferença entre liberais e conservadores era somente o exercício do poder, ou seja, um liberal era muito parecido com um conservador quando ambos estavam no comando. Durante os primeiros anos da República o Brasil criou o que parecia ser inimaginável: uma República Oligárquica. Isso porque, na própria etimologia de ambos os termos aparece a contradição. Na república (res publica, do latim), a forma de governo pressupõe que o poder emana do povo e tem por objetivo o bem comum, a “coisa pública”. Na Oligarquia, ao contrário, um pequeno grupo governa visando apenas seus interesses e não o da coletividade, não o bem comum.
            Em meados da década de 1980, passado o horror da ditadura militar, o Brasil tomou o caminho oposto ao extremo. Em vez da falta de partidos ou do bi-partidarismo do final da ditadura, a democracia brasileira defendeu a idéia do pluripartidarismo, conforme reza a Carta Magna. Até aí, tudo bem. Não haveria problema algum se houvesse certo rigor na criação de partidos. Hoje se tem partidos para tudo: aposentados, militares (ainda não oficializado), indígenas, mulheres... São 35 partidos registrados no TSE e outros tantos que ainda buscam a legalização. Somente os partidos que carregam em sua sigla o termo “Trabalhista” temos 5: PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA (PDT), PARTIDO TRABALHISTA CRISTÃO (PTC), PARTIDO TRABALHISTA DO BRASIL (PT do B), PARTIDO RENOVADOR TRABALHISTA BRASILEIRO (PRTB), PARTIDO TRABALHISTA NACIONAL (PTN). Partidos que pretendem atuar em causas ambientais são 4: Partido Verde (PV), Rede Sustentabilidade (Rede), Partido Ambientalista Nacional (PAN) e Partido Ecológico Nacional (PEN).  Há dois Partidos Comunistas reconhecidos pelo TSE e outros na clandestinidade, ainda.
            Acontece que uma multiplicidade irrestrita, com propostas que deveriam ser semelhantes – ou convergentes – favorece apenas uma coisa: a negociação com diversas siglas para se obter maioria de votos que garantam um mínimo de governabilidade. Nas eleições de 2014, por exemplo, 28 partidos tiveram pelo menos 1 candidato eleito. Impossível ao chefe do Executivo obter maioria sem negociar com significativa parte dessas legendas. Isso porque a nossa Constituição foi promulgada pensando-se numa possível mudança da forma de governo para o Parlamentarismo. Consequência disso é que vivemos hoje num sistema em que a figura do presidente da República é quase que refém do Congresso.
            Parte do descontentamento do ministro Roberto Barroso vem desse quadro que se nos apresenta, de um número irrestrito de partidos políticos, muitos dos quais com dificuldades em definir sua ideologia ou distinguir seu programa de ação.
            Nesse sentido, a política – como a arte de bem governar os povos ou como a ação em benefício da comunidade – se esvai, ou como disse o ministro Barroso, morre e deixa em seu lugar o balcão de negociatas. E pior: abre espaço para outras supostas “alternativas”: o movimento pelo retorno da monarquia vem se fortalecendo ao mesmo passo em que se robustece, também, o que clama pela intervenção militar. Se a política está morta hoje, amanhã poderá ser enterrada.


Carlos Carvalho Cavalheiro

04.03.2016

sábado, 30 de julho de 2016

Quem ama mata?

A Tribuna das Monções, jornal da cidade de Porto Feliz, em sua última edição, do dia 19, noticiou em primeira página tentativa de homicídio com o título “Amor termina na ponta da faca”. Em fins da década de 1970 e início da de 1980 uma onda de crimes passionais chamou a atenção da opinião pública, gerando uma comoção nacional que se celebrizou a partir do slogan “Quem ama não mata”.
Um dos crimes dessa época – e que tomou as atenções da mídia – foi o assassinato de Angela Diniz, morta por ciúmes pelo seu companheiro, o playboy Doca Street. Todo esse contexto motivou a Rede Globo a criar uma minissérie em 1982, justamente intitulada “Quem ama não mata”. O horror aos crimes passionais, com ranços de extremo machismo patriarcal que era a tônica da nossa sociedade, fez com que ocorresse uma mudança de consciência. Até então, era comum a absolvição, por exemplo, do réu homem que assassinasse sua esposa por infidelidade. Alegava-se, na época, a “defesa da honra” do assassino que passava de réu a vítima, de ofensor a ofendido.
Estranhamente, crimes assim continuam a ocorrer. O amor em algum momento na relação acaba-se confundindo com o ódio e as pessoas continuam a se agredir – e a se matar – por “amor”.

Uma pesquisa rápida pela internet mostra que esse tipo de crime pode ser, ainda hoje, mais comum do que se imagina. Numa reportagem assinada por Natália Von Korsch para o portal Terra, especialistas afirmam que “Qualquer pessoa que ama pode matar por amor” (http://saude.terra.com.br/qualquer-pessoa-que-ama-pode-matar-por-amor-dizem-especialistas,e6188c3d10f27310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html).

 Nessa reportagem, Talvane de Moraes, especialista em psiquiatria forense diz que apesar de ser a paixão um sentimento comum a todos os adultos, o crime passional ocorre quando a pessoa não consegue se controlar. Já Eduardo Ferreira Santos, outro psiquiatra ouvido pela repórter, aponta características comuns a quem comete crime passional, tais como “profundo egoísmo, dependência do outro e ciúme doentio, a ponto de não enxergar vida além da relação afetiva. Quando se sentem humilhados ou prestes a serem abandonados, matam quase que por instinto de sobrevivência. O crime passional, diferentemente do assassinato por conveniência, jamais é planejado com antecedência”. 

            De acordo com Tatiana Ades, do Portal UOL, a cada cinco dias uma mulher é assassinada por ciúmes em Belo Horizonte. No país como um todo a estatística é de dez mulheres mortas por dia. Essa reportagem trouxe o mesmo perfil dos criminosos: “ciúme, egocentrismo, ódio, possessividade, prepotência e até vaidade, o que leva a um incontrolável desejo de vingança” (http://www2.uol.com.br/vyaestelar/ama.htm). Da mesma forma, a reportagem deixa claro que “o crime passional é gerado pela impulsividade, diferentemente do psicopata que planeja o crime friamente”.

            Se atentarmos para os “valores” cultuados pela sociedade de consumo em que vivemos, talvez possamos entender porque uma espécie de crime que revoltou tanto as pessoas em décadas passadas, aparentemente volta a se tornar comum no Brasil. Afinal, o sentimento de posse, a reificação (ou coisificação) das pessoas, o egoísmo extremado são inerentes a esse tipo de sociedade. E é assim que, com um televisor à frente dos olhos e um programa de passeio semanal apenas a Shoppings, que estamos transformando as crianças em consumidores, em possuidores de mercadorias, em pessoas que valorizam o “ter” em vez do “ser”.

            Uma frase atribuída ao ator e diretor Clint Eastwood, amplamente divulgada nas redes sociais, sintetiza um pouco esse momento em que vivemos: “Todo mundo fala em como deixar um planeta melhor para nossos filhos. Na verdade deveríamos tentar deixar filhos melhores para o nosso planeta”.

 

 

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

22.02.2016

 

 

 




Sobre a Teologia da Prosperidade (II)

Fonte da Imagem: https://estrangeira.wordpress.com/2016/02/11/agenor-duque-um-neofito-no-universo-neopentecostal/

            Certamente, alguns poderão argumentar que a Teologia da Prosperidade está, de fato, de acordo com os ensinamentos bíblicos. Por exemplo, a própria Bíblia diz que Jesus afirmou: “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo. 10.10). Então, como é que fica? Ter vida em abundância não é viver com o que é além do necessário para uma vida digna? Não é viver com riqueza material e financeira?
            A vida em abundância, aqui tratada, é a vida eterna com Jesus. No Evangelho de João, capítulo 5, versículos 39 e 40, Jesus esclarece que os homens de sua época examinavam “as Escrituras, porque vós [eles] cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida”.
            A mensagem é espiritual, portanto. Não é um chamamento para o “paraíso” na Terra. Nem mesmo para que se tenha excesso de bens materiais e financeiros, a despeito das condições de vida das outras pessoas. O Reino não é deste mundo! (Jo. 18.36). Ao contrário, o verdadeiro cristão doa o que tem em benefício de outrem. Os cristãos primitivos, por exemplo, vendiam todos os seus bens e repartiam entre si o que tinham e dividiam o dinheiro com todos “de acordo com a necessidade de cada um” (At. 2.44 – 46). Qual a justificativa para dizer que os cristãos atuais são “melhores” do que os primeiros? Por que aqueles pioneiros deveriam vender suas propriedades e repartir com todos, enquanto que os atuais precisariam apenas se preocupar em enriquecer?
            Uma das passagens deveras citadas pelos adeptos da Teologia da Prosperidade com o intuito de afirmar a coadunância com o texto bíblico está em Malaquias: “Trazei o dízimo todo à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz Jeová dos exércitos, se não vos abrir eu as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção até que não haja mais lugar para a recolherdes” (Malaquias 3.10). O texto é bastante apropriado, porquanto traz em seu bojo a idéia da compensação, ou seja, as bênçãos de Deus serão de acordo com a entrega do dízimo. Dessa forma, a arrecadação das instituições tende a ser altas na medida em que os fiéis são estimulados a colaborar para receber algo em troca. No entanto, do ponto de vista teológico, o problema maior aqui reside no fato de ser uma citação do contexto do Velho Testamento. O Livro de Hebreus ensina categoricamente que a Lei (Antigo ou Velho Testamento) foi substituída pelo Novo Testamento (ou Nova Aliança) e que, por isso, as dádivas e sacrifícios oferecidos aos sacerdotes, de acordo com a Lei (Antigo Testamento) “é cópia e sombra das realidades celestes” (Hb. 8.1 – 5). E o mesmo texto acrescenta: “Possuindo apenas a sombra dos bens futuros, e não a expressão própria das realidades, a Lei é totalmente incapaz, apesar dos mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a cada ano, de levar a perfeição aqueles que deles participam” (Hb. 10.1). Em suma, o que trata da Lei (Antigo Testamento) não serve de parâmetro para quem vive (ou diz viver) dentro da Nova Aliança. Buscar uma referência no Antigo Testamento para justificar uma idéia atual é o mesmo que apoiar o apedrejamento de mulheres consideradas adúlteras só porque consta na Lei mosaica!
            Igrejas superlotadas também não são sinais de benção e muito menos a simples proclamação de que Jesus é Senhor são suficientes para identificar uma igreja como verdadeiramente cristã (no sentido teológico). “Nem todo aquele que me chama “Senhor, Senhor” entrará no Reino do Céu, mas somente aquele que faz a vontade de meu Pai, que está no céu” (Mt. 7.21). E qual é a vontade do Pai? Sobre o final dos tempos, mais uma vez, Jesus afirmou que muitos ficarão surpresos em serem condenados porque deixaram de ajudar as pessoas mais humildes e necessitadas (Mt. 25.31 – 46). Por isso, afirma Jesus, que muitos são chamados, mas poucos escolhidos (Mt. 22.14). Sentar no banco de um templo ou igreja não garante a salvação. Ser chamado, ou seja, ouvir a palavra não é garantia de salvação. A garantia está na prática daquilo que se ouve. A figueira que não dá frutos é inútil.
            Tiago também condena a sede de riqueza que faz com que as pessoas se desviem do objetivo principal que é a reconciliação com Deus. No capítulo 5 de seu livro, Tiago diz que aqueles que viveram deliciosamente sobre a terra, se deleitando com as riquezas, irão, depois, chorar e prantear sobre as misérias que hão de vir (Tg. 5). As riquezas estarão apodrecidas, as vestes comidas de traças e ouro e prata estarão enferrujados dando testemunho contra aqueles que se fascinam pelas riquezas materiais e financeiras (Tg. 5). A mesma mensagem de Cristo que no Sermão da Montanha pediu para que não acumulasse tesouros que seriam corroídos pelo tempo (Mt. 6). É por isso, também, que o Cristo falou da dificuldade de um rico entrar no reino dos céus (Mt. 19.23 – 24). E, ainda, lamentou-se dizendo: “Ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação” (Lc. 6.24).
            Aquele, pois que quiser, continue buscando com ansiedade a riqueza material. Mas saiba que já teve a sua recompensa. Ganhou o mundo todo, mas perdeu a sua alma (Mc. 8.36).


Carlos Carvalho Cavalheiro

04.01.2015.

Sobre a Teologia da Prosperidade (I)



Fonte da Imagem: https://afeexplicada.wordpress.com/2015/08/29/mentes-manipuladas-pela-teologia-da-prosperidade/


            Dados do Censo do IBGE apontam um substancial crescimento das igrejas cristãs chamadas genericamente de evangélicas. Em dez anos o número de evangélicos no Brasil saltou de pouco mais de 26 milhões de brasileiros para quase 43 milhões, o que representa um aumento de 61,45% (IBGE, 2010). Esses dados foram divulgados em 2012, embora se referissem ao Censo de 2010.
            Curiosamente, no senso comum, quando se fala em “evangélico” a primeira associação que se faz é com o televangelismo, iniciado na década de 1980, e que tem como principal sustentáculo a chamada Teologia da Prosperidade ou Evangelho da Prosperidade (ou ainda, Confissão Positiva, Palavra da Fé, Movimento da Fé, Evangelho da Saúde e da Prosperidade, entre tantos outros). No entanto, os dados do IBGE mostram que dentre as igrejas evangélicas que mais adeptos possuem, as que ocupam os três primeiros lugares não são, a princípio, igrejas fundamentadas nesse modelo de Teologia. O site Evangelização.blog.br aponta a liderança disparada da Igreja Assembléia de Deus que conta com mais de 12 milhões de membros, seguida da Igreja Batista que contabiliza mais de 3 milhões de fiéis e da Congregação Cristã com 2,3 milhões.
            Mas o que é a Teologia da Prosperidade? Segundo a Wikipedia, a Teologia da Prosperidade é uma “doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a , o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel”. O mais conhecido – e, talvez, o maior – divulgador dessa doutrina foi Kenneth Erwin Hagin que, segundo consta em suas biografias amplamente divulgadas, teria sido curado de um problema cardíaco quando interpretou a passagem de Marcos 11.23-24 com o sentido de que a fé deveria ser liberada a partir do pronunciamento das palavras, pois o próprio texto assinalava a presença maior do verbo “dizer” o que o verbo “crer”: “Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis”. No entanto, as idéias de Hagin sobre a fé liberada ou confissão positiva não eram originais. Essek William Kenyon (1867-1948) foi evangelista de origem metodista que defendia a idéia teológica de que “O que eu confesso, eu possuo”. Em verdade, Essek Kenyon criou um sincretismo entre o pentecostalismo e visões metafísicas e místicas advindas de denominações religiosas que freqüentou como a Ciência Cristã.
            No que se funda a Teologia da Prosperidade? Essa Teologia afirma que os que são verdadeiramente fiéis a Deus devem viver em prosperidade, ou seja, em excelente situação financeira, profissional e de saúde. No Brasil, é comum os adeptos dessa Teologia afirmarem que a prosperidade significa riqueza material. Então, o principal motivo para se tornar cristão é a busca pela riqueza material, a cura de doenças e a libertação dos demônios. A salvação da alma..., bom isso fica para depois. O que aparenta ter importância para os adeptos da Teologia da Libertação é o agora, é o viver neste mundo com riqueza financeira e boa saúde para poder usufruir dos benefícios do dinheiro.
            Sem pretender atacar nenhuma denominação religiosa, o que se pretende com este artigo é debater tais conceitos em comparação com a Teologia Bíblica tradicional. De fato, riqueza em si não é pecado. A Bíblia diz que José de Arimatéia, um dos seguidores de Jesus, era rico (Mt. 27.57-58). No entanto, a busca pela riqueza afasta os homens de Deus e, por isso, pode se converter em pecado (aqui no sentido original da palavra “hamartia” ou “hamartano” que significa “errar o alvo”, ou seja, desviar do objetivo de Deus). Sobre isso Jesus disse no Sermão da Montanha: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt. 6.24). E acrescentou que: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. [...] Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua Justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt. 6.25, 33). Também disse Jesus que não deveríamos “ajuntar tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu” (Mt. 6.19). No Evangelho de Lucas, o Nazareno aconselha ao rico para que vendesse tudo o que possuía e distribuísse aos pobres, pois assim teria um “tesouro no céu” (Lc. 18.18 -23). A mensagem central do cristianismo é a regeneração do homem, ou seja, a sua salvação e reconciliação com Deus. No Evangelho de Marcos, Jesus pergunta: “Portanto, de que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc. 8.36).
            O que seria a prosperidade, então, se não for a riqueza material? Parece que prosperidade é ter tudo aquilo que é necessário para uma vida digna. Nem mais, nem menos. Jesus enviou seus discípulos em uma comissão, de dois em dois, e aconselhou que não levassem nada. Em ocasião oportuna, perguntou a esses se algo havia lhes faltado, do que responderam que nada faltara. Portanto, estavam atendidos por Deus em suas necessidades (Lc. 22.35). É o mesmo entendimento de quando, no Sermão da Montanha, Jesus disse dos lírios do campo e da inutilidade da preocupação com os bens materiais (Mt. 6). Aqueles que ostentam riquezas materiais, “já receberam a sua recompensa” (Mt. 6.2). Mesmo as curas extraordinárias não são insígnias dos que verdadeiramente são cristãos. Jesus advertiu que no final dos tempos, muitos dirão a Ele: Senhor, não foi em teu nome que profetizamos, expulsamos demônios e fizemos muitos milagres?. E Jesus apenas responderá: “Nunca vos conheci” (Mt. 7.22 – 23).

Carlos Carvalho Cavalheiro – 04.01.2015.
           



“Encantaria”




            Das vantagens de se participar de um Festival nacional, a maior delas deve ser a oportunidade de contato com pessoas de várias regiões do Brasil. Não é segredo que participei no mês de novembro do FEMUP, Festival de Música, Poesia e Conto de Paranavaí, cidade do interior do Paraná. O fato já foi alvo de nota nesta Tribuna das Monções.
            Obviamente que a premiação é importante enquanto materialização do reconhecimento do trabalho intelectual que realizamos. Disputar um lugar entre centenas de inscritos é uma forma – talvez não a melhor, mas mesmo assim uma forma – de avaliar como o seu trabalho é visto e reconhecido por outros. Mas a sensação de troca que se estabelece na amizade decorrente da convivência naqueles dias de Festival é imensurável. Conheci muita gente, pessoas de todos os cantos do Brasil. Conheci pessoas como o musicopoeta Ronildo Prudente, de Três Corações (MG); o cordelista Felipe Junior, de Pernambuco (e que anda por aqui, bem perto de nós, em Boituva, por esses dias); o poeta e músico Alfred’ Moraes, de Belém do Pará; o poeta e escritor (e também professor de História) William Santos, de Goiânia; o escritor Lauro Elme, de Praia Grande (litoral paulista); o poeta e professor de Filosofia Rodrigo Petit (de Sorocaba); os escritores Renato Benvindo Frata e José Aparecido Cauneto, bem como o ator José Valdir e a diretora de teatro Rosi Sanga, todos estes de Paranavaí, no Paraná; os músicos Robertho Azis e Ronald Saar cariocas radicados na cidade de Entre Rios, Minas Gerais; o músico Edu Asaf, de Sobral, no Ceará, e a cantora e compositora Ana Paula Cavalcante, que nasceu no Rio de Janeiro, mas vive atualmente em Palmas, no Tocantins.
            Conheci muito mais pessoas e a lista seria muito maior do que o espaço que disponho nesta coluna. Mas queria chamar a atenção para o trabalho de Ana Paula Cavalcante, que assina profissionalmente como Anapaula. Quero falar especialmente de um de seus trabalhos, o CD “Encantaria”, dedicado a músicas ciganas. Com exceção da primeira faixa, todas as demais são de sua autoria, o que revela o talento de compositora e, ousaria dizer, de poeta.  O que dizer de versos como estes: “Indivíduo é produto da história / Esses tempos que apagam memórias / Pra confiar somente em si próprio / Pra ser pecado envelhecer” ?  Ou, então, estes: “Nós somos o que somos / Somos pequeninos / Somos tão grandes / Se juntos semeamos sonhos” ? São versos permeados de poesia, sem dúvida alguma. Se não fossem musicados, dariam, ainda assim, belos e bem construídos poemas, com imagens e metáforas ricas e mensagens verdadeiras.
            Resolvi falar desse trabalho porquanto estou aqui e agora, numa manhã de domingo, podendo apreciar com cuidado esse trabalho. Por falta de tempo e outros percalços, não pude apreciar antes o CD “Encantaria”, tão gentilmente ofertado pela sua autora.
            Anapaula não é uma artista de uma só vertente musical. Possui trabalhos gravados em diversos ritmos, como a MPB, e defendeu no FEMUP um samba. Esse trabalho eclético, talvez, ainda não tenha imprimido uma marca única na artista. Por outro lado, demonstra a versatilidade dela, que não se acovarda diante dos desafios de mostrar aquilo que lhe apraz como produção artística. Não tem rótulos e não precisa deles. É assim, simples e direta, como deve ser, e incisiva na direção em que a sua inspiração aponta. Enfim, uma artista em todos os sentidos.


Carlos Carvalho Cavalheiro
06.12.2015

            

sábado, 23 de julho de 2016

A (im)popularidade de Temer




          Nesta semana, o presidente interino Michel Temer disse, em pronunciamento feito no Global Agrobusiness Forum, em São Paulo, principal evento do mundo do agronegócio no Brasil, disse que deverá, em determinado momento, tomar medidas impopulares para “colocar o Brasil nos trilhos”. Bom, o que talvez o presidente não saiba é que boa parte de suas medidas já são impopulares desde o primeiro momento e que, colocar o Brasil nos trilhos é temerário, uma vez que os governos – todos eles – anteriores sucatearam e extinguiram esse importante meio de transporte, não só de passageiros como de cargas, que é o trem.
          Brincadeiras à parte, os anunciados ou pensados cortes no orçamento da Saúde e na Educação; a pensada extinção do Ministério da Educação e mudanças nas regras da aposentadoria (igualação de idade entre homem e mulher, por exemplo, e idade mínima a partir dos 70 anos), já demonstram um governo que não tem competência de resolver a crise se não for por meio do sacrifício do já espoliado povo brasileiro. Há inúmeras alternativas de se resolver boa parcela da crise, mas ninguém quer mexer no vespeiro. O repatriamento de recursos não declarados no Exterior, por meio da  Lei nº 13.254/2016, é um desses instrumentos que podem automaticamente trazer divisas para o país e regularizar os que possuem dinheiro em bancos estrangeiros, mas não fizeram a devida declaração ao Imposto de Renda. Segundo o site da “Castelo Branco Advogados”, há estimativa de que haja algo em torno de “US$ 7 e US$ 12 trilhões depositados nos inúmeros paraísos fiscais espalhados ao redor do mundo, como a Suíça, Mônaco, Ilhas Cayman e Liechestein”. Em 2003, o deputado Luciano Castro (PP/RR) propôs, por meio de projeto de lei “o reingresso de qualquer recurso remetido ilegalmente ao exterior mediante tributação, pelo imposto de renda, à alíquota de 5%. Quem optasse pelo repatriamento não seria obrigado a declarar a origem dos recursos à Receita Federal, que manteria o sigilo total da identidade do optante”. Uma CPI daquele, a do Banestado, apurou que R$ 150 bilhões eram mantidos ilegalmente no Exterior. Porém, a proposta do deputado só foi aceita este ano, ou seja, 13 anos depois de apresentada (http://www.cbadvogados.com.br/blog/o-repatriamento-de-recursos-e-seus-efeitos-penais/).
          Essa é somente uma das “fontes” intocadas até o momento, embora exista amparo legal para isso. Outro instrumento seria a taxação sobre grandes fortunas, que nunca saiu do papel... aliás, nunca chegou ao papel. Todos os países desenvolvidos e relativamente decentes fazem a taxação das grandes fortunas. Menos o Brasil. Ao contrário, o governo faz apostas erradas, como a política internacional que tenta se atrelar novamente aos interesses estadunidenses com o intuito de continuarmos o papel colonialista de fornecedores de matéria-prima em troca de tecnologia. Com isso, adeus à diversidade de parceiros econômicos, o que nos coloca reféns de qualquer outra crise que se aposse da terra do Tio Sam.
          No final de Maio, o presidente interino anunciou, juntamente com o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, limite de gastos públicos. Quais foram as propostas de cortes? Em programas de habitação como “Minha Casa, Minha Vida”; programas de agricultura familiar; além do já falado limite de gastos na Educação e na Saúde (que vão muito mal, diga-se, mesmo sem esses cortes). Apoio ao agronegócio e corte para a agricultura familiar... Eis a síntese de um governo que tem por meta atender ao mercado e não aos cidadãos.
          Por isso, não é de se estranhar que em menos de um mês, a popularidade de Temer tenha caído tão drasticamente. Pesquisa apresentada pelo CNT/MDA dava conta de que a reprovação ao governo Temer no início de junho era de 28% (Jornal Cruzeiro do Sul, 9/6/2016, p. B4). No início de julho a reprovação de Temer, de acordo com Pesquisa CNI/IBOPE era de 39% (Jornal Cruzeiro do Sul, 2/7/2016, p. B4).
          Enquanto isso, como se ouve dizer pelas ruas, “o preço da carne e do leite sobem. Deve ser porque as vacas andam comendo feijão”.
         


Carlos Carvalho Cavalheiro

05.06.2016

segunda-feira, 9 de maio de 2016

África em nós

http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/356106/horario-de-verao

Pioneirismo Sorocabano
Foi uma grata surpresa ler no Jornal Cruzeiro do Sul online em 22/11/2011, que na cidade de São Paulo foi implantado um roteiro turístico pedagógico com foco na cultura do negro. Penso ser uma ideia muito interessante para todos em geral, com intuito de conhecer lugares onde passaram vários afro-brasileiros, os quais ajudaram em boa parte da colonização de vários bairros da cidade, como disse a responsável pela Coordenadoria dos Negros em São Paulo, Maria Aparecida de Laia, na referida reportagem.
Também fiquei contente em ler, na edição online do mesmo jornal, que em 19/10/2011, um roteiro similar, que acontece em Sorocaba, cidade a qual é pioneira nesse projeto, pois o próprio jornal publicou em primeira mão sobre o assunto, turismo pedagógico, onde o escritor e historiador Carlos Carvalho Cavalheiro deixa bem claro as propostas com esse passeio nos lugares onde também passaram afro-brasileiros e que ajudaram a construir a história e cultura da cidade.
Realmente projetos nesse sentido são importantes na construção, não só da identidade cultural e histórica dos negros, mas sobretudo, na formação de uma sociedade que valorize a diversidade e todas as formas de visões de mundo. Enfim, uma sociedade livre de preconceitos e que valorize a cultura e a história do outro.
Sorocaba, cidade com a qual muito me simpatizo, está de parabéns, portanto, por ser a pioneira nesse tipo de roteiro turístico, sobretudo porque é voltado aos estudantes - turismo pedagógico - e por oferecer subsídios aos professores, como eu, para a aplicação efetiva da Lei 11645/08. Parabéns à Educar Turismo Pedagógico pela iniciativa e ao professor Carlos Cavalheiro pela idealização.
JULIANA PATRÍCIA FERNANDES