segunda-feira, 20 de julho de 2015

Por que ser professor?


           
            O senso comum diz que a profissão do Educador está cada vez mais desprestigiada. A última greve da categoria, no Estado de São Paulo, quando o Poder Executivo recusou-se a negociar com os trabalhadores, demonstra claramente o quanto a educação vem perdendo seu prestígio ao longo dos anos. Dados da Apeoesp, regional de Bauru, apontam diversas causas de problemas que geram doenças e causam queda na qualidade do trabalho dos professores, de uma forma geral.
            Segundo informações dessa pesquisa publicadas no JCNet, em 19 de novembro de 2012, o cansaço, nervosismo e ansiedade são apenas alguns dos malefícios à saúde que a precariedade de condições de trabalho causam aos professores. De acordo com essa reportagem, “73% dos professores [estão] lecionando em salas com mais de 36 alunos, sendo que 32% das classes contam com 41 alunos. “A superlotação é realidade antiga e sem solução” [...]. Outro problema é que 45% dos professores precisam manter outra atividade ou lecionar em mais de um período para complementar a renda, aprofundando o nível elevado de stress e cansaço”. Ainda de acordo com a Apeoesp de Bauru, 81,6% dos professores sofrem de cansaço excessivo, 67,8% de nervosismo, 65,8% apresentam problemas relacionados à voz, 50,3% apresentam sintomas de angústia...
            Diante de um quadro tão tétrico e alarmante, é de se refletir sobre o porquê da insistência de alguns profissionais que continuam trabalhando na / com a Educação? Na qualidade de professor, muitas vezes fui obrigado a fazer tal reflexão. Afinal, por que insistir nesse exercício profissional? Qual a vantagem de ser professor num país que pouco – ou nada – valoriza os seus educadores?
            Há alguns anos eu publiquei num Blog meu uma carta de uma ex-aluna, Kênia Machado, a qual externou sua opinião sobre o trabalho que desenvolvi como professor. Na ocasião ela disse: “Olha, você sempre manteve a pose de "durão" com a gente, mas mesmo assim, sabíamos reconhecer a sua maneira de ensinar, eu pelo menos sempre admirei a sua postura! e que postura hein, Professor! Aprendi e tenho certeza que todos aprendemos o significado de ética e o que é ser uma pessoa ética, aprendemos que temos no mínimo o direito de vivermos em um ambiente limpo”. E continuou escrevendo: “Muito obrigada professor, por fazer de nós, pessoas de verdade! Obrigada por nos mostrar que temos direitos, por abrir nossos olhos diante da sociedade, por nos preparar para a vida! [...] Com você enxerguei a sujeira que é a sociedade, e que se não lutar pelo que quero, vou apanhar muito, aprendi também que não posso me deixar abater com as dificuldades e os desafios da vida, pois Deus gosta de guerreiro, ele quer guerreiros, quer que sejamos persistentes e que lutemos pelos nossos objetivos!”.
            Em fevereiro de 2014, recebi outra mensagem de um aluno da turma de 2009. O remetente era o estudante Renan A. Rossi Nardi que teceu vários elogios ao nosso trabalho como professor. Em certo trecho da missiva ele informou: “Como um ex-aluno, sinto a necessidade de te trazer esta notícia, a qual devo, e muito, a participação do senhor. Nesta sexta-feira (31), saiu a lista de aprovados do Vestibular da USP - FUVEST. Tenho o imenso prazer de te dizer que fui um dos aprovados. Passei no curso de Engenharia Bioquímica, na posição de 26°, com aproximadamente 400 inscritos concorrendo a 40 vagas. Desde que comecei a imaginar a possibilidade dessa vitória, eu senti certa obrigação de comunicar e agradecer aos que, de um jeito ou de outro, tiveram participação nessa minha conquista. Durante alguns anos, esperei o dia de poder escrever-lhes. O senhor é um dos quais venho hoje agradecer. Entrei em contato com você há uns 2 anos atrás, quando eu ainda estava no ensino médio e confuso sobre qual carreira seguir. O senhor gentilmente me respondeu, e deu a mim algo que acredito ser um dos melhores presentes que um professor pode dar a um aluno: inspiração”.  Em seguida, disse que na Escola “Coronel Esmédio, tive a honra de aprender com professores incríveis, que jamais me esquecerei: Silvana Castelucci, Cláudia Carbonari, Claire, Érica Borin, e o senhor, Professor Carlos. Vocês, como professores, sabem como é difícil a ascensão à uma universidade pública para um aluno que frequentou a rede pública de ensino durante toda sua vida escolar, num país onde, nas universidades públicas, aproximadamente 70% dos alunos provém de escolas particulares. Sabem que, dentre os problemas que retardam o crescimento do país, como um todo, a desigualdade entre as classes sociais é a principal geradora de pobreza. Como um aluno da rede pública que sempre fui, sei que os professores que se dedicam a lecionar nesse ramo são, na maioria das vezes, verdadeiros heróis.  E foram esses heróis, muitos deles que eu encontrei no Coronel, que trouxeram inspiração para que eu me dedicasse aos estudos e realizasse o meu sonho”.
            São palavras como essas que ainda dão significado ao exercício do Magistério! E são essas mesmas palavras que calam a arrogância daqueles que exercem o Poder apenas para satisfação de seus projetos pessoais ou partidários. A esses, restará o implacável julgamento da História!


Carlos Carvalho Cavalheiro

29.06.2015

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