O
senso comum diz que a profissão do Educador está cada vez mais desprestigiada.
A última greve da categoria, no Estado de São Paulo, quando o Poder Executivo
recusou-se a negociar com os trabalhadores, demonstra claramente o quanto a
educação vem perdendo seu prestígio ao longo dos anos. Dados da Apeoesp,
regional de Bauru, apontam diversas causas de problemas que geram doenças e
causam queda na qualidade do trabalho dos professores, de uma forma geral.
Segundo
informações dessa pesquisa publicadas no JCNet, em 19 de novembro de 2012, o
cansaço, nervosismo e ansiedade são apenas alguns dos malefícios à saúde que a
precariedade de condições de trabalho causam aos professores. De acordo com
essa reportagem, “73% dos professores [estão] lecionando em salas com mais de
36 alunos, sendo que 32% das classes contam com 41 alunos. “A superlotação é realidade
antiga e sem solução” [...]. Outro problema é que 45% dos professores precisam
manter outra atividade ou lecionar em mais de um período para complementar a
renda, aprofundando o nível elevado de stress e cansaço”. Ainda de acordo com a
Apeoesp de Bauru, 81,6% dos professores sofrem de cansaço excessivo, 67,8% de
nervosismo, 65,8% apresentam problemas relacionados à voz, 50,3% apresentam
sintomas de angústia...
Diante
de um quadro tão tétrico e alarmante, é de se refletir sobre o porquê da
insistência de alguns profissionais que continuam trabalhando na / com a
Educação? Na qualidade de professor, muitas vezes fui obrigado a fazer tal reflexão.
Afinal, por que insistir nesse exercício profissional? Qual a vantagem de ser
professor num país que pouco – ou nada – valoriza os seus educadores?
Há
alguns anos eu publiquei num Blog meu uma carta de uma ex-aluna, Kênia Machado,
a qual externou sua opinião sobre o trabalho que desenvolvi como professor. Na
ocasião ela disse: “Olha, você sempre manteve a pose de "durão" com a
gente, mas mesmo assim, sabíamos reconhecer a sua maneira de ensinar, eu pelo
menos sempre admirei a sua postura! e que postura hein, Professor! Aprendi e
tenho certeza que todos aprendemos o significado de ética e o que é ser uma
pessoa ética, aprendemos que temos no mínimo o direito de vivermos em um
ambiente limpo”. E continuou escrevendo: “Muito obrigada professor, por fazer
de nós, pessoas de verdade! Obrigada por nos mostrar que temos direitos, por
abrir nossos olhos diante da sociedade, por nos preparar para a vida! [...] Com
você enxerguei a sujeira que é a sociedade, e que se não lutar pelo que quero,
vou apanhar muito, aprendi também que não posso me deixar abater com as
dificuldades e os desafios da vida, pois Deus gosta de guerreiro, ele quer
guerreiros, quer que sejamos persistentes e que lutemos pelos nossos
objetivos!”.
Em
fevereiro de 2014, recebi outra mensagem de um aluno da turma de 2009. O
remetente era o estudante Renan A. Rossi Nardi que teceu vários elogios ao
nosso trabalho como professor. Em certo trecho da missiva ele informou: “Como um ex-aluno,
sinto a necessidade de te trazer esta notícia, a qual devo, e muito, a
participação do senhor. Nesta sexta-feira (31), saiu a lista de aprovados do
Vestibular da USP - FUVEST. Tenho o imenso prazer de te dizer que fui um dos
aprovados. Passei no curso de Engenharia Bioquímica, na posição de 26°,
com aproximadamente 400 inscritos concorrendo a 40 vagas. Desde que
comecei a imaginar a possibilidade dessa vitória, eu senti certa obrigação de
comunicar e agradecer aos que, de um jeito ou de outro, tiveram participação
nessa minha conquista. Durante alguns anos, esperei o dia de poder
escrever-lhes. O senhor é um dos quais venho hoje agradecer. Entrei em
contato com você há uns 2 anos atrás, quando eu ainda estava no ensino médio e
confuso sobre qual carreira seguir. O senhor gentilmente me respondeu, e deu a mim
algo que acredito ser um dos melhores presentes que um professor pode dar a um
aluno: inspiração”. Em seguida, disse que na Escola “Coronel Esmédio,
tive a honra de aprender com professores incríveis, que jamais me esquecerei:
Silvana Castelucci, Cláudia Carbonari, Claire, Érica Borin, e o senhor,
Professor Carlos. Vocês, como professores, sabem como é difícil a ascensão
à uma universidade pública para um aluno que frequentou a rede pública de
ensino durante toda sua vida escolar, num país onde, nas universidades
públicas, aproximadamente 70% dos alunos provém de escolas particulares. Sabem
que, dentre os problemas que retardam o crescimento do país, como um todo, a
desigualdade entre as classes sociais é a principal geradora de pobreza. Como
um aluno da rede pública que sempre fui, sei que os professores que se dedicam
a lecionar nesse ramo são, na maioria das vezes, verdadeiros heróis. E
foram esses heróis, muitos deles que eu encontrei no Coronel, que trouxeram inspiração para que eu me dedicasse aos
estudos e realizasse o meu sonho”.
São
palavras como essas que ainda dão significado ao exercício do Magistério! E são
essas mesmas palavras que calam a arrogância daqueles que exercem o Poder
apenas para satisfação de seus projetos pessoais ou partidários. A esses,
restará o implacável julgamento da História!
Carlos Carvalho Cavalheiro
29.06.2015
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